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Se eu não fosse assim tão adolescente... Mas é inevitável idealizar uma paixão e um amor quando se fala e se vive sem emoções e sentimentos. A sensibilidade é, de longe, o sentimento, ou ainda, a emoção, mais gratificante para uma pessoa como eu. O que sentir diante da distância? O que sentir quando depositamos esperança em um amor? O que sentir quando perdemos tudo?
Às vezes me pergunto se percebi que estava apaixonada quando ele foi chamado. Você já viveu a tensão de ver o grande amor da sua vida ir para a guerra? É um sentimento inexplicável de enfrentar a morte, colocar uma arma engatilhada nas mãos de uma criança e esperar. Esperar. Esperar.
Meu coração estava completamente apertado, sem a menor capacidade de bater em qualquer ritmo que fosse, por pane, por medo, por emoção em excesso. Quem eu era e o que eu queria não significava nada. Ele seria mais uma estatística, mais um número nos jornais, mais um soldado na guerra. Mas e eu? Quem eu seria? O que eu significaria?
Deus, como foi difícil suportar aquela tortura, aquela inegável maldição que haviam lançado sobre minha vida. Era como se a cada segundo, o grau de tensão em meus músculos acumulassem.
E como eu poderia sobreviver em um filme de suspense? Se ao menos fosse uma escolha, se houvesse um motivo justo, mas não, era uma imposição, uma limitação burocrática e infame em nossas vidas.
Eu olhei para o rosto jovial e tranquilo de Peter, assim que ele se aproximou. Estávamos calados na sala. Lembro-me exatamente do momento. Era a nossa despedida. Uma garota de 16 anos e um garoto de 19. Quem, por Deus, imaginaria que eu estava prestes a passar os dias mais angustiantes de toda a minha existência?
Aquele menino que tinha cabelos compridos, com uma cor estranha, um sorriso no rosto, tênis coloridos, agora era o homem fardado, de cabeça raspada e feição fechada. Não era o meu Peter ali. O que haviam feito com o meu Peter? Eu queria ver aquele rostinho que sorria na webcam, fazendo um coração com as mãos e cantando um trecho qualquer de uma música da banda que eu adorava. Apenas um momento assim, simples, mas nem isso eu tinha direito de pedir.
Será que eles pensaram, por um segundo, nas vidas que muitas e muitas famílias perderiam por uma guerra que não era nossa? Por uma guerra que era deles? E daí que o mundo estava saindo para as ruas? E daí que ele havia sido chamado para aquela maldita guerra? Eu não queria. Não podia aceitar que Peter, simplesmente se fosse e entregasse a vida por um ideal que era absolutamente ridículo. Qual a inteligência em tirar a vida de alguém que não tem seu sangue ou não fala sua língua?
Pensar que ele conheceria o gosto amargo de tirar a vida de um, dois ou diversos estranhos.
Ele partiu e eu fiquei. Depois de um abraço longo, de um coração apertadinho, de uma lágrima que era teimosa em demonstrar que por dentro de mim não havia mais que angústia, destruição e tortura. Essa era a minha guerra interior, o meu momento de desabar e ter todo o fluxo de pensamento convertido em desespero. Lembro que senti uma vertigem e quase desmaiei.
Existem tantos momentos em que fico pensando nele, nos motivos que me levaram a querer passar toda a vida ao seu lado. O jeito de menino travesso, os olhos profundos que invadiam minha alma, o carinho besta que me fazia sentir a garota mais feliz do universo.
Sentávamos e ele dedilhava uma canção qualquer no violão, enquanto minha voz cantava uma letra nova baixinho, acompanhando o momento em que dividíamos nossas artes. Se ele soubesse que eu poderia escrever mil canções para ele, usando temas tão clichês e tão encantadores, como aqueles olhos profundos.
Uma vez disse a Peter que os olhos dele me lembravam um poço profundo, um lugar escuro e inabitado, as profundezas das profundezas. Ele riu. Fez uma brincadeira qualquer com um filme e me abraçou. Mas era verdade. Eu realmente me perdia em seus olhos, mergulhava em uma escuridão profunda e infinita, que não era uma escuridão ruim. Era como deitar em uma cama macia e aconchegante, no escuro, e esperar que uma surpresa boa chegasse a qualquer momento para te fazer soltar um grito de espanto e felicidade. A reação de olhar para aqueles olhos era essa. Um espanto bom. Um momento oportunamente maravilhoso.
A falta dele era tão grande e tão intensa. O pouco de sobriedade que restava em mim ia por água abaixo toda vez que pensava nele naquele campo gigantesco, correndo de alguém, enfrentando pessoas como ele: sem escolhas. Pessoas que defendiam um falso moralismo e diziam amar sua pátria descarregando metralhadoras em gente comum, simples, amada, esperada, querida, como o meu Peter.
O que eu devia sentir? O que eu devia falar?
Foi nesse momento de desespero que me entreguei ao choro profundo e iniciei o meu martírio. Fiz planos e mais planos, elaborando com minuciosidade uma maneira de estar ao lado dele. De lutar com ele, se fosse necessário.
Talvez se eu fizesse como a Mulan ou como um dos personagens de Graciliano Ramos, quem sabe eu não pudesse estar na guerra para protegê-lo? Quem sabe se eu fizesse algo grande e chamativo, como uma passeata a nível mundial com as mulheres que tinham seus homens naquela batalha, se eu mostrasse que éramos iguais e estávamos unidas, será que não acabaria? Será que eu o veria?
E se eu pedisse para Deus fazer um milagre e o trazer de volta? E se eu me infiltrasse nas equipes de jornalismo e conseguisse me aproximar dos locais de filmagem, encontrar com ele em algum acampamento?
Eu só precisava de um abraço e das minhas palavras de saudade saindo da boca com muita intensidade. Eu precisava de uma esperança. Eram planos impossíveis, eram ideias loucas e, meu Deus, eu podia jurar que uma delas daria certo, que eu pararia o mundo com a força dos meus sentimentos.
Gosto tanto dele. E me perguntava quando conseguiria vê-lo novamente ao meu lado. Não aguentava mais ficar longe. Já fazia uma semana. Tem ideia do que são sete dias? Pois para mim foi mais que o tempo da criação do mundo, foi tempo da destruição do meu coração.
Notícias de mortes e perdas bombardeavam a TV. Era o fim dos tempos e ele estava lá, tão longe de mim.
Talvez Deus tenha ouvido minhas preces e recebemos uma chamada, era a melhor transmissão de vídeo de minha vida. Ele estava lá, com uma imagem completamente falha, em um lugar tão sujo, tão maltratado. Tinha sangue na roupa, tinha sujeira no rosto inchado. Eu não me contive diante daquela transmissão.
Ele chamou por meu nome e eu estava lá. Tive que dizer que eu o queria por perto, que a saudade era cada vez maior, que meu peito estava acelerado e louco. Que eu gostava tanto dele.
- Me diz, quando a gente vai se ver? Eu não aguento mais ficar tão longe de você!
Perguntava-me se já havia me sentido daquela maneira, ou com aquele desejo de tê-lo por perto. Jamais. Ninguém além dele.
Os lábios de Peter eram rápidos e falavam em um compasso de medo. Eu sentia o medo ali, invadindo nossa casa com aquela transmissão clandestina. Meu sorriso voltou por poucos segundos quando ele disse que não parava de pensar em mim também. Disse que não estava bem, que precisava de mim. Que me queria forte, que precisava da minha força.
E eu enxuguei as lágrimas, pois meu Peter estava vivo e me queria por perto.
Lembrei-me, enquanto ele falava com a mãe, do momento em que nos conhecemos, da maneira como começamos a conversar, dos dias felizes que passamos juntos, das expectativas que ele criava com a faculdade, dos abraços longos. Foram flashes do sorriso dele em minha vida. Eu queria saber onde estava aquele sorriso. Queria saber onde ele havia colocado aquela felicidade toda e sentia que estava em mim. Ele reservou toda a esperança na imagem que criou de pessoas que jamais o abandonariam.
Lembro-me, como se fosse hoje, da notícia que mais esperei em toda a minha vida. A notícia que eu mais desejei em toda a existência. Mas também me lembro do que veio com a manchete do fim daquela guerra.
Peter voltou para casa no dia 26 de julho de 2016.
Recebeu a menção honrosa de sua pátria. Recebeu o luto e a dor de sua família. Mas antes havia recebido um tiro logo abaixo dos pulmões, quando estava próximo aos campos da Itália, permanecendo internado e perdendo a vida a caminho do Brasil.
Peter era um garoto cheio de sonhos e ilusões. Cheio de planos impossíveis. Cheio de amor.
No peito, ele trazia uma medalha e a esperança de agradecer a energia do amor que sentia a milhas e milhas de distância.
N/A: Ouvi a música e quis fazer algo assim, imaginei as imagens do clipe do Green Day, bem tenso misturar Gavassi e Green Day, hahaha mas eu sou assim.
Cara, sem preconceitos, a guria canta bem bonitinho, quase comprei o CD, mas acabei baixando. Indico Quatro Notas. Eu gostei de escrever essa fic, não é o meu melhor, but, foi o que veio na hora.
Acessem o blog: http://reinacoesmultiplas.blogspot.com e vejam mais fictions minhas, opiniões e putaria /tá parei.
Beijos.
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