Reinações Múltiplas: maio 2011
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Manual de tortura feminino


O primeiro passo é simples. Seduzir.

Eu e Danny nos conhecemos em um consultório médico. Foi rápido, simples e casual:

- Olá.

- Como vai?

- Adeus.

Quatro palavras, três sentenças, sendo uma interrogativa e duas vindas do mesmo emissor.

Não sei de onde tirei que ele pudesse ser o cara do consultório quando o vi dançando na pista de uma boate gay, onde fui com algumas amigas.

- Quer dizer que o cara do consultório é gay?

Minha melhor amiga perguntando.

- Eu acho que sim.

Eu, respondendo decepcionada, por não ter dormido três dias imaginando a porcaria de moreno alto, de olhos claros, me comendo. Tudo pra que? Pra descobrir que era gay? Ledo engano.

Dei-me conta de que eu não era gay e estava na boate. Pensei que ele poderia não ser gay e estar na boate.

- Vai lá, pergunta pra ele. Conversa, sei lá, dá um jeito.

Melhores amigas são tão legais. Primeiro te carregam pra um lugar cheio de homens que não beijam mulheres. Depois te ajudam a escolher um vestido que é dois números menor que o seu (e fazem seus seios saltarem, sua bunda pedir socorro e suas pernas ficarem grudadas o suficiente para não conseguir trocar passos que não sejam ala gueixas menstruadas). Por último, ao invés de ajudar na hora do aperto elas dizem: vai lá, se vira.

E eu fui mesmo. Mas, como uma pessoa inteligente e interessante que sou, acabei ficando sem assunto – sarcasmo - e resolvi ser direta:

- Oi. - eu falei, super interessante. E ele:

- ...

Bem, ele não respondeu por que não ouviu. Repeti:

- Oi. - e ele:

- ...

Realmente a porra de música estava alta pra cassete. Resolvi gritar:

- OI!

A música tinha dado aquela paradinha massa e o povo todo olhou pra mim, é claro. Ele se virou dizendo:

- Não precisa gritar moça. – Será que eu estava próxima demais do ouvido?

Primeiro mico da noite, então resolvi falar menos e agir mais. Deixei minha perna em evidência e passei as mãos pelos seios dizendo:

-Tudo bem? - uma cara de "aff" me olhou e nada de responder. - Lembra de mim?

Para que uma pessoa normal faz uma pergunta dessas? Na verdade eu fico muito de cara com gente burra, como eu, que pergunta um "lembra de mim" para caras como Danny Jones.

- É... (pausa de 2 segundos que duram meia hora) não?

Fico me perguntando se a paradinha na fala é pior do que a cara de interrogação dos homens nesses casos. Realmente, é uma dúvida cruel.

Resolvi continuar na estratégia "sedução mode on" e investi em me aproximar para falar e ser inteligível. A música voltou a gritar loucamente, na voz da miss dos gays, Katy Perry, em uma parceria com a nada escandalosa Lady Gaga.

Quando vi que o gato estava quase se afastando para começar a dançar, pensei "ele é gay". Não deu outra, ao invés de seguir meu plano brilhante de falar no ouvido dele sussurrando, eu gritei um "você é gay?".

Não que eu estivesse conversando com um cara em uma boate gay, que supostamente é lotada de gays, e tivesse gritado bem na hora da porra de pausa na música das divas supremas deles, voltando a ser evidência e centro das atenções de todos em um raio de 50 Km, i-ma-gi-na.

Sorte minha que viados são caras (?) compreensíveis. Eles voltaram a dançar assim que a paradinha da música se tornou mais um grito da Katy - que, aliás, gritava tanto que pensei ser a Mariah Carey voando, imagine ela balançando aqueles braços sem parar. Fala sério são a fonte de poder da voz da Mariah, se ela agita os braços voando cria ondas sonoras capazes de mover as placas tectônicas do sudoeste paquistanês - e o nosso amabilíssimo garoto do consultório se matou de rir (da minha cara?) na minha frente.

- É claro que não - depois alguém me explica o "é claro" dele, levando em conta que estávamos em uma boate gay?

- Bem, e você quer dançar comigo? - eu sei que foi brega, mas o que eu iria falar naquela hora, poxa? Dá um desconto, eu precisava grudar no cara. Afinal, três dias brincando com meus dedinhos, imaginando aquela coisa gostosa e agora com ela na minha frente, sabendo que não era um gay.

- Eu sou bi!

Pausa inesperada.

Beleza. Quem, nessa porcaria de globo terrestre, inventou essa porra de terminação utilizada para descrever viados que não tem coragem de se assumir por inteiro e mulheres que gostam de bater bolacha e não admitem? Ou se é gay ou não, cassete! E agora, na hora H, no momento clímax, no momento "wow", em que eu esperava um "claro", o cara me vem com um "eu sou bi"?

Bi pra mim é abreviatura de Bambi. Ponto.

Não que eu tenha preconceito, imagina, cada um faz dos buracos do corpo o que estiver afim. O fato - e espero que compreendam - é que eu estou sem sexo há quase três meses por só me interessar por bissexuais passivos. Isso não significa que Danny Jones fosse/seja um (ao menos, não era/é do meu conhecimento), mas aquela declaração por si só já significava que eu usaria um pinto de borracha com um cara, ou teria de me contentar mais algumas semanas com os meus dedinhos. Porra usar pinto de borracha sozinha já é foda, usar com um cara não é lá o paraíso, né? – Né?

Certo, eu estava bem traumatizada, mas segui o plano. Era à hora de mostrar para todos os presentes com quantos Bi's se faz um homem. Usei meu power seduction e comecei a dançar para Danny, sem nem dar moral para o que acontecia ao nosso redor. Sem, aliás, puxar qualquer assunto. Em momentos como aquele, apenas um bom par de pernas e uma bunda empinada em um vestido-para-sardinhas-enlatadas é que poderiam fazer alguma diferença.

Comecei a rebolar, com um estilo de molejo-sensual-latino-shakira-power-loca-loca-loca; passei uma das pernas (com muito esforço) ao redor do corpo do garoto e abracei o cara passando a mão devagar em seu ombro, encostando a boca em seu ouvido.

- Esqueci de colocar minha calcinha.

Certo, eu sei o que você está pensando. Está pensando "vou fechar esse manual e ir dormir, que eu ganho mais", mas não. Não faça isso. Dê-me mais um descontinho e não vai se arrepender.

Qual é a finalidade em dizer para um cara que está sem calcinha? Errado, ele não vai ter fantasias com a Britney Spears, leitora velha que tem tendência a pensar com reflexões do início dos anos 2000. Isso, leitora jovem e imatura, ele vai ter tesão e querer te traçar "daquele" jeito, até você dizer para que eu não sinto mais nada. Não, não, leitora falsa moralista que está em busca do príncipe encantado, ele não vai te achar uma vagabunda. Isso porque ele já te acha vagabunda, de antemão, só pelo fato de estar usando um vestido desses e se esfregar nele (pelo fato de ser mulher, pelo fato de estar em uma boate gay, pelo fato do fato que homens acham mulheres que não são a avó, a mãe e a irmã vagabudas, pelo fato...). Em outras palavras, desencana, se joga e seduz.

O segundo passo é básico, espera ele ligar.

Depois da "noite sem calcinha", em que você e ele rolaram no chão do seu apartamento/apartamento dele/apartamento de algum amigo/motel/banheiro da boate, você deve dar o telefone para o bofe.

A estratégia pra dar o telefone é a mesma de sempre. Pergunta a profissão, se for veterinário você tem um cachorrinho com hemorragia lombar aguda de nível esquizofrênico; se for advogado da vara da família, sua tia espanca a filha de cinco anos; se for cabeleireiro, acredite, você transou com um viadinho, mas dos males o menor, vai que ele te aplica um mega hair ala Anahi com 15% de desconto?

No meu caso o cara era guitarrista de uma bandinha (que devia ser emo, só a julgar pelo nome). Nessas situações, o que uma garota deve fazer para entregar o telefone - isto é, se o imbecil não pedir o seu telefone - em? Simples! Você tem uma loja de artigos musicais e vai rolar uma promoção essa semana, seguida de um sorteio de palhetas. É tiro e queda: onde tem palheta de graça, tem guitarrista.

Pois é, Danny pegou meu cartão e fez questão de me dar o número dele. Eu penso que foi pelo sexo gostoso, mas algumas amigas juram de pés juntos que foram as palhetas.

A pergunta agora é: o que fazer quando você tem o número e ele também? Liga? Não liga? Desencana? Não dá bola?

Olha, no meu caso, o cara tirou to-das às teias de aranha em um raio de 900 Km ao redor da periquita, então, eu não fiz questão de ignorá-lo na minha listinha de "pessoas que encontrei no consultório e peguei depois".

O que restou como dúvida foi: ligar ou esperar? Esperei. No dia seguinte ele estava lá, ligando, para perguntar sobre as palhetas e a competição da loja de instrumentos, mas isso foi irrelevante, afinal, ele ligou.

O terceiro passo flui. Marque um encontro.

Você está no telefone: a loja não era sua, você sente muito, a sua voz no telefone está chorando sem parar e a porcaria de Secretaria das Lojas de Artigos Musicas fechou o estabelecimento, que na verdade era de sua mãe, por falta/excesso de palhetas consumidas no interior do negócio.

Você deve estar se perguntando se essa desculpa toda cola. Olha, comigo colou. Não sei se você costuma se interessar por Jones (leia-se lerdos, sem noção, bobos, parados, caras devagar), mas como o meu era o próprio, não teve erro. Agi como vítima, fingi um choro e fui consolada pelo fechamento da loja de artigos musicais. É a lei, amiga: ação e reação.

- Posso passar aí amanhã? - ele disse.

- Não sei. - eu respondi sabiamente.

- É que eu queria mesmo saber mais sobre as palhetas. - ele rebateu, demonstrando estar na super afim de mim, embora amiga continuem dizendo que o centro das atenções fossem as malditas palhetas.

- Tudo bem. - eu respondi despretensiosamente.

- Então até amanhã. - ele desligou. Eu ri com malícia, comemorei dando um grito e deitei pra trás na cama, esquecendo que estava na ponta do colchão. Cair faz parte da vida, e eu me espatifei.

O quarto passo é bem legal. Você finge que não está afim.

Resolvi usar algo menos "sou uma piranha devoradora de homens", já que queria mostrar elegância e fingir tristeza pelo fechamento da loja, mas acho que exagerei indo com um véu preto, um vestido preto, uma meia-calça preta e um sapato, adivinha? Não, não era preto, vermelho.

- Está tudo bem com você?

Olha só como ele é fofo, gente. Eu estava com roupa de luto, segurando um lenço, fingindo chorar, soluçando entre tremeliques e ele teve a sensibilidade (ironia bem aqui) de perguntar se eu estava bem. O que é que se responde para um guitarrista bi-comedor-profissional nessas horas?

- Acho que sim.

Pois é, eu resolvi bancar a espertinha. Respondi que estava bem e desmanchei a usar meu poder de "fui à melhor aluna no teatro do colégio", chorando sem parar. Ganhei um abraço e um beijinho, foi tão... bi. Mas eu relevei, mentindo sentir calor e tirando o véu, a parte de cima do vestido e desprendendo o cabelo. Tcharam, me senti a mulher maravilha/ com ênfase em garota nota 10 da escolinha do Professor Raimundo - Sim, eu sou velha e com tendência a piadas anos 90, beijos.

Foi bem legal ver a reação. Uma boa dica é usar roupa a mais e tirar tudo quando ele menos espera. Tudo bem que no meu caso fiz isso no restaurante, o que é super brega, mas ele encarou meus peitos com o mesmo amor que eu esperava.

Conversa vai, conversa vem, falei pra ele que minha avó por parte paterna, de terceiro grau, que morava na Groelândia (por que todo mundo usa a Groelândia? Alguém aqui conhece a Groelândia? E porque tenho a sensação de já ter ouvido essa piada com o Rafinha Bastos?) tinha morrido. Ele ficou com pena é claro, então expliquei que não estava com as palhetas, mas que no testamento minha avó deixou tudo para o meu pai que era casado com minha mãe, que era dona da loja de equipamentos, que acabou sendo fechada para que eles viajassem.

Danny ficou decepcionado e perguntou como andava o processo de regulamentação das palhetas. Eu disse que estava tudo nas mãos do advogado da minha avó da Groelândia, mas como ela havia morrido e teria papéis para serem arrumados, demoraria uns três ou quatro dias para liberar a venda.

Vi os olhos dele brilharem – acho que foi porque toquei meu colo suavemente naquela hora, dando ênfase nos mamilos acesos, mas algumas amigas juram que foi pela regulamentação das palhetas - e conversamos um pouco mais, sobre... a maravilha das palhetas em um mundo globalizado, no século da evolução digital.

Detalhe, enquanto você conversar sobre assuntos aleatórios com um cara (só pra fazer ele entrar na sua e virar um cachorrinho), preste atenção nos olhos dele (mesmo que de mentira) ao mesmo tempo em que mexe seu corpo com métodos extremamente sensuais, devagar e sempre. Ele vai começar a babar e ficar excitadinho, é claro.

Quando percebi que Danny estava no ponto que eu queria (olhando meu corpo com vontade de devorá-lo, comendo biscoitos de chocolate sem parar, de tanta ansiedade), pedi para me levar em casa. O cara pensou que entraria no meu quarto, é claro, mas parou na portaria.

- Tenho que fazer um ritual para a minha avó e é algo de família, extremamente sigiloso.

Ele respondeu com um "aham" achando que eu era uma bruxa ou coisa do tipo. A dica é: deixe ele pensar que você é perigosa.

Depois disso, eu falei baixinho que para ele eu poderia contar a coisa sigilosa, já que me ajudou em um momento tão difícil de perda; e deixei que o cara pensasse que era algo muito ridículo, quando baixei o tom de voz e encostei os lábios em seu ouvido, sussurrando:

- No ritual ficam apenas mulheres, só de calcinha, com os olhos fechados em frente a uma caixa de suspiros com morango e creme de leite, sem dar nenhuma mordidinha no doce, ou misturar os ingredientes.

Tiro e queda. Subi as escadas sem nem ao menos me despedir e deixei o gato de boca aberta, tendo milhões de fantasias e taras.

Dica: descubra a sobremesa favorita do cara com quem estiver saindo e invente um ritual idiota qualquer em que as mulheres ficam apenas de calcinha.

O quinto passo, depois de deixar o cara na vontade é: deixar o cara na vontade, mais uma vez.

Mas esse você só confere se comprar o segundo fascículo: acha que vou contar minhas experiências em um Manual de uma edição e perder dinheiro? Nem pensar! – Aliás, se você for um cara, se cuida, porque está no passo quatro: ficar na vontade.


Planos Impossíveis



Ouça a música tema da fiction clicando aqui


Se eu não fosse assim tão adolescente... Mas é inevitável idealizar uma paixão e um amor quando se fala e se vive sem emoções e sentimentos. A sensibilidade é, de longe, o sentimento, ou ainda, a emoção, mais gratificante para uma pessoa como eu. O que sentir diante da distância? O que sentir quando depositamos esperança em um amor? O que sentir quando perdemos tudo?
Às vezes me pergunto se percebi que estava apaixonada quando ele foi chamado. Você já viveu a tensão de ver o grande amor da sua vida ir para a guerra? É um sentimento inexplicável de enfrentar a morte, colocar uma arma engatilhada nas mãos de uma criança e esperar. Esperar. Esperar.
Meu coração estava completamente apertado, sem a menor capacidade de bater em qualquer ritmo que fosse, por pane, por medo, por emoção em excesso. Quem eu era e o que eu queria não significava nada. Ele seria mais uma estatística, mais um número nos jornais, mais um soldado na guerra. Mas e eu? Quem eu seria? O que eu significaria?
Deus, como foi difícil suportar aquela tortura, aquela inegável maldição que haviam lançado sobre minha vida. Era como se a cada segundo, o grau de tensão em meus músculos acumulassem.
E como eu poderia sobreviver em um filme de suspense? Se ao menos fosse uma escolha, se houvesse um motivo justo, mas não, era uma imposição, uma limitação burocrática e infame em nossas vidas.
Eu olhei para o rosto jovial e tranquilo de Peter, assim que ele se aproximou. Estávamos calados na sala. Lembro-me exatamente do momento. Era a nossa despedida. Uma garota de 16 anos e um garoto de 19. Quem, por Deus, imaginaria que eu estava prestes a passar os dias mais angustiantes de toda a minha existência?
Aquele menino que tinha cabelos compridos, com uma cor estranha, um sorriso no rosto, tênis coloridos, agora era o homem fardado, de cabeça raspada e feição fechada. Não era o meu Peter ali. O que haviam feito com o meu Peter? Eu queria ver aquele rostinho que sorria na webcam, fazendo um coração com as mãos e cantando um trecho qualquer de uma música da banda que eu adorava. Apenas um momento assim, simples, mas nem isso eu tinha direito de pedir.
Será que eles pensaram, por um segundo, nas vidas que muitas e muitas famílias perderiam por uma guerra que não era nossa? Por uma guerra que era deles? E daí que o mundo estava saindo para as ruas? E daí que ele havia sido chamado para aquela maldita guerra? Eu não queria. Não podia aceitar que Peter, simplesmente se fosse e entregasse a vida por um ideal que era absolutamente ridículo. Qual a inteligência em tirar a vida de alguém que não tem seu sangue ou não fala sua língua?
Pensar que ele conheceria o gosto amargo de tirar a vida de um, dois ou diversos estranhos.
Ele partiu e eu fiquei. Depois de um abraço longo, de um coração apertadinho, de uma lágrima que era teimosa em demonstrar que por dentro de mim não havia mais que angústia, destruição e tortura. Essa era a minha guerra interior, o meu momento de desabar e ter todo o fluxo de pensamento convertido em desespero. Lembro que senti uma vertigem e quase desmaiei.
Existem tantos momentos em que fico pensando nele, nos motivos que me levaram a querer passar toda a vida ao seu lado. O jeito de menino travesso, os olhos profundos que invadiam minha alma, o carinho besta que me fazia sentir a garota mais feliz do universo.
Sentávamos e ele dedilhava uma canção qualquer no violão, enquanto minha voz cantava uma letra nova baixinho, acompanhando o momento em que dividíamos nossas artes. Se ele soubesse que eu poderia escrever mil canções para ele, usando temas tão clichês e tão encantadores, como aqueles olhos profundos.
Uma vez disse a Peter que os olhos dele me lembravam um poço profundo, um lugar escuro e inabitado, as profundezas das profundezas. Ele riu. Fez uma brincadeira qualquer com um filme e me abraçou. Mas era verdade. Eu realmente me perdia em seus olhos, mergulhava em uma escuridão profunda e infinita, que não era uma escuridão ruim. Era como deitar em uma cama macia e aconchegante, no escuro, e esperar que uma surpresa boa chegasse a qualquer momento para te fazer soltar um grito de espanto e felicidade. A reação de olhar para aqueles olhos era essa. Um espanto bom. Um momento oportunamente maravilhoso.
A falta dele era tão grande e tão intensa. O pouco de sobriedade que restava em mim ia por água abaixo toda vez que pensava nele naquele campo gigantesco, correndo de alguém, enfrentando pessoas como ele: sem escolhas. Pessoas que defendiam um falso moralismo e diziam amar sua pátria descarregando metralhadoras em gente comum, simples, amada, esperada, querida, como o meu Peter.
O que eu devia sentir? O que eu devia falar?
Foi nesse momento de desespero que me entreguei ao choro profundo e iniciei o meu martírio. Fiz planos e mais planos, elaborando com minuciosidade uma maneira de estar ao lado dele. De lutar com ele, se fosse necessário.
Talvez se eu fizesse como a Mulan ou como um dos personagens de Graciliano Ramos, quem sabe eu não pudesse estar na guerra para protegê-lo? Quem sabe se eu fizesse algo grande e chamativo, como uma passeata a nível mundial com as mulheres que tinham seus homens naquela batalha, se eu mostrasse que éramos iguais e estávamos unidas, será que não acabaria? Será que eu o veria?
E se eu pedisse para Deus fazer um milagre e o trazer de volta? E se eu me infiltrasse nas equipes de jornalismo e conseguisse me aproximar dos locais de filmagem, encontrar com ele em algum acampamento?
Eu só precisava de um abraço e das minhas palavras de saudade saindo da boca com muita intensidade. Eu precisava de uma esperança. Eram planos impossíveis, eram ideias loucas e, meu Deus, eu podia jurar que uma delas daria certo, que eu pararia o mundo com a força dos meus sentimentos.
Gosto tanto dele. E me perguntava quando conseguiria vê-lo novamente ao meu lado. Não aguentava mais ficar longe. Já fazia uma semana. Tem ideia do que são sete dias? Pois para mim foi mais que o tempo da criação do mundo, foi tempo da destruição do meu coração.
Notícias de mortes e perdas bombardeavam a TV. Era o fim dos tempos e ele estava lá, tão longe de mim.
Talvez Deus tenha ouvido minhas preces e recebemos uma chamada, era a melhor transmissão de vídeo de minha vida. Ele estava lá, com uma imagem completamente falha, em um lugar tão sujo, tão maltratado. Tinha sangue na roupa, tinha sujeira no rosto inchado. Eu não me contive diante daquela transmissão.
Ele chamou por meu nome e eu estava lá. Tive que dizer que eu o queria por perto, que a saudade era cada vez maior, que meu peito estava acelerado e louco. Que eu gostava tanto dele.
- Me diz, quando a gente vai se ver? Eu não aguento mais ficar tão longe de você!
Perguntava-me se já havia me sentido daquela maneira, ou com aquele desejo de tê-lo por perto. Jamais. Ninguém além dele.
Os lábios de Peter eram rápidos e falavam em um compasso de medo. Eu sentia o medo ali, invadindo nossa casa com aquela transmissão clandestina. Meu sorriso voltou por poucos segundos quando ele disse que não parava de pensar em mim também. Disse que não estava bem, que precisava de mim. Que me queria forte, que precisava da minha força.
E eu enxuguei as lágrimas, pois meu Peter estava vivo e me queria por perto.
Lembrei-me, enquanto ele falava com a mãe, do momento em que nos conhecemos, da maneira como começamos a conversar, dos dias felizes que passamos juntos, das expectativas que ele criava com a faculdade, dos abraços longos. Foram flashes do sorriso dele em minha vida. Eu queria saber onde estava aquele sorriso. Queria saber onde ele havia colocado aquela felicidade toda e sentia que estava em mim. Ele reservou toda a esperança na imagem que criou de pessoas que jamais o abandonariam.
Lembro-me, como se fosse hoje, da notícia que mais esperei em toda a minha vida. A notícia que eu mais desejei em toda a existência. Mas também me lembro do que veio com a manchete do fim daquela guerra.
Peter voltou para casa no dia 26 de julho de 2016.
Recebeu a menção honrosa de sua pátria. Recebeu o luto e a dor de sua família. Mas antes havia recebido um tiro logo abaixo dos pulmões, quando estava próximo aos campos da Itália, permanecendo internado e perdendo a vida a caminho do Brasil.
Peter era um garoto cheio de sonhos e ilusões. Cheio de planos impossíveis. Cheio de amor.
No peito, ele trazia uma medalha e a esperança de agradecer a energia do amor que sentia a milhas e milhas de distância.


N/A: Ouvi a música e quis fazer algo assim, imaginei as imagens do clipe do Green Day, bem tenso misturar Gavassi e Green Day, hahaha mas eu sou assim.
Cara, sem preconceitos, a guria canta bem bonitinho, quase comprei o CD, mas acabei baixando. Indico Quatro Notas. Eu gostei de escrever essa fic, não é o meu melhor, but, foi o que veio na hora.
Acessem o blog: http://reinacoesmultiplas.blogspot.com e vejam mais fictions minhas, opiniões e putaria /tá parei.
Beijos.

Glee Session 1: Matthew x Chord



Matt Morrison me esperava na porta da sala de gravações, era habitual que permanecesse ali antes de gravarmos.

-Preparado para arrasar? - eu disse sorrindo e dei um beijo em seu rosto, com um humor de sexta-feira à tarde, acompanhado de um forte abraço.

-Você está linda!

-Você é gentil.

Ele riu e entramos na sala. Matt aproveitou para conversar com quem estava por perto e pedir melhores detalhes, nosso diretor estava chegando e logo começaríamos o ensaio. Coloquei meu fone e estava tocando Toxic, fiquei ouvindo e cantando baixinho. Meu baixinho na verdade era bem audível, já que o fone estava alto. Matt estava naquela música e a voz era, definitivamente, sexy. Fiz o mesmo tipo de tom, com um timbre suave.

Matt parou de olhar os papéis que tinha na mão e deu atenção a mim.

Baby can't see... dangerous... scape... I need...

Eu sorria enquanto embalava o corpo conforme a melodia de minha voz. Ele retribuiu o sorriso e cantou também. Fiz um sinal de ok para o programador que soltou o som em volume bacana, Matt ouvia a música e fazia o refrão comigo, enquanto eu o encorajava a dançar para mim.

Quando o diretor chegou estávamos empolgados cantando e assim que a música acabou eu caí na gargalhada, me segurando em Matt. Ele me olhou com aquele sorriso demolidor de neurônios racionais e logo alguém colocou Sway para tocar, eu e Matt rimos e nos abraçamos, ele não evitou me fazer dançar com ele. Achei engraçado e pretendia dizer alguma coisa para ele, rindo, quando vi que os olhos dele estavam em um formato mais... encantado, olhando para mim enquanto ele cantava acompanhando a letra da música. Nossos corpos estavam embalados e o espaço era pequeno.

Nosso diretor nem fazia parte de minha mente e quando percebi havíamos dançado toda a música e alguns olhos especuladores nos aplaudiam ao lado do diretor. Mark e Lea, sorrindo.

Fiquei vermelha e Matt soltou uma boa risada, segurando meu corpo perto do seu e com carinho depositou um beijo em meu rosto.

-Era isso o que eu procurava!

Jack falou e eu não entendi, mas usei o pretexto para me separar de Matt devagar.

-Procurava o que querido? - eu disse e me aproximei de meu chefe, abraçando-o pelos ombros.

-Um novo casal para Glee.

Olhei espantada para Matt que me devolveu o espanto com graça.

-Sério? - ele perguntou.

-Vocês têm química, seria genial!

Lea soltou uma gargalhada e abraçou o namorado.

-Ele disse a mesma coisa pra gente.

Fuzilei-a com os olhos e vi uma carinha de "deixa eu sair daqui antes de morrer".

-Vamos gravar ok? - eu estava bem intranquila com aquela situação.

Óbvio que eu tinha a senhora queda por aquele homem, mas a intenção era guardar isso pra mim e ficar na minha.

-Como você pretende colocar isso na trama, Jack? - Matt preocupado com a parte prática e eu querendo fugir da situação.

-Surpresa.

Matt me encarou e ergueu a sobrancelha sorrindo.

-Vai ser divertido. - Fiquei com as bochechas ardendo imaginando besteiras bem divertidas com ele.

-Vamos? - eu disse me atropelando até o microfone.

Faríamos uma versão de Estoy Enamorado de Wisin y Yandel, um episódio latino.

Ok, se a situação estava tensa, quando aquele cara abriu a boca e começou a cantar no embalo de Estoy Enamorado, eu quase caí dura. Ele fazia o favor de dançar loucamente enquanto cantava, e aquele corpo, meu deus do céu, era um pedaço de mal caminho. Fiquei pasma, abri a boca igual uma idiota, vendo ele. Lea se limitava a rir muito. Ela e Mark fariam o back comigo.

Como a gravação é em camadas e cada um faz sua parte separadamente, chegou minha vez de gravar. Eis que não resisti e provoquei, afinal, se ele tinha o swing, eu era uma típica latina sensual.

Quisera estar siempre a tu lado, fujir de todo el mal

de tu cuerpo me he esclavo

y creo que he te demonstrado que

estoy enamorado

te lo quiero confesar...

Na parte da rumpa, aproveitei pra soltar a parte adormecida em mim desde que havia me mudado para os Estados Unidos.

-Você foi incrível.

-Não tanto quanto você, querido. - eu disse e já ia saindo da sala, quando senti meu braço ser segurado.

-Lenah. - nos olhamos - eu gostei de te conhecer.

Eu é que havia adorado conhecer aquela oitava maravilha do mundo, não tinha o que dizer, Matt estava caidinho e ao mesmo tempo estava super sedutor. Ele tocou meu rosto, acariciou mina bochecha e olhou bem nos meus olhos. Quase tive uma pane total, decretando que eu estava entregue, ferradinha. Quando Chord apareceu na porta do estúdio.

-Leninha, eu... - ele olhou para nós dois e eu me afastei de Matt rapidamente - não queria interromper. - Ele falou impressionado,estava de saída.

-Não, imagina, espera. Você queria... - encorajei ele.

-Estou com suas falas, pensei que a gente poderia estudar, juntos.

-Eu vou com você meu bem. - Olhei para Matt que não desgrudou os olhos de mim nem um instante, percebi que nem mesmo as mãos haviam se afastado na verdade. Quando nossos olhos se encontraram de novo senti o nó na garganta pela primeira vez. - Conversamos depois Matt.

Eu disse despretensiosamente, mas ele não agiu como eu imaginei, me soltando e deixando eu ir com Chord.

-Te pego no hotel às oito? - fiquei engasgada e olhei para Chord, ele olhou para o chão e coçou a cabeça. Eu comentei que estou saindo com ele às escondidas? Pois é.

-É... eu... bem... tudo bem. - eu disse em um tom de amizade e olhei para Matt, que agora olhava Chord.

-A não ser que você tenha algum compromisso. - ele disse com a sobrancelha arqueada. Mas que grande porra de vida, quando não tem, não tem, quando tem, ula-la, tem os melhores e em dobro!

-Por mim tudo bem Leninha. - Chord disse, sem se preocupar em esconder que estava comigo, se bem que nem eu, nem ele tínhamos nenhuma certeza.

Posso dizer que eu saí daquela sala sem saber onde esconder a cabeça?

-Vocês estão juntos? - em pensar que o que eu mais gostava naquele loirinho eram a sinceridade e o jeito direto. Agora eu pagava com meu supremo gosto.

-Não tem nada a ver Chord. Só estamos...

-Estão?

-Nós precisávamos gravar a música, não tem nada demais.

-Lenah, eu não sou idiota.

Parei de mexer nos papéis do texto e me rendi, olhando para ele e respirando bem fundo.

-Eu acho que vamos fazer par a partir de agora e...

-Dentro ou fora da trama? Não me importo com seu trabalho, sei que é profissional.

Eu estava sem chão. Não fazia nem um mês que eu e Chord saiamos todas as quartas e domingos, quando tínhamos folgas conjuntas.

-Não sei o que estou sentindo. - eu precisei ser verdadeira, ele sempre foi. - eu quero muito ficar com você, me sinto bem e me sinto segura.

-Eu também quero você. - aquilo me fez esquentar loucamente, eu não conseguia segurar a pressão diante de uma coisa daquelas se declarando pra mim, mas o pior era pensar que naquele mesmo dia o cara mais lindo da face do planeta Terra estaria bem em frente ao meu prédio, esperando por mim. - e te deixo um tempo pra pensar, se tem alguma dúvida do que eu sinto ou mesmo do que você sente.

Não é pra beijar uma coisinha dessas até ele morrer?

-Chord, eu...

-Não precisa se explicar vamos trabalhar, de boa. - ele sorriu de lado.

-Você é incrível. - dei um belo de um beijo nele, não resisti, tinha que fazer aquilo ao vivo e a cores, ou ficaria com peso na consciência. Mas, como sempre, esqueci do pequenino detalhe de que ele beija muito, muito, muito, bem e gostoso.

Lea estava de queixo caído ao lado de Cory, sem saber o que falar, apenas balbuciava olhando pra gente, que não via nada, nem ninguém. Ela apontou pra nós e falou com cara de confusão:

-Aquilo é um ensaio? - Cory riu e disse:

-Um beijo de amigos, relaxa. - e continuou fazendo o que fazia.

Cheguei em casa com o coração na mão, sem saber se eu não prestava mesmo, ou se era foda demais.

Chord era tão fofo, tão certinho, tão integro, tão, tão... homem pra casar!

Mas o Matt, meu deus. Aquele era o tipo de embrulho que colocam no portão com um laço vermelho, bem chamativo e você não sabe o que tem dentro, mas quer muito abrir a caixa, arrancar a fita e se surpreender. Eu estava em um impasse.

Se bem que sendo fofo eu tinha meu favorito, e sendo sexy também. Cara, o que era o Matt dançando? Ele tinha um Justin Timberlake versão 1000000000..., era o turbo do turbo.

Minha campainha tocou e eu já estava pronta. Um modelo preto, básico do básico, acima do joelho, com um decote nada avantajado, um colarzinho de prata combinando com os demais acessórios, cabelo alto, cachos soltos. Respirei fundo e abri a porta com um sorriso grande demais.

-Oi! - eu disse desajeitada. Matt olhou de cima abaixo e percebi um buque de violetas em sua mão.

-Uau! - foi só o que ele disse.

-Entre, por favor. - ele estendeu as flores.

-São pra você, mas tenho vergonha de não entregar algo a altura.

-Ora Matt, não seja bobo - eu peguei as flores e me aproximei para lhe dar um beijo no rosto. Ele fechou os olhos afundando a cabeça em meu pescoço e me fazendo arrepiar, ao segurar minha cintura.

-Seu perfume é muito mais gostoso que o perfume de qualquer flor.

Afastei o homem dali antes que eu mostrasse pra ele que conseguia muito bem ficar sem cheiro nenhum, loucamente suada em cima dele, e tentando de todas as maneiras não pensar que estávamos sozinhos na minha casa.

-Eu agradeço, você está muito bem e igualmente perfumadíssimo. - ok, dá um desconto, eu não sabia o que dizer.

Matt caiu na gargalhada e segurou meus braços com delicadeza, me dando um celinho (e me fazendo perder o chão).

-Você fica linda quando está tímida. - então ele ficou sério - embora esse seja apenas um pretexto para dizer que você é excepcional em qualquer circunstância.

Ok, como tirar aqueles olhos dos meus? E como tirar os olhos dos dele sem que fosse desmaiando?

Matt é mais rápido do que eu imaginava, segurou minha nuca e me levou ao encontro dos seus lábios. Preciso dizer que meu pequeno corpo teve um colapso nervoso e eu me agarrei ao pescoço dele, puxando os cabelos dele desesperadamente e passeando a língua rapidamente pela dele, mordiscando o lábio inferior e o superior, beijando profundamente, sugando os lábios e soltando leves gemidos que não havia me dado conta até ele passar a mão da minha cintura para minha bunda, com um som gutural - de um homem que quer devorar uma mulher. Tentei me livrar do beijo e recuperar o raciocínio lógico, mas ele afundou em um beijo mais devagar e suculento, que se eu deixasse era por ser uma eterna viada.

Fiz um som de "que delícia" gemendo, e juro que foi sem querer, eu penso alto demais. Matt parou o beijo para respirarmos, e me apertou em seus braços, falando com a boca colada na minha.

-Você me deixa louco.

Minha vontade de dizer "deu pra perceber", mas não tive forças pra dizer qualquer coisa. Eu queria me deitar e dormir, tamanho o cansaço que ele me deu. Vendo que eu estava hipnotizada e que as flores haviam amassado, Matt riu e colocou-as em cima da mesinha.

-Vamos a uma discoteca. - "discoteca"? Gente que brega, detalhe que não era um convite, era uma imposição.

-Uma... discoteca? - pensando pelo ângulo de que nós iríamos a um lugar para dançar, eu quase tive um infarto.

-Se preferir podemos jantar em um lugar mais...

-Quero a discoteca. - eu disse nos braços dele, me sentindo em casa. Matt sorriu e beijou minha boca em um selinho. Usei meu olhar sedutor pela primeira vez com ele.

-Humm. - ele respondeu com um som de quem aprovou.

-O que acha de irmos mais tarde? - arqueei a sobrancelha e o cara quase desmaiou, perdendo as forças nas pernas quando subi minha coxa entre o meio das dele. visivelmente afetado pela insegurança em ser pego de surpresa, Matt arqueou a cabeça para trás, soltando um leve gemido e olhando novamente para mim com o seu olhar mortífero (que me dava medo e prazer ao mesmo tempo).

-Tem certeza?

Limitei-me a encostar minha boca de seu pescoço e mordiscar bem devagar, quando notei os pelos eriçados respondi em um sussurro no ouvido.

-Aham.

Matt enroscou a mão em meus cabelos e puxou pouco a pouco, enquanto saboreava meus lábios, com toda a paciência do mundo.

Já parou pra pensar como uma escritora?


"Hoje vou criar uma personagem e amanhã vou dominar o mundo (gargalhada fatal)".
Pois é, eu já pensei.



Há diversas garotas que pensam em escrever fanfictions para serem populares na internet, vendo que meia dúzia de nomes se destacam e ganham seguidores, cinco milhões de comentários por dia, prêmios em barra de ouro e estrelinha dourada da professora.
Eis que, escrever por escrever é um exercício bem interessante de ser feito: em casa, como treinamento, sendo postado no seu blog, para que seus melhores amigos e sua mãe leiam, além de sua professora de português.
Sendo curta e grossa: se você busca sucesso e não escreve bem, guarde a fiction e tente outro ramo.
Desculpem-me as esperançosas, mas escrever bem não é para todos. É necessário esforço para conseguir alcançar um patamar aceitável de linguagem, mas é necessário ainda mais esforço para que a história saia do feijão com arroz, tendo alguma relevância. A prática da escrita pode ajudar, sim, contudo, isso não quer dizer que, escrevendo e enviando fictions a todo vapor, sua história seja realmente decente para ser lida.

Certa vez, eu que costumo caçar histórias desconhecidas com bons títulos ou descrições, encontrei uma chamada Smile. Não sei em qual site, nem de qual autora, mas sei que eu estava no clima de "sorriso do Poynter", logo, fazia questão em ler uma história com título assim. Até aí, tudo bem. Depois, li a descrição da história e fiquei feliz, um tema diferente: a gordinha que era melhor amiga do cara, sem receber atenção dele. (Não se pode negar que é bacana, quando se é/foi/vai ser uma gordinha).
Comecei a ler a primeira linha e quase tive um colapso nervoso. A história não tinha erros, era bem betada, tinha comentários, mas só podia ter sido escrita por uma criança de cinco a oito anos.
Vamos deixar claro que o bom português é uma balela, ok? Escrever bem não é escrever apenas corretamente. O que me interessa em uma fiction é, por excelência, o conteúdo. Nem digo o tema, porque sou eclética até nisso. Aliás, escrevo desde um conto de fadas até uma série de terror, se for preciso.

Uma dica para você que realmente sonha em escrever fictions e ganhar projeção; ter seu espaço entre as autoras e ganhar reconhecimento com esse hobby; ganhar comentários dignos que ultrapassem o famoso "quero atualização" é:
Fazer de sua escrita algo especial, antes de tudo, para você mesmo.
Ler muito, de tudo, principalmente sobre aquilo que você gosta. (Não apenas aquilo que gosta, mas SOBRE aquilo que gosta. Notou a diferença?).
Escrever, reler, reescrever, reler.
Revisar é a palavra. Releia quantas vezes forem necessárias e desnecessárias.
Procure erros naquilo que escreve, depois de tempos que tenha escrito e reescreva.
Quando escrever e reler, acrescente detalhes ao seu texto. A porta é azul? Então escreva que a porta tem mais ou menos 2 m, cor azul, com falha perto da maçaneta, que é dourada, e tem uma chave em formato retangular pendurada em um prego fincado no meio da tábua. Ou seja, expanda a sua visão do ambiente.
Não deixe de dar características, mas não exagere nelas. Li uma fiction que só descrevia e não tinha ação ou pensamentos. Parei no terceiro capítulo e o máximo que aconteceu foi a guria atravessar a rua.

Seu personagem tem vida (fictícia)? Então demonstre. Dê sentimentos a ele, dê reações, dê pensamentos, dê intenções.
Experimente descrever a mesma coisa sob olhos distintos, isso ajuda a caracterizar personagens. Funciona como uma mesma notícia em jornais diferentes.
Menino tem pipi. Menina tem pombinha. Então demonstre isso na escrita e não deixe um personagem masculino, que seja heterossexual, com pensamentos femininos. Pense como um homem quando for necessário (eu sei que a sensação é cretina, mulherenga e insensível, mas vale a pena).
Dê lugar para pessoas normais e procure não escrever sempre meninas ricas, ou sempre meninas revoltadas, ou sempre meninas que se destacam pela beleza, ou sempre meninas que tem uma melhor amiga. Procure inovar. Tente escrever na primeira pessoa, com um personagem masculino, por exemplo.

Procure desafios. Se sua área é comédia, escreva terror. Se sua área é romance, tente um drama.
O importante mesmo é que você não mate uma beta ou uma leitora com uma história mal feita, só para dizer que escreveu e pedir comentários.
Escrever não é dom, é esforço. Criatividade não é dom, é informação. Inspiração não existe, existem momentos & momentos.
Quando você chegar ao ponto de escrever algo tão bom que nem acredita que é seu, aí sim, você chegou ao nível que interessa: informação e dedicação na medida certa.