Reinações Múltiplas: maio 2013
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Ensaiando...

Os olhos azuis sorriam de maneira natural. Ele havia nascido com aquele brilho, intenso e selvagem. Quando os lábios se moviam em um sorriso, todo o rosto parecia transformar-se, chamando os lábios, os olhos e as mãos dela.
- É o seu sorriso.
Ele gargalhou e deixou de mirá-la, fez um gesto de descrença e voltou a fixar seus olhos.
- Está falando sério?
Lenah baixou a cabeça e sorriu, logo afirmou com um balançar de cabeça positivo e segurou a mão dele.
- Muito sério.
Foi uma reação calculada. Primeiro duvidou, depois se confundiu e logo considerou a possibilidade. Ela viu os olhos de Leo desmanchando-se, do sorriso para a preocupação. Logo Leonardo frangiu o cenho e balançou a cabeça em desaprovação. Afastou-se e pegou um cigarro. Acendeu e voltou a observá-la, enquanto fumava próximo a janela. A luz refletida em seu rosto, os olhos brilhando.
Lenah olhava-o fixamente, o rosto em uma expressão séria esperava uma resposta. Leo soltou uma vaporada de fumaça e se aproximou da mesa, abaixando-se para ficarem olhos nos olhos. Ele sentiu que aquele momento seria difícil e não pode acreditar que teria de ser tão duro com aquele olhar acolhedor e fraterno. De fato, ela falava sério.
- Lenah... - parou um instante admirando-a pela força e sentindo-se pequeno pelo ato - Querida. Escuta, não é tão fácil pra mim. Eu...
- Não precisa dizer nada.
Lenah livrou o amigo do sofrimento de dizer com todas as letras que eles não teriam nenhuma chance de estarem juntos. A garota levantou e ajudou-o a colocar-se de pé. Ela sairia e o deixaria pensando, mas Leo impediu que Lenah fosse. Leonardo tragou o cigarro algumas vezes mais, segurando o braço dela, foi um longo tempo para o coração de Lenah.
- Faz quanto tempo? - ela tirou o cigarro das mãos do homem loiro, apagou o Mallboro em um cinzeiro que estava sobre a mesa e tratou de beijar os dedos que antes o ceguravam. Os olhos agora buscavam respostas, afoitos, apreensívos. Leo não entendia, ou preferia evitar entender.

- Amo você.
Foi o que ela disse antes de sair pela porta dos fundos.

Aí eu raciocino: "Dá um tempo Eduardo... Inimigo não é favelado, é o cu de prego engravatado"

Cara, eu tenho que tirar o chapéu pro Eduardo, porque, definitivamente, ele escreve pra malaco, MAS tem um conhecimento tão grande, tão estratégico no que diz que é um orgulho que ele (e diversos outros mestres de cerimônia) seja (m) brasileiro (s).

Pode não ser bonito dizer isso, mas eu sou fã de Facção Central.

"Entre malária e febre amarela quero ser Pablo Escobar, que com o pó deu uma cidade pro seu povo morar" 

Tem noção do que é isso? Meu, só estudando a história da América Latina pra entender os Robin Hoods daqui. É assim de norte a sul, nesse território abandonado pela ignorância voluntária. O ditado "ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão" é real e funciona aqui. Existe uma lei que rege, irregularmente, mas de maneira mais organizada do que a nossa lei, o crime nacional. E essa lei se prolonga aos governantes e, consequentemente, aos governados. 

Eu fico de cara com os olhos fechados e a hipocrisia social. Há uma série de violência e desacato no dia a dia do povão, da classe média, da galera que se rala pra ganhar mil reais e pensa que é dinheiro. Essa massa se faz de ignorante, prefere não se envolver com o mundo, prefere não vestir nenhuma camisa, vai arrastando com a barriga e PIOR, quando tem oportunidade de levar vantagem, não pensa duas vezes.

Hoje em dia é errado ser humano. É errado ser gente. Quanto mais animal seletivo, mais detalhista, mais filho da puta, melhor. A exclusão é tão evidente, tão desconcertante.
Salários de fome, empregos de fome, oportunidades cheias de segundas intenções, burocracia pra quem merece e facilidade pra quem tem contatos. Puta corrupção de merda.

No meio desse vai e vem, você quer ficar onde se sente acolhido. E se o crime acolhe, o cara não pensa duas vezes.

O que eu tenho a dizer é que nunca fui delinquente, nunca me envolvi em atos ilícitos e nunca tive porque me envergonhar da minha índole. Mesmo assim, passo de cabeça baixa se vejo rodinha de malaco na rua, mas desvio o caminho se vejo a polícia na esquina.

Não é medo. É falta de sentimento. Não tenho porque me sentir honrada e nem tenho histórias que contar com protagonismo dessa classe ou de qualquer outra classe política.

Interesse por interesse, eu me interesso no futuro do meu povo. Não da nação. Do povo. E isso inclui excluir as fronteiras de interesses, criando pontes de moral e ética.

Querer

Voltar a ser criança e ter todos os sonhos em um saco bem fundo, dentro do baú de ilusões. Ter as ideias em mente, o coração cheio de esperança e nenhuma oportunidade. Pensar e repensar o quanto queremos, o quanto sentimos, o quanto tudo parece absolutamente possível, e converter-se em um mar de esperança.
Esperança. Esperar. Dor.
Quanta dor e quanto absolutismo na esperança. E os momentos são todos um poço de tristezas convertidas em pensamentos negativos. Nenhuma mão poderia me salvar daquilo a que estou destinada. Nenhuma mão, além da minha.
E eu tento, esperneio, faço as honras as letras, tentando não me dar por vencida e, de repente, o mundo me dá a nova oportunidade de esperar. De ter esperança.
E não passa disso.
De espera, de anseio, de sonhos, de frustração.

De cálculos ante cálculos, de mais sonhos, de mais planos, de planilhas, números, tinta de caneta gasta em planos, planos, planos. Desilusão.

Parece que tudo acaba quando você tem um recomeço entre os dedos. Tudo acabou.

Os pensamentos se transformam em constatações de que você, na verdade, teve tudo e não teve nada. Que aproveitou o momento como uma criança, mas que o momento passou e você não soube, não pode, não conseguiu perdurar.

E parece que nada, nunca, é suficiente. Parece que os sonhos e as ilusões andam de mãos dadas.
Parece que o coração é culpado por sonhar demais, amar demais, esperar demais. Parece que, na verdade, estou fraca outra vez, com anseios e incertezas, repleta de angústias e fazendo de cada dia uma outra oportunidade de chorar, lamentar, tentar e não ir a lugar algum.

Perdi e perco. Ganhei e ganho.
Tenho aquilo que não quero, anseio aquilo que não tenho.

Reflexão

A fé é um assunto complicado. Parece que quando você conhece um pouco mais sobre você mesmo e confia mais naquilo que você é, todos os demais te desafiam.

Existe um poder maior e esse poder é tão forte que transcende a qualquer imaginação.

Sabe que eu me pergunto, dia a após dia, porque me sinto tão injustiçada. E recebo a resposta dia a após dia, também. 

Eu levo a sério aquilo em que acredito. Eu ponho em prática aquilo que aprendo. Eu tenho ética e moral. Não sou completa, mas o que acontece é que em comparação, eu me destaco. Não é prepotência, é uma constatação daquilo que eu sou. Eu amo e amo infinitamente, mas amar é um gesto muito difícil de demonstrar, porque não é bem visto.
O amor é visto como tolice. Amor é visto como babaquice, como perca de tempo.
Amor não é só homem e mulher, amor é mais, muito além. E demonstrar outro tipo de amor é ainda mais difícil, porque as pessoas não acreditam, não confiam, não respeitam.

Respeitar é outra dor. Respeitar parece um erro que poucos praticam e quando isso ocorre você é julgado por indulgência.
 Que tipo de erro é esse?  O erro de ser honesto, de ser justo, de ser verdadeiro?

Não me culpo, mas é difícil não julgar quando se conhece tanto. É difícil ser humilde. Mas eu tento. E prometo me esforçar mais para tentar entender porque não cabe na cabeça de todos o que está na minha.

New round: desespero

Julian Gil posta um "Por ahi voy ...!!!! ARGENTINA", só pra colocar a cereja no bolo do meu desespero. É um complô contra minha atual situação psicológica. Tem algum psiquiatra curitibano de olho em mim, afinal só posso ter cara de paciente ideal; daí as tentativas de me enlouquecer. Não, na verdade nem Freud explica tanta pressão psicológica.
Estou me despedançando aos poucos. Pensei que jamais viveria essa dor, mas voltou tudo, desde o início. Estou impossibilitada e, novamente, me converto espectadora, sem poder viver os meus sonhos.
Estou péssima. Péssima.

Soltando o verbo

Tem umas estrelinhas que não me fazem muito bem, vão contra meu ideal de mexicanos.
Tipo o Navarro. Um ser desprezível, não gosto da cara dele, não gosto das letras dele, não gosto da cara de cu que ele faz quando está cantando, falando e fingindo sorrir. Canta bem, inegavelmente, bem.
Mas não chega aos pés do Samo.
O Leo tem um "q" de falsidade, principalmente quando está sorrindo. E ver ele com aquele monte de roupas que não tem a ver com estilo, com certeza demonstra que faz qualquer coisa pra permanecer no mercado. Eu prefiro um CD desconhecido e autêntico. Mas, deixe pra lá, o cara escreve e canta tão bem que os defeitos são maquiados e quase inexistentes.

Todo mundo tem defeitos. Eu detesto os meus, mas não tem como ser perfeita. Talvez dê pra trabalhar os defeitos, mesmo assim, tem umas coisas que são parte da personalidade e mudá-las só rola quando você tem um motivo excepcional de arrependimento.

As palavras dizem mais sobre a gente do que nós mesmos seriamos capazes de falar.


Próximos 30 dias

1 - CARTA DO MÊS

6 DE OUROS

Aponta o que será mais importante para você, apresentando as tendências gerais para o seu mês. Refletir em cima de sua interpretação ajuda a determinar suas prioridades para o período.
O arcano VI do naipe de Ouros representa oferta generosa, novas propostas, melhoria material. Prenúncio de ajuda mútua, apoio e alívio.
PALAVRAS-CHAVE: Decisão, generosidade, oferecimento, reciprocidade, auxílio.
Para dar início ao seu Tarot Mensal, Franciele, emerge o SEIS DE OUROS como arcano principal e panorama do que haverá de mais significativo nos próximos dias. Ele simboliza as trocas justas, o trabalho bem recompensado e condições de oferta merecidas, sendo uma carta positiva para ilustrar seus investimentos e suas relações pessoais. Não haveria indício mais claro para afirmar que no decorrer deste mês você agirá de forma mais generosa que o normal, assim como sentirá na pele as consequências por tomar atitudes que consideram as outras pessoas, de alguma forma. Isso significa que a partir da cortesia despendida aos outros, você vai perceber o quanto algumas pessoas lhe são realmente gratas.
Perceba que será um período de ações e consequências, Franciele: você deverá encarar os interesses financeiros e emocionais das pessoas próximas como se fossem literalmente seus, pois assim uma noção de reciprocidade tomará conta da maneira como você enxerga o mundo e as trocas. As trocas, aliás, são as movimentações de energia, de motivos, de interesses e esforços. Durante este mêsvocê estará em contato com várias pessoas e circunstâncias que testarão sua capacidade de co...
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MAIS CARTAS DO TAROT COMPLETO

CARTA DOS DESAFIOS: ÀS DE ESPADAS

Mostra os principais desafios e dificuldades que enfrentará ao longo desse mês. O reconhecimento desse prognóstico permite que se prepare para enfrentá-los com uma postura positiva.
O segundo arcano sorteado para a sua análise foi o ÁS DE ESPADAS, Franciele, ilustrando o que haverá de importante e até urgente ao longo deste momento e que exigirá atenção redobrada. Simbolizando tradicionalmente a argúcia mental, a inteligência e a destreza verbal, e...
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CARTA DAS OPORTUNIDADES: 4 DE ESPADAS

Apresenta o que há de melhor e mais positivo para esse mês. Agir em cima de sua interpretação proporciona o melhor aproveitamento das oportunidades que podem surgir no período.
É o QUATRO DE ESPADAS o arcano que você sorteou como último prognóstico de sua análise mensal, Franciele. Ele emerge representando o que há de melhor a ser exaltado ao longo deste mês e que pode lhe fazer crescer e alcançar seus objetivos neste mês. Símbolo tradicional ...
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Declaração de amor

O coração tem direito a escolher uma pátria?
Ora, por que me culpo? Não sei o que há de errado em amar incontrolavelmente. Nao sei o que há de errado em não escolher um amor. Ama-se. Só.
E como se amar não fosse suficiente, amo pedindo um lugar em troca. E se o lugar existe, o que me falta é a oportunidade. Queria fugir. Voltar para uma casa que não é minha casa, fazer parte de um pedacinho daquilo que sou, fazer parte daquilo que não é meu.
“Você não é hispana”. Não. E também não sou brasileira.
Se não posso amar e ser quem eu escolho ser, prefiro ser nada. Um monte de histórias desconectadas, mas nada.
E se eu puder, serei tudo, porque é esse tudo que eu amo, é esse tudo verde, branco e vermelho que me inunda de amor, de felicidade e de esperança. É o meu lugar. De origem, de criação. De culpa, de castigo, de carinho.
E seu eu te molestei um dia na minha imensa vivência de alma, se por um momento eu te maldisse ou te fiz sangrar, terra minha. Se algum dia eu te desprezei, como faço hoje com essa outra mãe que me acolhe, te rogo perdão de joelhos porque te amo. Amo sem fronteiras, sem aduanas, sem muros, muralhas, sem mares, sem distância. A muitas centenas de quilômetros, estou com você. Do seu lado. Dentro de você. Do seu coração. Porque não posso acreditar que não somos parte integrante um do outro, meu país. Não posso acreditar que exista vida longe de você, minha mãe. Minha terra. Minha vida.
Meu México.

Leon Polar

Tomou mais uma taça de vinho e, suavemente, sentiu a bebida aquecer a seu corpo. O formigamento se espalhava desde a parte elevada da cabeça, até as partes íntimas, por isso ela se movia incomoda, pouco inclinada, pouco arqueada, esparramada no sofá. Usava o roupão branco oferecido pelo hotel. Estar em um hotel parecia tolo, mas tão excitante, talvez fosse o vinho e a voz que saia do televisor, conectado a um canal musical da digital. O rosto dele estava estático na fotografia que serviu de imagem para a capa do último CD. Talvez metade daquelas letras fossem escritas para ela, mas Leonel jamais saberia que a havia descrito em suas canções tão doces e inocentes. Lenah, no entanto, parecia pouco inocente, transparecendo o desejo que sentia em seus póros abertos e pelos eriçados. Permanecia com os olhos fechados, imaginando a boca que pronunciava cálidas palavras, talvez com lábios suaves, tão suaves e tão macios quanto os dedos que poderiam, sem muitos rodeios, tocar sua pele dourada. Leonel era uma il usão.
A cabeça girava de uma maneira constrangedora, Lenah deixou o copo na escrivaninha que estava próxima a poltrona e levantou cambaleando. Ela podia jurar que o barulho vinha da pequena cozinha instalada atrás da bancada que dividia o quarto, mas era realmente a campainha, berrando aos gritos que ela fosse até a porta abrir para uma pessoa qualquer. A moça não se atrevia a tentar adivinhar quem poderia ser, tratando-se daquele quarto de hotel, tão distante do mundo, em uma cidade que ela havia sonhado conhecer a vida toda e que lhe pertencia. A ela e a mais ninguém.
Por um momento seu coração acelerou e um estreito sorriso passeou por sua boca. Lenah queria, enlouquecidamente, que fosse o homem da foto. Com ou sem os óculos, com ou sem o nó na gravata, com ou sem o rosto sério que a deixava admirando a imagem, ao passo que analisava a vida do artista, assim como um poeta analisaria La Gioconda, em busca de um motivo para o falso sorriso. Não. Não poderia ser ele.

Sem muita alternativa, Lenah prendeu o roupão frouxo e girou a maçaneta. A porta não tinha um olho mágico e lhe faltava um segura-ladrão. Pouca proteção e muita dor de cabeça, a moça sentia que não seria uma visita apropriada.
De soslaio, a imagem  foi se formando pouco a pouco, primeiro como uma sombra, depois como um corpo vestido e logo como um homem de estatura mediana que lhe deixara, tão “por etapas” quanto fora a formação imagética daquele ser, estava ligeiramente apavorada. Talvez ela devesse parar de beber, afinal.
Com os olhos marejados e com o coração acelerado, seguia segurando o trinco da porta, sem abri-la definitivamente; sem sequer mover a boca em um sorriso ou em qualquer tentativa de formação de palavra. Lenah ficou ali, muda, hipnotizada e desacreditada.
Como se todo o seu sossego fosse embora com o bater de asas de um beija-flor, a moça sentiu a escuridão tomar conta de seus olhos e, sem alternativa, sentiu seu corpo cair, fechando a porta com uma pancada perigosa, que lhe causou um pequeno corte na testa.

Leonel se apressou em abrir a porta, com cuidado suficiente para não machucá-la, ainda mais. A mulher havia despencado em sua frente, com a cabeça arremeçada à porta, trancando-a por dentro. Foi necessário pedir ajuda da camareira, que, agora, lhe dava mais uma mão, ao erguer Lenah até a cama.

- Precisaremos de um paramédico.
- Sim, senhor, senhor Leonel. Já chamamos a ambulância, como o senhor pediu.

Ele estava tão apavorado que havia esquecido já ter solicitado, pelo menos três vezes, uma ambulância. Como aquela situação saiu de seu controle? A interrogação e o pavor de haver machucado a moça, lhe faziam sentir péssimo.

- Ela deixou contato na recepção? Algum parente, amigo, esposo?
- Não senhor. - A camarera fazia uma compressa com água morna, para tentar estancar o sangue da testa. Sabia da preocupação de seu patrão com os hóspedes e sabia, também, que ele e o senhor Leonel eram muito amigos. A mulher não falharia em seu auxílio e teria o benefício por se sair bem no que era paga para fazer.
- Já comunicou ao gerente?
- Ele estará aqui em um minuto, senhor.

A demora  para receber ajuda o afligia. Como o mundo insistia em parar toda vez que ele se metia em encrencas? Parecia até que ele estava destinado a ser uma piada das situações, cada ocasião mais estranha do que a outra, colocando-o.
Foi apenas quando a equipe chegou e afastou-o da moça que Leonel percebeu sua imagem na tela de tv. Uma de suas músicas pausadas, o cheiro forte de bebida e a ligeira organização do recinto, com excessão da poltrona, onde a mulher deveria estar sentada, no momento em que ele tocou à porta.
Leo recebeu uma série de mensagens, semanas antes. Achava aquele contato muito estranho e até sugestivo. Conseguiu se livrar de alguns, em meios sociais, mas agora havia sido mobilizado em seu celular, em sua caixa postal e podia jurar que havia visto uma mensagem no outdoor da principal rua da capital. Sabia que poderia ser algum tipo de paranoia de sua parte, o que era ocasionalmente, natural, Mas quando relia aquilo que haviam lhe enviado e todo o sentimento e poesia que estavam contidos ali, naqueles versos, não conseguia permanecer indiferente. Portanto, se a pessoa que havia lhe enviado aquelas mensagens estaria, de fato, no hotel de seu grande amigo, no apartamento 13 do terceiro andar, então ele tocaria a porta e lhe agradeceria pelo carinho. Pessoalmente. Ainda que naqueles dias se considerasse um louco. Estava apaixonado pela voz sem dono e não sabia, sequer, se era mesmo uma mulher.

Agora, ali, diante da moça que caira, literalmente, a seus pés, percebia que a loucura havia sido transferida e que, de alguma maneira, existia de fato - fosse ela ou não - uma conexão entre ambos.
- Minha foto.

Leonel observava o recinto e, em meio aos protestos de um dos paramédicos, requisitando a liberação do quarto, ansiando espaço para a paciente, piscava os pequenos olhos, procurando conter as lágrimas que lhe viam em mente.
- Que fatalidade. - Disse uma das camareras, à porta.



Leo pensava o mesmo, sem dizer. Seria ela, afinal?

Pensando alto - parte incontável

He nacido para eso. Para amar a un país que no es el mio. para tener una crencia que no es la mia.
Para aceptar que no soy, mientras mi corazón siente que hace parte.
Soy y no puedo decir que no. Amo, y eso está en mis ojos, en mis venas y en mi piel.
Quiero, no importando el mucho que debo sufrir por tanto desengaño.
Estoy aquí, lejos de un paraiso que puede ni siquiera existir.



Sin bandera - parte 1

­­­Parecia mais um dia normal. Sai de casa com a jaqueta de couro, a calça jeans preta, o par de botinas e o cabelo mal penteado. Coloquei o Ray Ban para disfarçar as olheiras da noite anterior e levei comigo pouco mais que a carteira contendo um par de notas de baixo valor, um cartão de crédito, a carteira de motorista e uma foto três por quatro.
Fixei-me em um sonho, avançando sem olhar nos olhos das pessoas, enquanto andava pela rua. Fazendo o que fosse, por fazer. Deixando minha mente em outro mundo, em outra conexão, existindo por existir. Respirando por respirar. Esperando, aficionadamente por uma mulher que poderia ser não mais que uma trapaça de minha mente. Um jogo do subconsciente.
Sentia pouco naquela manhã e confesso que não sei explicar direito, afinal, estive por tanto tempo esperando que aquele dia chegasse. Talvez nós nunca saibamos ao certo quando é que os sonhos se realizarão e por isso o máximo que pude fazer, ao longo da vida, foi planejar frustradamente um encontro que jamais, de fato, imaginei que ocorreria.
Quando planejamos esse tipo de acontecimento, ele tende a inexistir, fazer-se sóbrio, mostrando nossas cabeças loucas e botando nossos pés no chão. Ao decorrer dos anos estive sempre naquele café, com a mesma expressão, com os mesmos olhos, a mesma barba por fazer e o mesmo coração em ritmo ora acelerado, ora cretino e promíscuo. Eu era um amante, um bom perdedor, um homem sem rumo, porém, sobretudo, um apaixonado. Um romântico, boêmio e apaixonado. Mas minha paixão, meus caros, era egoísta.
No entanto, sofria calado, aceitando os regalos da vida, aproveitando de minha sorte. Perdendo mais por ser descarado do que por ser ruim no que fazia. O fato é que eu a esperava, mas nunca pensei que realmente fosse chegar.
Não sabia que existia um mundo como aquele. Eram sete e meia da manhã quando encontrei a luz que mudaria minha vida. Uma bendição, com certeza. Um ser iluminado e especial de estatura mediana e olhos castanhos. Minha surpresa não foi menor que a minha loucura.
Para ela. Minha vida inteira era para ela, e eu queria voar com aquele pássaro, descobrir o mundo ao lado dela. Senti que era um sonho e cheguei a pensar que estava dormindo. Sentia uma chuva de calor dentro de mim, como lágrimas quentes que escorriam pelo meu coração, levando em conta o sublime e a supremacia daquele momento.
Eu olhava, observava, sentia. A porta de vidro aberta, uma mesa e poltronas de almofada marrom. As mãos se moviam dóceis enlaçando a xícara; o sorriso era primaveril, embora lá fora o orvalho denunciasse a noite fria; os olhos que se fixaram em mim fizeram que as batidas em meu peito acelerassem, dando-me mil razões para entregar meu mundo a primeira vista.
O quão patético pode ser um homem apaixonado? Pois eu diria que todas as opções de desengano resolveram se apoderar de mim, naquele café, pouco antes das oito da manhã.
Aproximei-me e dexei que o sorriso escapasse, pois senti que seria minha, as fantasias e as eloquências se confundiam em meu âmago. Eu a vi chegar, vi que estaria a meu lado, tive a premunição do primeiro beijo e do amor que entregaríamos – ou talvez fosse a vontade de que tudo aquilo fosse real. Como seria pegar sua mão e dar um passo a seu lado? Dois turistas? Quantas fronteiras enfrentaríamos juntos? Quantas ruínas reconstruiríamos pedra por pedra?
Esperei que falasse, gostaria de ouvir sua voz. Ela pediu um cappuccino. Sentei-me como bobo a seu lado, hipnotizado com a moça, e pedi um expresso. Mesas separadas, olhares conjuntos. Um pedido tão simples poderia dizer tanto sobre nós? O cappuccino chegou.
Era tão natural que os lábios tocassem a xícara, que a bebida tocasse a boca e que a boca pudesse queimar minha pele de desejo, mesmo sem tocá-la.

EU NÃO SOU DIFÍCIL DE LER

Parecia acordar cheio de ditados machistas. Não havia uma aproximação que resultasse em abraços doces, carinho ou manifestações de afeto. A noite acabava quando começava o dia e, por ser dia, transformava a fera gentil em uma besta descontrolada. Não havia meio termo naquele relacionamento; era "ou vai ou racha". 
Ela soube desde o início que não haveria gentileza, soube também que passaria por um processo de putrefação, onde os segundos lentos do dia seriam torturantes em suas aulas de filosofia e explanações sobre o conteúdo que se referia ao moral, à ética, ao raio que partisse cada desgraçado brocha que dividia a sala de estudos com ela. Seu coração, apertadinho desde criança, havia sonhado demais, contagiando a porcaria de mente indulgente, frágil e pensativa que levava na cabeça. Ana havia errado por um motivo tolo. Havia amado demais.
Quando conheceu Raul seu coração ficou miúdo, as pernas pareciam não ser o suficiente para deixá-la de pé. Necessitava de apoios, de bancos, de muletas, qualquer acento ou objeto que estabilizasse o corpo seria bem vindo, principalmente porque os batimentos cardíacos funcionavam, de tal maneira, a deixá-la trêmula e incomum.
Os primeiros meses sempre são um martírio de felicidade. Ana sorria com os dentes, com a boca, com a alma transmutada em corpo irradiando o prazer sublime de viver. Iniciou um trabalho voluntário cinco quadras de sua casa em uma escola pública onde as crianças não tinham sequer a noção de que o mundo existia pela razão, em formulações de sentindo sumamente existencialista. Andava pelos paralelepípedos ensaiando uma fala sobre o “Penso, logo existo”, de Descartes, mas o que seu coração dizia não estava totalmente de acordo. Imaginava existir naquele momento, sim e completamente, porque amava e recebia o amor de seu homem em práticas carnais que a elevavam de tal maneira a sentir a ponta dos dedos tocando o céu, voltando, tocando o inferno, voltando e, por fim, estacionando em sua pele alva-avermelhada, no purgatório dos desejos. Naquele tempo, Ana sorria feliz, por existir.
Desafortunadamente, o mundo não gira em torno dos três primeiros meses e como em um conto de fadas que acaba matando as fadas e onde prevalecem as abóboras murchas de carruagens inexistentes, a professora de filosofia sentiu suas pernas tremerem outra vez, pela rudez daquele que a faria sofrer o inquestionável em seus próximos anos de vida.
Abria a mão e contava cinco. Cinco anos sofrendo as intervenções daquele humor perturbado, cinco que não sentia mais o ar entrar em sua pequena casa de tijolos rebocados e pintados de amarelo. Cinco anos que a fumaça do cigarro Mallboro parecia não sair de seus cabelos, sufocando-a desde as narinas, passando pelo pescoço e chegando aos pulmões, de maneira tal, que as descrições seriam banais para a infelicidade que sentia.
As noites regadas a sexo brutal e sujo eram incomparáveis aos dias banhados de um lodo tão fétido quanto o odor daquele ribeirão próximo à favela. Ana sentia o caos em seu mundo e, por ocasião do desassossego que a rondava, suas produções profissionais eram tão rudes quanto os momentos que compartilhava com seu companheiro.
Cada classe parecia odiá-la mais, as intervenções pedagógicas para que tratasse os alunos com maior gentileza eram inúteis. “Sou funcionária pública”, era o que dizia. Parecia sair de uma caverna, todas as vezes que pisava na rua, mas, em contra partida ao mito, Ana não regressava contando o que havia de bom e belo a ser desfrutado fora dali, pois saia com ódio e rancor, dividindo o que havia de amargo em sua existência, até que, simplesmente, já não fazia nenhum sentido estar ali. O máximo que poderia exigir de si mesma eram explicações decentes de um conteúdo didático mal elaborado.
Chegara ao ponto de detestar a espécie humana. Nem homens, nem mulheres. Seu primeiro relacionamento havia sido infantil e pálido, comparado aos demais. Havia ali, de qualquer maneira, algo de puro. A pureza e a inocência do primeiro amor. Ana, no entanto, havia deletado aquele sentimento.
Entre os jardins de Dona Sonia e de Seu Camargo, brincava de pega-pega, pulava corda e sujava o vestido no gramado molhado pelas chuvas de primavera. Ana não lembrava, mas Thomas era o nome dele. Daquele menino baixinho, de sardas na cara, um olhar meio perdido por trás das lentes com aros redondos. Dos detalhes lembrava-se bem. Tinha cabelos ruivos e espetados, com a pele branca, feito a dela, magro e desengonçado. “Me dá um beijo?”, foi a pergunta que levou todas as férias de verão para fazer, e ganhou em troca um balançar de cabeça positivo, um sorrisinho sem dois dentes de leite e uma lambida nos lábios, seguida da mão dela levantando-se e segurando as duas cabeças. Ana fechou os olhos e tratou de lembrar como seus pais faziam nos sábados de madrugada, era só tirar a língua da boca e mexer de um lado para o outro. “Aninha!”, ouviu a voz estrondosa de seu pai gritar. Estava perdida.
Agora podia recordar que a vida lhe ensinara desde pequena que o amor doía. Levara uma surra do pai e, de certa forma, aquela foi a primeira de diversas palmadas que levara ao longo dos anos. Na cara, na bunda, nos braços. Seu pai havia perdido o emprego, sua mãe sustentava a casa, Aninha estudava no primário e a bebida chegou em seu lar sem convite, instaurando-se no quarto de seus pais, na sala, na cozinha e nas marcas que ficaram em seu corpo de criança. O pequeno Thomas ela nunca mais viu.
Bem, de todos modos, agora era uma mulher e, quanto mulher, teria de superar aquelas agressões. Sabia que se algum dia Raul lhe erguesse a mão, não hesitaria em chamar a polícia, mas ele, coitado, não lhe fazia nada. Era o jeito dele, afinal. Gostava de fazer amor com um pouco mais de intensidade, pensava Ana. Ou, melhor dito, talvez Ana não pensasse, talvez criasse essa história para abafar o fato de que seu marido, ou seja lá o que fosse aquele monstro que habitava sua casa há cinco anos, lhe arrancava as roupas de maneira brusca e lhe fazia sentir muita dor, prazer nenhum, muito ódio, amor nenhum, muita vergonha e respeito algum.
Ana, como muitas mulheres que haviam aturado o desrespeito e a violência doméstica quando criança, continuava exercendo o papel da garotinha frágil de índole errada. Descontava sua tristeza e amargura em sala de aula e, de alguma maneira, desprezava a espécie humana desde seu pai e sua mãe, até os alunos que levantavam os braços a procurava de respostas para questões filosóficas.
“Ela precisa de ajuda”, era o apelo da coordenadora pedagógica que, após três anos de observações, havia notado um comportamento diferenciado na professora de filosofia. Não era que estivesse pouco se lixando para a saúde dos professores, longe disso, o fato era que a coordenadora sempre andava ocupada e havia esquecido de comunicar a junta médica sobre o problema da professora Ana.
O psicólogo, atento e responsável a seu trabalho, sorriu gentil à coordenadora dizendo que entendia perfeitamente quanto trabalho ela teria em mente, respondendo serem naturais pequenos esquecimentos, em meio ao emaranhado de documentações, os quais ela teria de cuidar. Afinal a instituição era gigantesca, havia um corpo docente extenso e nenhum profissional era perfeito naquelas condições. Mais calma e com um sorriso de quem havia sido compreendida, a mulher saiu do escritório com sensação de missão cumprida.
Três dias depois, Ana despertava dolorida e com a sensação de que iria explodir em choro a qualquer momento. Não bastava o quanto se doava àquela porcaria de escola, haveria de passar por uma avaliação psicológica no período da tarde, após ter uma das piores noites de sua vida.
Deu as aulas com excesso de mal humor, evitou olhar para a cara da coordenadora que havia puxado seu tapete e, por fim, saiu do estabelecimento de ensino, rumo ao escritório do tal psicólogo.
“Seja bem-vindo”, era o recado no tapete da porta fechada, no sétimo andar. Ana sentou-se e deixou a bolsa de lado, escolheu uma revista de moda, sem prestar atenção no que estava lendo, pensando em como controlar seus gestos e palavras, a ponto de deixar-se parecer comum e normal. Lembrava-se do que havia lido sobre comportamento e deveria evitar olhar em determinadas direções, para que o homem não analisasse em que, efetivamente, estava pensando.
Ao fim de cinco minutos esperando seu horário – havia chego 15 minutos adiantada – se deu conta de que psicólogos estudavam para serem adivinhas, um tipo de ciganos ou bruxos do século XXI. Olhavam para você, analisavam seu comportamento, sua fala e, pronto, você estava absolutamente perdido. Não fazia ideia de quem seria o psicólogo, mas ouvira falar da figura quando uma de suas colegas de trabalho chegou comentando sobre a consulta que marcara à filha, cerca de dois meses atrás. Não era o seu tipo, levando em conta que, havia cinco anos, nenhum homem poderia se esforçar, suficientemente, para se tornar um tipo que lhe atrairia.
A porta do consultório abriu e uma senhora saiu rindo, com sua muleta auxiliando nos passos. “Você é mesmo uma graça, Dr. Thomas”, o homem atrás dela tocou de leve o ombro da velha e, com um sorriso afetuoso, respondeu que, na verdade, era aquela mulher uma joia preciosa.
Ana observou a cena com um pouco de asco. Estava na cara que o barbudo ruivo era tão falso e hipócrita quanto sua coordenadora. Talvez, até, fossem amantes.
“Senhora De Castilho?”. Ana levantou-se, cumprimentou a mão que lhe foi estendida e tratou de mirar nos olhos, sem desviar o olhar. Havia lido no Google, cinco minutos atrás, sem ter certeza de para qual lado deveria olhar, que o ideal era mirar nos olhos, assim não transpareceria nenhuma emoção específica, apenas segurança. Estava torcendo para não parecer presunçosa ou triste, pois havia essas hipóteses na lista de alternativas.
“Boa-tarde, como vai?”
“Estou bem, doutor”. O homem deu espaço, apontou para a poltrona e pediu que a mulher se sentisse à vontade. Sentou-se, de imediato, atrás de sua mesa e tratou de preencher alguns papeis enquanto perguntava dados de confirmação. Ao final, ergueu o rosto e abriu um sorriso.
“Então, Ana, como foi a sua manhã?”.
Ana queria olhar para baixo, mexer as mãos e os pés, se encolher talvez, mas lembrava de que a postura na poltrona deveria ser reta, o olhar seguro, as mãos sem paradas, sem qualquer expressão.
“Correu tudo bem”. Não poderia dar respostas fechadas ou ele pensaria que ela estava na defensiva. “Sabe como é, o mesmo de sempre...”, teria de mudar essa frase, essas palavras poderiam significar que ela estava entediada. “... filosofia abrange tanto sobre a existência, e a existência é tanto para o ser humano, que acabamos conversando, basicamente, sobre a vida”. Ela lembrou de dar um pequeno sorriso ao final, para enfatizar que o assunto “trabalho” a deixava feliz.
“Certo”, Thomas fez uma observação em sua folha, Ana estava louca para saber de que se tratava. “E você tem feito isso, dar aulas de filosofia, há quanto tempo?”. Ana pensou que estava em vantagem naquele momento, seria quase como uma entrevista de emprego.
“Bem, eu costumo dar aulas desde o final do ginásio, quando fiz um curso de extensão na França”.
“Interessante, você costuma viajar?”. Merda, ela deveria ter pensado em algo mais próximo. Falar sobre viagens daria muito pano para a manga e ela poderia se perder nos pensamentos premeditados.
“Viajei algumas vezes, especificamente, para a França, na casa de meus tios”.
“Aqui consta que seus pais faleceram, Seus tios vieram para o velório?”.
“Sim. Estiveram aqui”. Era mentira.
“Você é casada, Ana?”. Ela não deixava os olhos saírem dos olhos dele, Thomas, no entanto, não só mirava os olhos dela, como não deixava de abaixar a cabeça para observar o que estava anotando em sua folha e levantava o olhar, novamente, observando-a dos pés a cabeça, voltando a se concentrar nos olhos e, sucessivamente, repetir todos os gestos. Devia ser uma tática para deixá-la enlouquecida e descontrolada. A cada pergunta – e todas pareciam, excessivamente, pessoais e detalhistas – Thomas seguia observando-a cada vez mais, anotando, cada vez mais, questionando, cada vez mais.
Foi na trigésima questão – e ela havia contato – que o controle foi esgotado definitivamente. Ana levantou e se aproximou da janela. Respirou fundo, voltou e sentou-se.
Sua estatura mediana e seu corpo frágil combinavam com o vestido que usava, nada florido e primaveril, como na infância, mas Thomas podia lembrar com alguma facilidade de como o perfume continuava idêntico ao daqueles tempos. Ao ver a moça se aproximar da janela e voltar, com aquelas pernas finas, escondidas pela meia-calça de inverno, resolveu deixar seu lado profissional um pouco de lado, embora acreditasse ter feito isso desde o princípio, quando leu o nome em sua ficha.
“Você precisa de ajuda Ana?”. Ela parecia respirar mais rápido, não só pelo ódio que sentia no atrevimento dos olhos daquele patético, como pela mão dele que a tocava agora, de maneira a deixá-la indefesa. Se ele a tocasse, estaria indefesa.
Thomas sentiu o que acontecia, no exato momento em que tocara sua pele. Milésimos de segundos atrás, sabia que o ideal para aquele dia seria seduzi-la, convidá-la a um jantar informal, relembrar as brincadeiras do verão que passaram juntos, fazê-la lembrar-se dele, dizer que conhecera seus tios, amigos da família dele, em Paris, e que os velhos haviam lastimado não estar no enterro dos pais de Ana. Ansiava dividir com ela que sabia mais da moça do que Ana imaginaria, mas naquele princípio de toque, quando apenas seus dedos haviam encostado no braço branco da mulher indefesa, Thomas viu o semblante da moça mudar, os olhos tornarem-se turvos de lágrimas e o corpo deixar de responder às vibrações que ele havia notado minutos antes. Desgraçado. Maldito fosse o desgraçado que havia violentado aquela mulher.
“Está tudo bem”, o psicólogo falava mais alto do que o homem. O homem a sacudiria em busca de um nome, perguntaria quem foi, perguntaria onde estava e sairia atrás do maldito, em busca de vingança. Afinal, que tipo de monstro poderia machucar aquela flor? A mulher era toda um copo de leite, com a fragilidade de um lírio, como haveriam de maltratá-la? Thomas, no entanto, voltou para trás da mesa, como um bom profissional. Ela precisaria de confiança, de segurança. Distância, em primeiro lugar. Voz baixa e calma. Um tratamento com sua colega psicóloga seria o ideal, nada de homens por um bom tempo, até que recuperasse a segurança em si mesma. O doutor agia com rapidez, seu pensamento voava baixo, buscava soluções, tratamentos eficientes. O homem gritava por dentro, com tanto ou maior ódio do que o que transparecera no olhar daquela vítima. Thomas se amaldiçoava por haver se aproximado e pressionado tanto com suas perguntas, com seu olhar, com suas palavras.
Ana, no entanto, percebera suas falhas. Estava perdida, o bruxo, o cigano, o mago, havia lido em seu olhar, sem precisar tocar a palma de suas mãos, tudo o que havia de mais íntimo nela. Debruçada entre os próprios braços, Ana se pôs a chorar. Um olhar e um toque haviam delatado todo seu infinito particular.

Querer mais que bem querer

Não quero piedade, quero guerra.
Não quero romance, quero proteção.
Para cada palavra quero um  gesto e para cada gesto um sentido.
Quero a  vida repleta de sentimento e com emoção suficiente.
Quero e continuarei querendo. Desejando e contemplando imaginativamente.
Não sei ao certo como, quando ou por quê.

Caminhada

Estive andando pelo meu bairro. É engraçado como as cores brasileiras se fundem nas casas pré-fabricadas, sobradinhos coloridos, cachorros sem dono e ruas vazias - ou quase, já que era a hora das testemunhas de jeová fazerem seus trabalhos de disseminação da palavra. Mais engraçado é ver que essas cores são as cores que pintam meus sonhos latino-americanos, sem dinheiro no bolso; porque o que eu busco longe está do meu lado e sou eu. As ruas estreitas, recém asfaltadas, contam umas com calçadas e outras com a divisão do espaço junto aos carros, que hora ou outra passam na rua. Em minha mente vinha a palavra callejeros, e não sei bem porque um menino sentado no meio-fio e um homem suspeito saindo de um bar de vila me fizeram enfatizar a palavra no subconsciente. Estive ouvindo um som romântico e dançante, de origem meio argentina e meio mexicana, de uns homens interessantes que se diziam sem bandeira - sem barreiras, fronteiras ou pátria definida, já que a extensão de suas terras, basicamente, cobria o norte a sul latino americano. Nessas canções que soavam a meu ouvido, saídas de um par de fones pequenos de marca desconhecida, as letras eram indiferentes, já que os pensamentos pintados se relacionavam ao ambiente de reconhecimento e contemplação. O espaço infinito do céu, azul e repleto de nuvens brancas, com um sol a mostrar-se e esconder-se, fazia da paisagem, repleta de árvores e arbustos, um espaço tão meu quanto qualquer viela do Retiro. Eu já havia encontrado o meu lugar no mundo, já havia escolhido, entre todos, o meu espaço, e naquele momento o único que fazia era reaver em meu subconsciente alguns motivos mais para existir, contrapondo o ponto fixo que rodeava minha alma. O ponto fixo de desistir. 

Estou cética

Quando finalmente deveria acreditar, crer, sentir aquele frio na barriga que tem a ver com a certeza das coisas, o impulso de se dar bem, de ir em frente, erguer a cabeça e tantas outras alusões, simplesmente deito e durmo.
Estou cética.
A cada dia um pouco mais e a cada horóscopo desacreditado, uma luz pequenininha se apaga e sinto que estou, de fato, desacreditando das fadas.
Embora desacreditar de fadas as mate e tenham trilhões de fadinhas por aí caindo mortas depois dessa onda inimaginável de ceticismo indolente.

Preciso de fé, mas fé não se compra, não se vende, não se "nada".
A fé vem de dentro. E não sei mais quem vive dentro ou fora de mim.

Agora


A hora certa de dizer adeus.
Adeus para o que é cretino e canalha com você, com o seu mundo, com quem você é.
A hora certa de dizer tchau. De dizer foda-se. De dizer, eu não quero. Eu não vou.
Eu não preciso.
A hora certa de perceber que as alternativas cessaram, mas que elas são realmente importantes.
A hora certa de começar de novo. Do zero.
A hora de andar com os pés no chão e sem o coração não mão.
A hora certa de desfrutar, de arriscar, de ser quem você é.
De crescer por si mesmo.
De abandonar para poder viver.


Hoy tengo ganas de ti

Apesar da estreia ser apenas no próximo dia 13, a Televisa anunciou que fará uma exibição adiantada já nesta quarta-feira, razão pela qual podemos esperar ouvir, pela primeira vez, a música tema cantada em espanhol por Christina Aguilera e Alejandro Fernandéz. O nome da faixa é hoy tengo ganas de ti.



Cada espaço

Eu comecei há muito tempo, hoje não sei de mim.
Quando falhar esconde o gesto de carinho
Eu intercepto o amor e encontro a calma
No paraíso do sorriso que é só seu.
Tempo, eu ouço o tempo
No coração das nuvens.
Tempo, eu ouço o tempo,
No relógio das evocações da alma.