Estive andando pelo meu bairro. É engraçado como as cores brasileiras se fundem nas casas pré-fabricadas, sobradinhos coloridos, cachorros sem dono e ruas vazias - ou quase, já que era a hora das testemunhas de jeová fazerem seus trabalhos de disseminação da palavra. Mais engraçado é ver que essas cores são as cores que pintam meus sonhos latino-americanos, sem dinheiro no bolso; porque o que eu busco longe está do meu lado e sou eu. As ruas estreitas, recém asfaltadas, contam umas com calçadas e outras com a divisão do espaço junto aos carros, que hora ou outra passam na rua. Em minha mente vinha a palavra callejeros, e não sei bem porque um menino sentado no meio-fio e um homem suspeito saindo de um bar de vila me fizeram enfatizar a palavra no subconsciente. Estive ouvindo um som romântico e dançante, de origem meio argentina e meio mexicana, de uns homens interessantes que se diziam sem bandeira - sem barreiras, fronteiras ou pátria definida, já que a extensão de suas terras, basicamente, cobria o norte a sul latino americano. Nessas canções que soavam a meu ouvido, saídas de um par de fones pequenos de marca desconhecida, as letras eram indiferentes, já que os pensamentos pintados se relacionavam ao ambiente de reconhecimento e contemplação. O espaço infinito do céu, azul e repleto de nuvens brancas, com um sol a mostrar-se e esconder-se, fazia da paisagem, repleta de árvores e arbustos, um espaço tão meu quanto qualquer viela do Retiro. Eu já havia encontrado o meu lugar no mundo, já havia escolhido, entre todos, o meu espaço, e naquele momento o único que fazia era reaver em meu subconsciente alguns motivos mais para existir, contrapondo o ponto fixo que rodeava minha alma. O ponto fixo de desistir.