Reinações Múltiplas: Moves Like Jagger - parte 6
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Moves Like Jagger - parte 6


Dizem que as brasileiras se destacam pela beleza e pela dança. É verdade, vi pelo menos duas na pista da casa de Adam. A festa estava ficando intensa, percebi algumas pessoas se retirando com segundas intenções, a caminho de cantos escuros e quartos de hóspede.
Eu estava realmente feliz em estar ali. Era mais um sonho realizado e pessoas como eu tendem a se sentir apáticas quando sentem que os momentos brilhantes estão perto de terminar. Foi exatamente o que aconteceu quando James me procurou para irmos embora.
- Você quer que eu te leve pra casa? – ele estava, nitidamente, se oferecendo para dormir na minha cama, quando segurou minha mão e fez tal pergunta, podre de bêbado, enquanto beijava a minha nuca.
- Acho melhor eu dirigir. – realmente achava melhor. Aliás, era hora de tirar o time de campo, porque Adam e Anne V já estavam no andar de cima há alguns minutos. O que significava cenas impróprias para mentes de fãs obcecadas. Nada contra as loiras, mas aquela tinha o dom de me fazer ilusionar bonecos de macumba, feitos com palha e tecidos de calcinha.
Pedi a Jesse, que ainda estava normal e, naquele momento, acompanhava James e eu em uma conversa distraída – eu deveria dizer monólogo interessante, mas desagradável para o momento – para que me ajudasse a levar Valentine até o carro, sem que o loiro fatal tivesse algum dano. Afinal, era grande e pesado, perto de mim.

Quando estávamos no carro, a caminho de minha casa, naquela madrugada gentil e de clima agradável, repassei cada momento desde o primeiro som que ouvi da banda, até o último clipe. Era irracional viver aquilo, ainda sentir o gosto de James na minha boca e, ainda mais, os olhos de Adam observando meu corpo, discretamente, na sala de jogos da mansão.
Foi uma noite inesquecível e algo me dizia que era a primeira de muitas.
James chegou dormindo, no banco carona. Eu olhei para os cabelos loiros revoltos, os lábios semi abertos e o rosto lindo. Ele seria perfeito pra mim. Tinha todos os pré requisitos... se Adam não existisse. Mas ele existia e havia assinado a sentença de morte ao desviar o olhar, alguns míseros segundos da noite, para mim.

Maria estava dormindo, a julgar pelas luzes apagadas, então resolvi estacionar o carro de James e trancá-lo lá dentro, com a chave e um bilhete.

Bom dia delícia,
Não consegui te carregar e resolvi não te acordar. Quando despertar teremos café da manhã e um banho quente para oferecer, xo.

Era o suficiente, já que não estava oferecendo nada demais e teria tempo para contar tudo à Lupe, bem cedinho. Não conseguia lembrar se teria que trabalhar no dia seguinte ou não, fruto dos meus poucos goles a mais. Fui me deitar com um sorriso nos lábios e acordei com uma mexicana me chacoalhando como se o mundo fosse acabar.

Lupe não acreditou em nada do que eu contei. Ela me olhou com cara de quem desconfiava e eu tive que abrir a janela para mostrar o carro de James estacionado em frente a nossa casa.

- Dios mio. – olhos arregalados comprovaram a teoria mais improvável do universo e em seguida me senti ser abraçada, enquanto pulávamos, de pijama, gritando de emoção. Melhores amigas me fazem sentir idiota. – Conseguiste! Não acredito! Você conseguiu!
Ela soltou mais um grito e eu percebi que ainda estava em estado de choque. Consegui não chorar e lembrei que precisava me concentrar o suficiente para continuar parecendo interessante, já que o cara estava na minha casa, prestes a tomar café da manhã comigo.
- O que podemos fazer? – Lupe me acompanhou aos armários da cozinha. Os ingredientes eram deprimentes, nada de comidas exóticas ou frutas deliciosas e frescas. Havia um pacote se cereal, uma garrafa de leite e algumas bolachas.
- Acabou o café?
- Ontem, eu precisava fazer compras, mas fiquei empolgada na cozinha.
- Que diabos eram aquelas cebolas?
- Uma receita que minha avó mandou na última carta.
- Não deu certo. – afirmação seguida de expressão óbvia.

- Pois é. – Lupe se resignou a colaborar no café da manhã. Tinha a frustração de não saber cozinhar comidas mexicanas, embora fizesse esforços gigantescos e tentasse todas as teorias que sua avó enviava por correio.
- Relaxa, você nasceu para a arte, não precisa ficar se ressentindo por isso. – Eu tentei consolar, mas sabia que a maior parte das criações de minha amiga eram, justamente, relacionadas a comida: painéis de frutas, esculturas de lavradores e afins, tudo relacionado ao campo e as belezas da terra – como ela mesma anunciava. Pura frustração, porque ela nunca colocou a mão na enxada para ajudar a família, realmente não tinha o dom para certas coisas. Em compensação, nos EUA encontrou sua grande realização: o fast food. Trabalhar no Buger King mudou a vida de Lupe, nos primeiros anos. Sim, ela era capaz de “cozinhar” alguma coisa. Aquela era a prova da qual precisava.
Pobre Lupe.

James entrou pela porta de nossa humilde residência às 10 horas da manhã. Eu estava com os cabelos despenteados, havia saído do banho e já usava um vestido verde, que combinaria com o meu uniforme do Trifólio. Resolvi deixar o avental escondido na bolsa, mas não tinha nenhum receio de que James soubesse algo de mim.

- Bom dia. – ele me olhou com a cara amassada e eu tive que segurar meus hormônios pra não atacar a boca dele e ter que, depois de trinta minutos, tomar banho outra vez. Sorri.
- Bom dia, Bela Adormecida. Veio pro almoço, foi? – me limitei a ser brasileira e dei um beijo rápido nos lábios dele, convidando-o a se sentir em casa. Senti que ele relaxou.
- Bebi demais, minha cabeça está... – ele colocou a mão nos cabelos loiros, amarrados.
- Pode entrar e tomar um banho, a Lupe foi ao mercado, mas em quinze minutos já deve estar chegando, eu logo vou trabalhar.
- Não quero incomodar Lenah. Você e sua amiga estão ocupadas, eu... – interrompi com um beijo evitando uma conversa desnecessária. Não que eu não estivesse morrendo de vontade de beijar ele outra vez, ainda mais todo amassado e com aquele cabelo desarrumado, que me fazia lembrar de quando a América era um sonho e eu ainda morava no hemisfério sul, com os reles mortais.
Ele gostou. Na verdade gostou muito porque aprofundou o beijo de um jeito que me fez fechar os olhos e, como em um passe de mágica, ir parar deitada de costas na minha cama desarrumada.
Droga! Por que o gosto dele tinha que ser tão bom? Gostoso e suave, intenso e profundo. A língua, os lábios... Mas que droga, eu estava em chamas, já gemendo enquanto ele arrancava minhas roupas.
- Lenah.
Eu ouvia meu nome e sentia os beijos dele na minha orelha, na mina nuca...
- Lenah.
Como era gostoso sentir o corpo pesado e másculo, o cheiro de homem e...
-Lenah.
Consegui arrancar a camisa dele, puxei o cabelo loiro com força, mordi os lábios dele...
- Lenah.
Era uma sinfonia musical, eu estava semi nua, os seios a mostra e ele passeava as mãos por ali, me fazendo arfar em um fluxo constante. A boca passeando no meu pescoço, no meu colo e...
-Levine?


Digamos que não exista método mais rápido, seguro e fiel do que o melhor amigo do cara que você pira te brochar, do que quando ele está em cima de você, que por sinal está semi-nua, gemendo o seu nome loucamente quando, de repente, para toda a pegação e analisa a corrente do seu pescoço.
Culpa da garçonete de sorveteria jacu, que colocou a porcaria de jóia antes de dormir, sonhando com o príncipe encantado e esqueceu de tirar, quando o sapo levou ela pra lagoa, afim de fazer exercícios matinais.
Merda.


- O quê? – eu fui me afastando e abotoando outra vez a frente do vestido.
- Não, não. Volta aqui. – ele segurou meu braço e me juntou com o corpo dele, outra vez. Encarou meus olhos. – O que é isso?
- Eu, é... eu, nada.
Ok, pode me apedrejar, mas me pegou de surpresa uma burrice tão acentuada. E o pior, de minha parte.
- Você tem uma corrente com o nome do Adam.
- Não! Sim. Quer dizer, eu tenho essa corrente, só que... eu, minha mãe.
- O que? – me afastei - É mentira. – Ele disse sério. Sério como eu não sabia que ele poderia ficar.
- Desculpa. – agora a coisa estava um pouco pior, porque o olhar estava mudando de sério para o de desprezo.
- Vou embora.
- Mas...
- Dispenso o café. – ele saiu pela porta do quarto, arrumando as roupas e o cabelo. – Dispenso o banho também. – Ele disse se irritando, quando segurei o braço dele.
- Espera James, eu...
- Dispenso você também, Lenah. – ele me encarou e esperou que eu me afastasse. O que eu podia fazer?



Fui para o Trifólio quase que imediatamente depois dele sair. Precisava esfriar a cabeça. Quando terminei meu tedioso dia de trabalho, fui até em casa, tomei um banho e resolvi não atrapalhar meus colegas da facul, falando sobre a porcaria de desentendimento com o James durante todas as aulas. O que rolou foi passar a noite ouvindo os sermões sobre isso, quando Lupe chegou em casa.

- Você é burra, esse que é o problema. O que você tem na cabeça Muller? Não, me diga, apenas me diga, Muller! Deixar o passaporte para o tesouro sair sem nem terminar o serviço?
- Você me ajuda muito Lupe.
- Claro que ajudo, alguém precisa ser franca por aqui.
- Eu não sabia o que dizer na hora, não consegui mentir.
- Não conse... não, conseguiu. – ela estava indignada. Fazia gesto e segurava os cabelos quase arrancando. Disse, dentre outras coisas, que eu era uma tonta por não conseguir manipular o cara. Bastava uma mentirinha simples e ele estaria lá. Agora, por ter subestimado o cara, eu estava ali, sozinha, sem James, sem Adam, como uma garçonete invisível e sem nenhum indício de que seria comida por um cara famoso.
Era reconfortante ter uma amiga sincera.

Passei os dias esperando o Adam voltar. Queria que ele aparecesse no Trifólio e me reconhecesse, finalmente. Mas tinha medo de que ele me odiasse, como o James. Ou pior, que o James tivesse comentado alguma coisa.
O Adam não voltou naquele mês e eu descobri que estava em turnê e que depois gravaria um programa novo, na NBC. Algo envolvendo calouros e jurados, o que me fez lembrar de Raul Gil e da minha infância nada interessante.
Não consegui ver o James depois daquele incidente e acabei ficando sozinha e frustrada por um bom tempo. Ficava me perguntando porque parecia tão difícil tentar explicar as coisas, mas percebi que ele tinha sacado tudo. Me aproximei dele, exclusivamente, pelo amigo. O ruim era que eu não estava nem com um, nem com outro.





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