Reinações Múltiplas: março 2011
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Maybe ...

Maybe I'm a dreamer, but I still believe

I believe in hope, I believe the change can get us

off of our knees



Lenah estava completamente cansada. Seu corpo dolorido precisava de um banho tépido e de uma grande dose de cremes relaxantes. Entrou no apartamento esparramando suas coisas por todos os lados.
- Hora de relaxar. - era um sorriso que se abria no rosto ao ver a desordem de seu pequeno lar. Estar em casa depois de uma semana exaustiva era, no mínimo, reconfortante.
Tirou o moletom que usava e ficou apenas de sutiã e calça jeans, chutando os tênis para qualquer lado da sala e abrindo a janela, que não tinha cadeado, mas duas madeirinhas nas laterais. Olhou para as plantinhas da sacada e resolveu que mais tarde molharia as pobres esquecidas.
Ligou o rádio e um som agradável de What do you got?, do Bon Jovi, começou a ressoar pelo apartamento. Ela precisava de café, ou de cerveja. Dependia muito da secretaria eletrônica e dos e-mails que havia anexado em "Final de Semana".
Ligou o laptop e clicou no memory 3 do telefone.
"Lenah, é a Beth. Você não vai acreditar no que eu consegui guria, tentei falar com você a semana inteira. Me liga".
"Oi Lenah, é o Rafa. Tô precisando de ajuda no dever de história, quando der me liga. Só até dia 13, tá? Tchau".
"Oi batatão, é a Preta. Por que não liga mais pra gente? Vai ter churrasco domingo, aparece lá em casa. Beijo"
Três mensagens típicas. Beth devia estar com alguma novidade do show do McFLY, o sobrinho dela, provavelmente, de recuperação e a irmã querendo algum favor. Típico dos Muller, então resolveu ligar para a Beth.
-Oi migs.
-Guriaaa, eu pensei que você tinha morrido, o que aconteceu com seu celular?
-Foi roubado, uma longa história, mas e aí o que conta?
-Está sentada?
-Fala logo.
-Se não estiver, senta!
-Aii - ela virou os olhos e foi trocar a faixa dois, não estava no clima de Lose Yourself, do Eminem, preferiu colocar em Walke up call, da Hayden Panettieri. - Não me deixa ansiosa.
-Eu-consegui-um-ingresso-para-o-M&G! - Lenah, que colocava na boca um salgadinho do pacote de Doritos aberto, que havia encontrado em cima de sua estante, engasgou.
-Sério? Como assim? Como conseguiu?
Beth explicou que foi até a cede em que os guys estavam hospedados, na hora do almoço. Eles não estavam lá, pois faziam algumas fotos em um estúdio e de lá seguiriam para duas entrevistas. Ela sabia disso porque descolou com os contatos da revista em que trabalhava toda a rotina da banda no Brasil. Foi até a cede em busca de algo novo, já que estava de bobeira, e encontrou uma das backin vocal da banda.
Gourdoun praticamente caiu dura quando notou a mulher cantarolando feliz. Aproximou-se com todo o seu porte de "relações públicas da Gloss" e pediu um autógrafo, comentou do carinho pela banda, mostrou a credencial de jornalista e perguntou se ela podia dar uma palavrinha. Claro que a mulher queria ser receptiva e foi simpática com Beth. Aproveitando a deixa, ela presenteou a cantora com um vasinho de flores, que comprou na banca, no saguão do hotel.
Por todo o carinho e gentileza de Beth, ela acabou ganhando um passe livre para tirar fotos e conversar com os ídolos de sua vida. Definitivamente, estava em um estado de pânico, misturado com felicidade extrema e excitação master.
-Eu vou morrer! Sério, eu quero um também!
-Menina, essa não é a melhor parte! - tinha coisa melhor? Lenah estava quase chorando pela amiga e ainda tinha mais?
-Fala logo mulher, quer que eu tenha uma pane aqui? - ela pegava uma garrafa de água gelada, na cozinha, ouvia Cold be any Harder, The Calling, agora.
-Eu mostrei para minha redatora e ela ficou super orgulhosa. Falou que por eu ser tão contida e profissional, trabalhado bem nos últimos meses, a entrevista exclusiva com o McFLY para a Gloss: É MINHA!
Nessa hora Lenah engoliu a água engasgando. Como assim? Meu Deus, a sua melhor amiga em uma entrevista exclusiva com os todo-poderosos do reino da adolescência eterna? Era demais! Elas amavam aquela banda, já tinham ido a um show e ficado o mais próximas possível, gritando como loucas e chorando por não poder encostar neles. Ok, Beth se conteve, mas Lenah não conseguiu.
O fato era que Lenah também era jornalista, mas de um ramo bem menos interessante, comparado a celebridades ou moda. Beth trabalhava com moda e agora teve uma oportunidade de ouro! Também, na Gloss não seria tão difícil, mas e Lenah, que trabalhava no Zero Hora, na sessão de política? Sem chances de cobrir uma bandinha pop/rock.
-Eu estou chorando aqui guria! Sério!
-Amiga, eu quase enfartei!
-Estou tão, tão, tão feliz por você.
-E eu vou dividir isso com você, né sua boba! - Lenah quase teve um AVC, ela estaria na entrevista exclusiva?
-Ai meu santo, eu não sei como agradecer.
-Não tem de que amiga, eu vou na entrevista, te dar o bilhete VIP não é nada!
Ok. Respira Lenah. Conta até mil, com intervalo de carneirinhos. Sua melhor amiga entrevistando o Judd, que era o tigrão dela e você... entrando em uma fila pra pegar autógrafo do seu Jones, no meio de um monte de pirralha? Era um fatality muito violento. Mas era perfeito!
-Ahhhhhhh, eu vou ter um ataque. Sério! Preciso te ver, onde você ‘tá, eu vou aí agora mesmo?
-Eu sabia que você ia amar. Escuta, eu estou super ocupada hoje, mas amanhã cedo a gente se vê, o que acha?
-Pode ser. Você passa aqui antes de ir pra redação?
-Acho melhor você vir aqui, porque é caminho do hotel e a M&G vai ser depois do almoço.
-Ok, eu vou aí com certeza.
-Nossa, não sabe como te invejo, você vai ver eles antes que eu.
-Ai que vaca maldita você é. Está me zuando né, sua víbora? - Beth riu muito, afinal, Lenah veria antes e ela teria eles com exclusividade.
Lenah acordou mais disposta do que nunca, já havia enviado a pesquisa para o sobrinho na madrugada, depois de conversar com ele. Também avisou que não estaria no almoço de família, afinal, como curtiria a M&G no sábado, o domingo seria para dormir. O show da banda era só na terça-feira, em um festival e ela iria, é claro. Já havia avisado na redação.
Ser jornalista era complicado, Lenah fazia diversos bicos e era isso o que preenchia o seu tempo. O trabalho no jornal era mais tranquilo, porque tinha regras estipuladas, datas estipuladas para cobrir reuniões e conversar com representantes. Não fazia como o perfil habitual jornalístico porque era uma espécie de cobaia, na tentativa de novas formas de contratação de pessoal. Vá entender os jornalistas...
O que importava era estar perfeita e vitaminada, cheirosa e poderosa. Ela veria o Jones! O seu Jones! O incrível Jones! Ok, ele nem era assim tão poderoso, era só um homem normal, com dentes tortos, cabelo mal cortado, cor indecifrável, olhos azuis intrigantes, dancinhas gays e... sim ele era perfeito e ela estava suspirando só de imaginar que tiraria uma foto com ele.
-Ok Muller, vai ter que segurar a sua onda e respirar fundo. Só chama a atenção, quem aparenta não querer chamar a atenção.
Ela deu partida no carro e seguiu para o bairro da amiga.
Chegou à casa de Beth com um sorriso gigante e viu a amiga fazendo gestos de adolescente feliz, assim como ela fazia. Eram mulheres, formadas e completamente independentes, mas, mesmo assim, se sentiam umas garotinhas quando o assunto era a banda que curtiam desde a pós-adolescência.
-Amiga, eu estou em choque!
-Você? Eu é que vou ver o Danny daqui a... - ela olhou no relógio - três horas! - elas se abraçaram e pularam.
-Ok, chega.
-Sim, melhor parar. - se olharam de novo e recomeçaram a pular com caras de "eu sou feliz". Lenah caiu na gargalhada e Beth olhou para ela reparando no visual.
-Menina, você está divina! O Jones não vai resistir. - ela riu e Lenah deu uma voltinha.
-Gostou? Quase não dormi pensando no que iria usar.
A jornalista estava vestindo uma sapatilha preta lustrada, com um lacinho na ponta, um vestido bege soltinho, de crepe, que tinha detalhes no colo e era tomara que caia. Seus cabelos castanhos caiam soltos pelos ombros, com ondas gigantescas. A maquiagem usual, realçava seus olhos castanhos claros e a boca tinha um brilho labial que deixava os lábios irresistíveis. Lenah era uma garota completamente normal, não tinha o perfil de avassaladora, assim como Beth. De qualquer maneira, as duas sempre chamavam atenção pelo estilo, principalmente Beth, que trabalhava com moda.
-Vai arrasar e pelo jeito leu a minha coluna de dois meses atrás.
-Está insinuando que estou atrasada nas tendências, mas eu te perdôo, afinal, não tinha nada mais "primaveril" para usar hoje.
-Sua boba, você está perfeita. Agora pega esse convite aqui e entra no carro, vamos almoçar em um lugar estratégico.
Elas foram para o hotel e ficaram reparando em tudo, mas nem sinal dos guys.
-Eu estou adorando o almoço, mas minha ansiedade vai fazer aquele senhor piriri me pegar.
-Bate nessa boca Lenah Muller, quer que eu morra da aflição por você? - Beth não queria nem pensar naquela hipótese, mas a pobre Lenah já sentia a barriga fermentar.
-Beth, eu não vou conseguir. Olha aquilo.
Elas olharam para a porta do saguão do hotel e viram que a meia dúzia de fãs reunidas, que já estavam lá quando chegaram ao hotel, se proliferou como peste. Lá fora, era a maior gritaria, garotas cantando e muita algazarra. Dentro do hotel circulavam as sortudas que tinham pais com conta bancária interessante.
-Olha amiga, se eu não tivesse ganhado esse ingresso estaria morta de inveja. Sério.
-Dois pontos. Eu estou com inveja antes de chegar lá, essas garotinhas são lindas, muito mais do que eu. - Lenah tinha momentos "sou depre, me abrace" e Beth conhecia bem aqueles momentos.
-Lenah, se você falar isso de novo, eu te bato! Olha o número de homens que está passando por aqui e olhando pra você, sua boba. Elas são crianças, quem deveria estar insegura, com certeza não é você.
Lenah bebeu um bom gole de vinho e respirou fundo.
-Estou nervosa. - Beth acalmou a amiga, conversou com ela durante um tempinho e foi para o trabalho. Já estava atrasada, pelo percurso e, na verdade, teria que ficar mais uma hora trabalhando para cobrir o dia.
-Vou nessa. - ela abraçou a amiga e deu pulinhos disfarçados. - vai ser divino, vai ser perfeito, fica calma. - Lenah sorriu.
-Ok, vai ser perfeito e vou gravar o momento. - ela ergueu a câmera Canon profissional, que usava no dia a dia e com seu trabalho.
-Você é a melhor. - ela beijou a testa da amiga. - Cuida do meu Hazz e não olha muito pra ele.
Lenah riu e abraçou a amiga de novo.
-Vou desmaiar amiga, mas tudo bem.
O local era mágico. Umas trinta pessoas estavam lá, todas garotas entre 13 e 21 anos, sem contar com ela que parecia ser a mais velha, com 24. Ela imperava um mantra, mentalmente "vai dar tudo certo, vai dar tudo certo", mas não sabia se daria, porque estava nervosa como nunca.
Resolveu relaxar tirando fotos das meninas lá, afinal, ela sabia fazer aquilo com perfeição e estaria completamente em casa com a máquina na mão.
Pediu para tirar fotos de um grupinho de três garotas, lindas, com cabelos coloridos, sendo que uma tinha cinco cores nele e vestia a camiseta com o nome da música. A outra tinha uma camiseta com "My name is Kate" e a última tinha a roupa repleta de estrelas, o que deveria significar 'Star Girl'.
Lenah sorria e ia a outros grupos, tirava fotos de algumas garotas que estavam tímidas e sozinhas e conseguiu conversar com algumas. A banda estava atrasada em 15 minutos.
De repente, Matt Fletch, o empresário do McFLY, entrou na sala e cumprimentou a todas, pedindo que se sentassem em seus lugares. Como elas tinham uma espécie de senha, ficaram em suas poltronas confortáveis, esperando ansiosas.
Fletch falava um sermão, básico, de que estava feliz em recebê-las, que o Brasil era maravilhoso e tudo o mais, quando os meninos entraram de surpresa, fazendo um pequeno escândalo na sala. Era tudo combinado, claro. Fletch fingiu se irritar e eles brincaram com ele e logo os garotos sentaram em seus lugares, para fazer um acústico/ao vivo.
Lenah apenas observava, sentada em uma das poltronas centrais, com os olhos lacrimejando e o coração acelerado, enquanto batia umas fotos discretas. Suas mãos tremiam e seus olhos só tinham uma direção.
O garoto estava com uma calça jeans, que tinha o modelo caído, usava um tênis/botina e uma camisa cinza, com gola solta, aparentando ser de algodão. O cabelo arrepiado e jogado para o lado, no estilo alto. O sorriso no rosto e o 'olá' não saiam da boca dele, que logo pegou o violão e começou a cantar Shine a Ligth com o amigo Tom Fletcher.
Lenah tremia de emoção, lembrando a si mesma que não deveria ficar tão emocionada, mas inevitavelmente, ficando.
Estava tudo na maior paz, quando ela viu duas garotas entrando pelo mesmo lugar que os meninos, ao lado de Fletch, que parecia ter ido buscá-las. Uma delas era incrivelmente linda, com cabelos escuros, que lembravam os de Lenah, em um penteado meio armado, lembrando o cabelo de uma modelo. Seu rosto era suave e seu semblante, que sorria, também. Lenah sorriu vendo que se tratava de Giovanna Falcone, a namorada de Tom Fletcher.
A outra garota era igualmente linda, com o corpo perfeito em uma roupa justa, cabelos loiros meio volumosos, olhos azuis e andava como uma miss. Lenah apertou os olhos quando viu essa e não conseguiu negar a frustração, deixando algumas lágrimas de inveja feminina escorrerem. Sim, era Georgia Horsley, a namorada de Danny Jones, seu guy favorito.
A música acabou e as garotas aplaudiram. Lenah mal ouviu a voz dos garotos, de tão abafado que saiu o som, por causa das outras vozes: das adolescentes.
Georgia estava sentada a poucos metros de Lenah, mas ela resolveu ignorar, olhando para Poynter, que estava lindíssimo, com uma calça que colava em suas canelas e uma regata que deixava a mostra seus braços lindos, fortes e tatuados. Harry era o maior deles, o mais ''inglês'', com seu jeito todo sério, mas abria um sorriso que desmoronava qualquer mulher. Lembrou de não reparar muito nele, ou a amiga a mataria. Ao invés disso, começou a tirar mais fotos.
Percebendo que o ângulo era ruim, pediu permissão para uma das pessoas que cuidavam da sala, para que pudesse levantar e caminhar livremente na área de fãs. O segurança não pretendia deixar, para não criar tumulto, mas Matt Fletch viu a moça e se aproximou, permitindo que ela tirasse as fotos.
-Você é fotografa? - ele perguntou vendo a câmera.
-Sou jornalista, mas estou aqui como fã. - ela mostrou o passe, sorrindo e Fletch retribuiu.
-Está tudo bem, pode deixar ela circular. - com um frio na barriga, Lenah se aproximou das garotas e tirou uma foto de perfil, que mostrava Georgia e Giovanna, com rostos encantados pelos namorados.
Depois voltou-se ao mini palco e viu que Dougie a encarava, enquanto os demais rapazes se concentravam em contar algumas piadas e fazer graças para as fãs. O loirinho apenas ria e não desviava o olhar de Lenah. Certa de que estava delirando, Muller sorria também, e tirava fotos de todos ao redor, com uma precisão surpreendente que chamou a atenção de Jones, cutucado por Harry, depois do último dizer "sorria!".
Nesse minuto Lenah tirou uma foto que captava a surpresa de Jones em sua lente. Era magnífica. O rosto relaxado, os olhos esbugalhados, a boca de lábios levemente divididos, a cabeça virada com rapidez. Ela sorriu feliz pela captura e ele abriu um sorriso depois de ser fotografado também, chamando a atenção de todos para ela logo em seguida.
-Então temos uma fotógrafa aqui, Judd.
-Acho que temos sim.
-Qual o seu nome? - perguntou Tom, que estava ao lado de Danny e de Dougie.
-Muller. Lenah Muller. - ela estava vermelha como um tomate.
-Não precisa se envergonhar Lenah, venha até aqui. - Poynter chamou ela com um sinal, super descontraído. Lenah murmurou um 'obrigada' e continuou sorrindo enquanto abraçava Poynter, que estava de pé. Thomas, que se levantou do banco, com o violão, Harry que se atravessou antes de Danny - o enrolado - levantar e, por fim, Jones, que deu um abraço casual.
-Você tirou várias fotos das meninas Lenah? - eles falavam em voz alta, como se fosse parte do show. Era Poynter perguntando e se inclinando para ver a máquina de Lenah, ela estava ao lado dele.
-Na verdade, sim, já fotografei quase tudo.
-Isso é demais, venha até aqui. - Fletcher chamou por ela e a levou até uma mesa onde havia um laptop. - Vamos passar algumas para o Yfrog e o tumblr. - ele sorriu, mexendo no computador e no editor de imagens.
Enquanto isso, os demais continuaram atendendo as outras fãs e iniciando a sessão de fotos e autógrafos. Tom chamou Gio para ir até eles e ver as fotos; Ela foi, acompanhada de Georgia. Lenah sentia uma excitação e um desespero, assim como sentia que a voz ia sumir, o coração ia explodir e as unhas iriam cravar na Miss Simpatia, que sorriu e cumprimentou-a.
-Muito prazer, ela disse.
-O prazer é todo meu querida. - Lenah era uma falsa de galochas?
-Olá. - Gio falou já se esticando para ver as fotos e Lenah sorriu com vontade.
-Como vai? - ela disse por dizer, cumprimentando.
-Uau, as fotos estão incríveis, você é muito boa. - Lenah estava se sentindo bem com Tom e Gio por ali.
-Eu trabalho com isso há alguns anos. Olha essa - ela apontou entusiasmada e soltou uma risada, sendo seguida por Tom, que encostou Gio mais perto de si.
-Muito legal. - Era Fletch com os braços levantados e o corpo esticado, devia ter sido da hora em que o produtor encenou a briguinha com os guys. Ele parecia uma bailarina.
-Hey Fletch, venha até aqui. - Tom chamou e as meninas continuaram comentando a foto.
-Hey, quem fez isso comigo? - ele falou em tom de gozação e Tom pediu licença para ir ver as fãs, enquanto dizia para Gio cuidar de tudo por ali, e ela assentia.
Lenah, estava maravilhada. Logo chegaram Poynter e Harry, e Fletch saiu dali com Georgia, para dar atenção às outras garotas, que estavam tumultuando em cima deles todos.
-Fugi um pouquinho, quero ver as fotos! - Poynter falava como uma criança, se esticando ao lado de Lenah e olhando o computador por cima do ombro da jornalista. Gargalhou alto com a foto de Harry arrumando a calça, ele parecia mexer nas partes íntimas.
-Essa foto está incrível cara! - ele fez pose e mexeu nas calças, para fazer graça imitando o amigo. Tinha um biquinho que era para ser sexy, mas ficou super bizarro. Lenah ria a valer.
-Eu adorei todas. - ela falava maravilhada passando as fotos, como poderia não gostar de alguma? - Essa. - ela apontou para a tela. - minha favorita. - Era a foto de Danny. Poynter, que estava ao lado da garota, se abaixou para ver melhor.
-Ele parece o Bob Esponja! - e soltou uma risada. Lenah sorriu e olhou para a direção em que Danny deveria estar, agora era Harry quem tinha ido para lá e Danny estava, exatamente, do lado de seu braço direito, se esticando para ver as fotos, quando ela se virou.
O músico deu um pequeno passo para trás, para se afastar e não trombar no momento em que percebeu que Muller se viraria, e soltou um "wow", junto de uma risadinha.
-Quase, em moça. - ele falou brincalhão, porque os rostos quase se tocaram. - Hey Ge, vem aqui. Dá uma olhada nessa foto. - ele chamou pela namorada, sorrindo como uma criança que descobriu um brinquedo fantástico. Apontava para a foto como se fosse um tesouro. - Muito legal cara! - Ele olhou para Lenah. - Parabéns garota, você é incrível! (N/a: *-* awesome)
Lenah quase desmaiou e ficou corada.
-É a foto favorita dela. - Poynter falou, passando para outras imagens. Georgia abraçava Danny agora.
-Está lindo amor. - ela sorriu e Danny deu um selinho na namorada.
-Quanto quer pela foto Linah?
-É Lenah - ela sorriu meio sem jeito e Poynter deu uma gargalhada.
-E você diz que é o melhor falando português, em Danny.
-Fuck you. - Danny deu um soco no braço de Poynter, que fez um "au" e rio ainda mais. Depois o loirinho deu um beijo no rosto de Lenah e disse "Já volto". Lenah ficou passada, ele era seu segundo favorito e ela queria gritar de emoção com a atitude do McFly mais novo.
-Você é fotografa? - perguntou Georgia, abraçada com Danny, que olhava as fotos e queria enviar algumas para sua própria Twitpic.
-Jornalista. - ela sorriu. - Mas vim como fã. - Danny a olhou e arregalou os olhos.
-Ora, mas então vamos tirar uma foto e pegue seu bloquinho, vou escrever um autógrafo gigante, suas fotos são incríveis! - ele sorria encantado. - Amor, busca a câmera. - falou para Georgia. - Hoje a Lenah vai fazer umas fotos pra gente, não vai Lenah? - ela riu.
-Claro que sim, e vou cobrar por todas, é claro.
-Hey, isso é injusto! - disse Danny, brincalhão, enquanto Georgia foi buscar a câmera. Lenah aproveitou para pegar o autógrafo.
-Escreve "com carinho, Jones".
-Ok, você quem manda. - ele estava rabiscando enquanto ela clicava o momento, dando close nas feições e abrindo para pegar bem o corpo. A luz estava favorável, embora ela pensasse que até fotos no breu total fossem perfeitas com Daniel Jones.
-Está lindo. - deixou escapar em português, enquanto clicava, emocionada, o rosto sério do homem em sua frente, que levantou os olhos e deu a ela a melhor de todas as imagens. Lenah parou o que fazia e olhou para ele, fixando o momento e sentindo o coração rasgar o peito de emoção. Era a visão mais extraordinária que já havia visto. Não hesitou, deixando a lágrima rolar. Jones se espantou e colocou o bloco e a caneta em cima da mesinha, ao lado do laptop, dirigindo-se até Lenah.
-Hey... - ele falou - oh, não. Não - ele dizia como uma mãe consolando um filho, abraçando Lenah e deixando ela desmanchar, chorando em seu ombro. - Não faz assim não, que eu vou chorar também. - Lenah começou a rir, soluçando e chorando, ele era uma figura. Uma figura linda.
-Ai Jones, você não existe! - ela o abraçou com força e foi retribuída com um beijo na testa e os braços fortes envolvendo-a em um abraço de agradecimento.
-Thank you, girl.
Era uma miragem. Lenah estava certa de que aquele momento era surreal, pois a vida toda esperou por aquilo e, agora que estava acontecendo, era completamente diferente do que imaginou.
Georgia chegou com a câmera, sorrindo.
-Amor, precisa dar atenção para as outras fãs, eu fico com a Lenah e tiramos algumas fotos. - ele se separou da brasileira e ela aproveitou para dar um beijo no rosto dele.
-Me deve uma sessão de fotos, Jones. - Muller sorriu, ele estava caminhando até as fãs.
-Com certeza garota, não vá embora sem mim! - ele apontou para ela em um estilo Jean Carrey, e correu para se jogar no meio das fãs, causando um alvoroço.
Georgia sorria ao lado de Lenah, com expressão passiva.
-Você é brasileira? - Lenah pensou que essa pergunta, naquela ocasião, só poderia vir de uma Miss inglesa, mas ignorou a vontade de rir na cara dela e fazer uma piada do tipo "não, aberração, eu sou iraquiana e nesse momento nós duas vamos, BUM!". Certo, não era muito feliz em pensar sobre técnicas de tortura enquanto conversava com Georgia Horsley e tirava fotos, mas não podia evitar.
As mãos de Lenah fechavam em punho, de tanta frustração. Georgia, definitivamente não merecia Danny Jones, aliás, qualquer mulher famosa e imbecil, não merecia Danny Jones. Ele deveria ser dos tipos de mulher como Lenah: uma garota normal, sonhadora, batalhadora e gostosa. Ok, talvez ela estivesse exagerando, mas era isso o que sentia: Daniel Alan David Jones deveria ser seu.
As fotos ficaram incríveis. Dougie ia e vinha o tempo todo e fez Lenah tirar fotos dele com todas as fãs.
-A gente podia gravar um vídeo pra Super City, o que acham? Quase não vejo vocês por lá, nos últimos meses.
Dougie olhou com admiração.
-Você é pioneer? - Lenah ficou tímida com o olhar de Poynter.
-Sou sim, mas quase não consigo pontos. Mal tenho tempo, não consegui ver nenhum chat ao vivo e para piorar, não tenho a menor chance de ser Gold, quanto menos Platinum. - ela falou tão descontraída, que esqueceu, por um momento, com quem estava falando. Douglas Lee Poynter, loiro, lindo, gostoso e solteiro, bem em sua frente. E o melhor eram os olhares e sorrisos dele ara ela. Lenah poderia jurar que o gato estava investindo.
Talvez fosse apenas a sua cabeça, porque a tarde passou como se fossem amigos de tempos atrás. Uma M&G incrível, em sua cidade, com os caras mais fantásticos que poderia conhecer.
O ciúme que sentia por Georgia foi revertido em maus closes, mas a felicidade em ter Jones e Poynter a tarde toda, foi revestida em uma sessão de fotos exclusiva.
Lenah foi convidada por Fletch a fazer um trabalho especial para a Super City. Embarcaria para Londres no próximo verão. Era o maior sonho que poderia viver com seus ídolos, ser útil a eles com o seu trabalho.
Beth teve sua matéria publicada e mencionada em todos os sites de fã, pela audácia nas perguntas, que deixaram os guys boquiaberto, adorando a jornalista. Ao saberem da amizade dela e de Lenah, convidaram as duas para a última noite no Brasil, em um jantar delicioso que ganharam dos contratantes, em um hotel de São Paulo.
Infelizmente, as meninas não puderam deixar o trabalho e ir até lá, mas guardaram o convite e a lembrança com muito carinho.
Atualmente, Lenah e Dougie trocam twittadas e e-mails. Dizem que eles estão juntos, embora a moça receba telefonemas e só vá poder comprovar a teoria quando estiver em Londres, trabalhando com o McFly.
FIM







Bom pessoas, esse final foi improviso. O que eu queria mostrar nessa história não era o enredo, era apenas a primeira parte, mais natural e verdadeira. Até a fala de Lenah e Poynter, foi intencional, depois foi só um desfecho de última hora.

Xtina


"Ela tem esse fabuloso corpinho miúdo mas uma voz enorme, quase lírica. Quando ela abre a boca eu consigo ouvir Billie Holiday e Dinah Washington."
- Etta James


My Heart Will Go On

Resolvi aceitar a oferta de emprego da minha madrinha e fui para Londres, assim que tive a documentação aceita. Gastar todas as minhas economias de 15 anos em uma investida dessas, tinha que valer a pena.

- Rebeca, você está maluca em aceitar essa proposta, cara. Pensa bem, vai lá pra passar fome?

- Eu vou ter um emprego lá Beth, e tenho o apoio da madrinha. - eu fazia as malas e minha prima me atasanava, dizendo que eu estava fazendo besteira. No fundo eu pensava a mesma coisa.

- Mas amiga, presta atenção, aqui você é chefe do seu setor, tem estabilidade e...

- Estabilidade é uma palavra que me incomoda até a alma, Beth. Eu preciso mudar de ares, aproveitar essa oportunidade. - eu parei de mexer na mala e olhei para ela. - Escuta aqui Beth, você está gorando minha ida? Não ‘tô te entendendo. - ela fechou a cara e cruzou os braços.

- Até parece que eu ia querer seu mal, né, idiota. Eu ia te contar de um jeito bonitinho, mas se prefere assim, por mim tudo bem. Eu estou grávida do Alonso e a gente vai casar daqui a dois meses.

Fiquei completamente espantada, depois gritei e abracei minha melhor amiga, xingando ela, enquanto eu chorava de emoção. Como assim, ela nem tinha comentado nada. Nossa, eu ia ser uma prima-tia-madrinha em 9 meses. Meu Deus! Não sabia o que pensar naquele momento. Beth, minha amiga Bethany, e Alonso, o Alonsinho lindo, seriam papais?

A festa de despedida foi incrível. Muitos dos meus amigos do trabalho, outros tantos de infância e do colégio, parentes e penetras. Me despedi da Beth, prometendo voltar assim que fosse possível. Eu não poderia voltar para o casamento, seria muito caro ir e vir, na minha situação econômica, como futura-nova-moradora da capital mais refinada do planeta. Foi bem difícil, mas eu parti.

Chegar à Inglaterra, a terra da rainha, minha rainha, era como o primeiro orgasmo. Inesquecível, perfeito, avassalador, completo, eu nem sei quais adjetivos usar para descrever minhas sensações diante daquele maravilhoso momento.

Fui direto na plaquinha Muller, imaginando que fosse alguma brincadeira da minha madrinha.

- Senhorita R. Muller?

- Sim, sou eu mesma.

- Queira me acompanhar, por favor.

Eu queria morrer de rir, devia ser um amigo da minha tia, que trabalhava de motorista e estava participando da pegadinha. Entrei no carrão que ele dirigia, uma Mercedez, pelo pouco que sei de carros. Era bem aconchegante, mas fiquei com medo. Vai que o patrão do moço descobre?

- O senhor não tem medo do seu patrão descobrir que anda por aí com o carro? - perguntei, meio tímida ainda. O cara engoliu em seco o que eu disse, afrouxando a gravata no pescoço.

- Desculpe senhorita, o que disse? - achei estranho.

- Você não pegou o carro escondido do seu patrão? - perguntei intrigada e ele estranhou.

-Foi ele quem me mandou, na verdade.

Achei muito estranho, o patrão dele seria meu novo patrão? Mas que chique! Em Londres as empregadas domésticas eram pegas pelo carro dos patrões para irem até suas casas. Pensei em twittar para a Beth que eu estava em um carrão de cinema, indo para a casa do meu novo chefe, mas meu IPhone estava sem bateria, para variar.

- Demora muito pra chegar lá? - perguntei para o motorista.

- Não senhorita.

- Pode me chamar de Rebeca mesmo - pensei que em Londres eles deviam se chamar pelo sobrenome, como nos filmes - ou de Muller, se preferir. - não sei por que, mas ele estranhou de novo.

- Como quiser, Muller.

- Qual o seu nome? - ele estava me detestando ou era impressão minha? Que antipáticos eram os ingleses, eu não acreditava quando me diziam isso no Brasil, mas olhe... tinham razão.

- Me chamo Richard Phillings.

- Muito prazer, senhor Phillings, minha madrinha vai estar na casa para onde vamos, não é?

- Meu patrão não comenta sobre esses assuntos comigo senhorita Muller.

- Ok, desculpe. - ouvi o tom de irritação na voz do cara e resolvi, finalmente, me calar e esperar.

Chegamos em uma casa tão linda que eu nem acreditei que minha madrinha trabalhasse lá. Era gigantesca, dentro de um bairro fechado, que eu acreditava ser um condomínio, mas que chamar de condomínio era quase um pecado.

Gramas aparadas, sem cercas, casas gigantescas de cores neutras, carros importas por todo lado (se bem que se as marcas fossem inglesas, os carros não seriam importados, mas ok) e ruas tão bem asfaltadas que eu parecia estar em uma auto-estrada pedagiada.

- É aqui?

- Sim, senhorita.

Richard abriu a porta e eu desci, olhando assombrada para a casa mais linda que eu já havia visto na vida. Era em um tom claro de amarelo, com flores no jardim, uma casa alegre, eu pensei. E sorri muito satisfeita com o lugar em que eu moraria em minha estadia no país mais incrível do universo.

- Senhorita Muller, seja bem vinda. - Estranhei muito quando Richard me levou até a porta da frente e a, aparentemente, governanta, me recebeu com aquele tom de "visita importante". Nossa, retirem o que eu disse sobre o mal humor inglês, eles são muito gentis!

- Olá, como vai? - sorri e ela pareceu intrigada.

- Philling, leve as coisas da senhorita para o quarto de hóspedes. - fiquei pasma, era simpatia demais, estava com medo agora.

- Desculpe, mas, quarto de hóspedes? - eu fiz uma cara feia, ou algo assim, porque a mulher ficou branca.

- Senhorita, nós deixaremos o cômodo da melhor maneira, como preferir. - ela agora me acompanhava até a sala. - o senhor Jones não costuma de atrasar, já entramos em contato, ao que parece aconteceu um acidente perto do aeroporto e ele ficou preso no transito.

- Senhor Jones é o nosso patrão? - ela fez cara de quem me achava estranha.

- Desculpe-me perguntar senhorita Muller, mas de qual país a senhora é mesmo?

- Sou do Brasil. - eu não estava me sentido bem, estava estranho demais.

- Brasil? - ela fez uma cara de relaxada, como se aquilo explicasse tudo. - Ok, vou acompanhá-la até seu quarto, enquanto o senhor Jones não chega.

Nesse momento a porta se abriu e um homem de cabelos curtos/escuros, alto, jovem e muito bonito, entrou por ela, com um tom de voz alto.

- Nossa Julieta, eu estou morto de...fome. - ele reparou que eu estava ao lado da mulher e vacilou a frase, sorrindo em seguida e se aproximando para me cumprimentar. - Você deve ser a senhorita Muller - beijou minha mão e eu estremeci com o olhar. Ele me fitava de uma maneira muito peculiar. Os olhos pareciam cravar nos meus e já me fazia sentir a barriga dar milhares de voltas, com um grande esforço para não desmaiar. Era bonito demais, sem mentiras.

-E o senhor deve ser, o senhor Jones. - ele soltou uma gargalhada gostosa e depois fez um sinal para Julieta, que devia significar algo entre os dois, pois ela se retirou pedindo licença e ele conversava me guiando para a sala de visitas.

- Sou eu mesmo. Desculpe pelos telefonemas, eu realmente precisava da certeza de sua presença com segurança e eficiência para esse projeto. - eu estava boiando. - Aliás, desculpe-me a indelicadeza, - ele falou olhando nos meus olhos novamente, enquanto soltava o braço em que eu apoiava e fazia sinal para que eu sentasse - mas você é muito mais linda e jovem do que eu imaginei.

Naquele momento eu entendi tudo! Minha madrinha me arranjou um emprego de acompanhante de executivo - isso era o que eu lia nos jornais do Brasil, palavras essas que significam prostituta, no meu bom e velho português. Fiquei completamente desesperada e me levantei em um salto.

- Desculpe-me senhor Jones, mas talvez haja algo de errado aqui. - ele pareceu surpreso comigo, até eu parecia surpresa comigo, por ter quebrado o olhar daquele homem, mas por mais lindo e gentil que fosse, eu jamais faria nada com ele por dinheiro. Não! Isso não quer dizer que eu faria de graça, quer dizer, ai meu santo, eu estava nervosa e enrolada. - Talvez o senhor não saiba, mas eu sou uma pessoa honesta e meu trabalho é limpo, não vou admitir que ninguém brinque com minha honra.

Ele pareceu ofendido e se levantou.

- Desculpe senhorita Muller, eu não tive intenção de ser desagradável, se eu disse algo que...

- Senhor Jones, eu preciso ver minha madrinha. Olhe, eu não sei como ela fez esse esquema todo, ou se foi ela, coitada... mas eu quero vê-la. - eu estava desesperada, sozinha e desesperada. Meu Deus, minha madrinha me vendeu para um cara desconhecido?

Jones estava em minha frente, pasmo. Não parecia entender nada.

- Madrinha?

- Sim, minha madrinha Olivia.

- Quem é Olivia? - Ele não conhecia minha madrinha? Nossa! Eu só poderia ter sido vendida por um terceiro, algum traficante de mulheres. Comecei a chorar, estava perdida, completamente perdida. O que eu faria sozinha em um país desconhecido? O que eu faria se ele tentasse me agarrar?

Naquele momento, Jones tentou tocar meu braço, mas com meu último pensamento, minha única reação foi ter medo. Muito medo.

- Por favor, não chora. Eu não consigo ver mulheres chorando... - ele pegou um lenço. - Droga! Eu não devia ter aceito hospedar você aqui, seria mais prudente ficar no hotel ou na casa do próprio Dougie. - nesse momento meu choro dobrou. Ele estava arrependido? Eu era assim tão má mercadoria? Meus pensamentos se desfizeram em um borrão de imagem, que era Jones pegando o celular.

- Vou ligar para o Poynter, ele vai saber o que fazer com você. - fiquei desesperada, Poynter devia ser o cafetão!

- Não! - gritei e ele se assustou, então olhou pra mim com cara de quem via uma maníaca ou coisa assim. - Não liga pra ele, por favor, me deixa sair daqui, se ele me vir ou sei lá, se ele vir atrás de mim vai ser pior. - eu continuava chorando, aflita.

Jones se aproximou e tocou meu rosto, enxugando algumas lágrimas.

- Por favor, não chora. Primeiro você se acalma e depois procuramos uma solução para tudo, pode ser? - eu soluçava e ele estava bastante tenso com aquilo, eu percebia o desconforto.

Me sentei e tomei um chá, pensando em que diria, no que faria, em como agiria. Pelo menos eu veria minha querida Beth se casar, já que voltaria para o Brasil, sem um tostão furado.

- Está melhor? - ele tocava meu ombro, tentando me acalmar.

- Já estou melhor, obrigada.

- Podemos conversar? Eu não liguei para o Poynter, como você pediu, então precisa confiar em mim e dizer qual é o problema. - ele me perguntou isso mesmo? Ele não vê problema em hospedar uma suposta prostituta e tratar ela como uma diva, com quarto de hóspede em mansões e motoristas particulares?

- Não quero que pense que sou o que eu não sou, senhor Jones, eu juro que me disseram para vir aqui a trabalho, mas não achei que fosse esse tipo de trabalho. - ele ficou confuso.

- Não te explicaram o que você teria que fazer? Poynter me garantiu que falou com você, pessoalmente.

- Como? Eu nunca vi esse tal de Poynter na minha vida, fiz contato apenas com minha madrinha, onde ela está?

- Espera um minuto, - ele se levantou e andava em círculos pensativo - sua madrinha te falou do trabalho e você veio até aqui, mesmo sem saber o que era, mas quando comentei o que era, você não aceitou a proposta? - eu fiquei confusa vendo ele andar de um lado para o outro, falando daquele jeito, mas assenti.

- Foi isso mesmo.

- Então você não é Rose Muller! - ele falou olhando para mim e com uma cara de quem descobriu que objetos densos flutuam na água.

- Rose Muller?

- Sim. Eu bem desconfiei! - ele parecia feliz fazendo gestos enquanto falava - O Dougie falou que a mulher era, bem, deu a entender que era mais velha. Também disse que tinha os cabelos ruivos, mas como mulheres sempre mudam o visual... - ele estava pensando alto - imaginei que você tivesse mudado o seu também. Além disso, - ele fixou os olhos nos meus, depois de percorrer o meu corpo com eles - acho que ele não esqueceria de mencionar alguns detalhes seus, no momento em que eu me recusava a hospedar a tal Rose Muller.

Senti meu corpo esquentar, em especial meu rosto.

- Então, foi um engano. - eu disse tentando processar as coisas. - Mas se for assim, preciso ligar para minha madrinha! Ela deve estar em pânico, ligando para o Brasil ou sei lá... - eu me desesperei.

- Brasil? Você é brasileira? - ele sorriu, parecendo encantado.

- Sou. - eu não conseguia me desviar dos olhos dele. Jones se aproximou, não sorria mais, mas parecia hipnotizado, segurou o meu queixo e olhou para minha boca.

- O que pensou que estava acontecendo aqui? Entre nós. - ele era gentil na fala, mas me senti insultada.

- Não quero falar sobre isso, me desculpe senhor Jones, eu preciso mesmo ir embora daqui, encontrar minha madrinha. - eu estava a caminho da porta, mas a mão dele segurou meu braço.

- Aonde pretende ir deixando suas roupas, não conhecendo a cidade e com toda essa aflição? - ele era racional, eu emocional. Comecei a chorar de novo. Como ele não era meu patrão, me senti à vontade para fazer algo que eu queria, desde que o vi. Abraçá-lo.

Danny envolveu os seus braços em meu corpo e me fez sentir quente, era uma sensação bem estranha que se apoderava de mim com o olhar dele, mas melhor ainda quando ele me tocava.

- Desculpe, eu não consigo pensar suficientemente bem quando estou apavorada.

- Pensou que eu ia te fazer mal? - ele falou encostado em meu ouvido, aquilo foi muito incomodo, porque meu corpo todo eriçou.

- Pensei. - me separei dele e vi um sorriso de canto nos lábios do homem mais lindo da Inglaterra.

- Gostei de você.

Eu com certeza virei um pimentão, mas não importava muito, só minha madrinha interessava. Jones me disse que ajudaria a encontrá-la e também a verdadeira senhora Rose Muller.

3ª pessoa POV

- Ok, e o que você fez? - disse Dougie, eles jogavam videogame, tomando cerveja, chocolate quente e vinho, respectivamente.

- Eu deixei ela ir embora.

- Você o que? - Poynter não acreditava no que ouvia. - Depois de um milhão de anos sonhando com a mulher, ela aparece na sua casa, bate na sua porta, toma na sua xícara, senta no teu sofá...

- Chega Poynter. - era Harry, folheando uma revista masculina.

- ... e você deixa ela ir embora? Simples assim? - Jones ficou sem graça.

- O que eu podia fazer? Ela precisava trabalhar, eu também.

- E o telefone, pelo menos isso você pediu? - disse Tom.

- Lógico. O problema é que ela não sabia o número e ele estava descarregado.

- E o parvo caiu nessa. - Harry resmungou.

- Vishh, isso quer dizer que ela não está afim.

- Por quê? - Danny estava tentando acompanhar o raciocínio.

- Porque ela te cortou né panacão, inventou uma história. - Poynter havia ultrapassado Jones com sua Ferrari.

- Não era mentira, seus idiotas, a Rebeca não conseguia nem ligar para a madrinha, por falta de bateria. O número dela em UK é outro, não tinha como saber.

- Ok, mas como vai atrás dela agora? - disse Tom.

- Com o nome dela tenho o facebook, o twitter, o msn, o tumbler, o myspace e um tal de Orkut e se eu não encontrar ela virtualmente... - ele não tinha pensado nisso - bem, nesse caso, eu vou ter que ir atrás dela. - Harry sorriu.

- Esse é o Jones que eu conheço... - e levou uma travesseirada de Tom, que iniciou uma guerra.

3ª pessoa POV off

Eu estava trabalhando há uma semana. Era mais fácil do que eu imaginava. O trabalho era tranquilo, razoavelmente, rápido, e eu ganhava o quanto havia planejado. Tudo daria certo.

Minha madrinha me apoiava, e ficou bem melhor depois de passado o susto do meu dia de chegada. Eu nunca mais havia visto ou ouvido falar de Danny. Pelo que eu descobri, o cara era de uma das maiores bandas do país, o que me deixava, razoavelmente estremecendo de felicidade. Se eu soubesse que era uma estrela, teria tirado uma foto, se bem que, nem me interessava na fama dele, porque o que não saia da minha cabeça era seu olhar fixo ao meu, desmanchando meu corpo todo.

Era meu dia de folga, eu estava passeando pelas redondezas, vendo as peculiaridades que apenas Londres (não, nenhum lugar do mundo é igual) poderia me oferecer, quando vi a tão aclamada Starbucks, o lugar que eu sempre quis freqüentar na vida.

Entrei com intenção de tomar um cappuccino, o dia, para variar, estava frio. Sentei em uma das mesas próximas da janela e olhei as delícias ofertadas no cardápio. Com certeza eu mudaria os planos de apenas beber o cappuccino, porque cheirinho de torta estava de matar.

- Bu! - eu tremi de susto e soltei um gritinho, vi um cara atrás de mim se debruçando para rir, segurando meu ombro.

- Jones? - meu coração saltou.

- Desculpa o susto Re - ele ainda ria - não resisti. - sentou-se ao meu lado, pedindo licença e continuou rindo.

- Muito engraçado senhor - fiz cara de ofendida e depois ri também. - Como você está? - estendi a mão e toquei na dele, por impulso, logo tirei ela dali, porque o choque foi bem grande e ele parou de rir na mesma hora, olhando pra mim com intensidade.

- Senti sua falta. - eu bebi um gole de cappuccino fervendo, e nem percebi, de tanto espanto em ouvir aquilo.

- Eu acho pouco provável, porque você nem me conhece. - ele ficou me encarando, mesmo assim.

- Mas te procurei e você não apareceu.

- Procurou?

- Sim, te adicionei no msn, mas você não acessa. Seu facebook não tem nem foto. Você tem twitter? Eu não encontrei e, ah é, conversei com umas fãs do twitter e descobri um tal de orkut. Te adicionei nele, pelo email que me deu, mas não sei porque, nem fotos consigo ver.

Meu Deus do céu, eu tinha ignorado um perfil de "Danny Jones" no Orkut! Mas como saberia que não era fake? Que grande merda atômica eu sou! Eu broqueei o cara mais gato do mundo. Espera aí, ele estava me procurando? Uau!

- Nossa, eu não fazia ideia. Depois que eu soube que você era de uma banda famosa, simplesmente não vi motivos de querer me ver de novo. - ele pareceu ofendido.

- Bem, mas eu estou aqui por isso. - ele sorriu, eu estava me apaixonando por aqueles olhos fixados em mim.

- Está? - fiquei pasma.

- Fui até o lugar em que você trabalha, assim que cheguei da França, mas era sua folga e sua madrinha disse que estaria por aqui. Quando te vi caminhando, decidi apenas olhar de longe, mas não consegui resistir me juntar a você para tomar um bom chocolate quente.

Era informação demais e sinceridade demais. Eu e Danny Jones tomando chocolate quente? Não dava pra acreditar. Fiquei muito fascinada com o jeito dele falar e com as brincadeiras fofas, ele parecia tão genial que me senti flutuar em ouvir suas histórias. Falamos de turnês, do Brasil, de produções, de pastéis, de cabelos coloridos, de jogadores de futebol, de canções favoritas e tantas outras coisas aleatórias, que nem vi o tempo passar.

- Você precisa ver esse filme. É com um cara... como é mesmo o nome dele? Bem, não importa, o filme é muito bom! - eu ria.

- Danny, você é ótimo em indicar filmes, não sabe nem os nomes, nem os atores. - ele segurou minha mão, sem perceber que estava já penetrando minha alma com o olhar e eu senti um turbilhão dentro de mim com seu toque.

- Eu sou ótimo para muitas coisas, na verdade e queria te mostrar uma delas. - Danny se levantou, deixando o dinheiro da conta e me puxou com ele, sem dizer palavra. Eu estava tão segura com ele, mas ainda assim perguntava para onde iriamos.

Ele me levou para os fundos do prédio e subimos as escadas de emergência. Fiquei morrendo de medo.

- Fique calma, está tudo bem, vem, segura minha mão. - eu segurei e fui, sem medo. Quando chegamos ao último andar, ele pediu para que eu fechasse os olhos.

- Isso, agora vire-se de costas. - eu fiz, com cautela e muito medo. - boa garota - ele parecia sorrir. - Agora abra os braços.

Tive medo, vários deles de uma só vez. Jones segurou meus braços por trás e apoiou sua cabeça em meus ombros.

- Um pouco da magia de Titanic. - ele falou ao lado de meu ouvido e eu pensava em rir, não fosse o frio que envolveu todo meu corpo, de pé no último degrau, sem a frente de apoio, como se eu fosse saltar em um vôo, mas ele estava lá e parecia ser ainda mais atraente fazer aquilo com suas mãos envolvendo meus braços.

Danny sussurrou um canção em meu ouvido e eu pensei que morreria naquele segundo, quando, de súbito, ele me puxou para perto da parede e, recostando meu corpo, acariciou meu pescoço e meu rosto, beijando-me em seguida. Fazendo-me sentir uma princesa.

Seus lábios eram gentis e ele era doce, incrivelmente doce. Sensível no ponto certo, com uma emoção que me deixava iluminada por dentro e por fora.

- Acho que me apaixonei.

- Eu tive certeza assim que te vi em meus sonhos.


FIM