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Subject: Pois é, voltei
Date: Tue, 8 Jul 2008 23:35:39 +0000
Sim meu caro, resolvi voltar a escrever duras linhas. Resolvi enterrar meu cadáver poético, pois já não suporto em mim este odor fétido e pecaminoso.
Para que fique uma lembrança na memória. Apenas uma. O meu sepultamento, indigno de lágrimas e de lamentos. O corpo está frio, o dia está frio e a lua sumiu entre nuvens de fumaça. O que me resta amigo, senão um enterro infeliz?
Já presenciei enterros, muitos deles felizes. Grandes enterros! Não como o meu. Cadaver cru. Tempo sem graça. Nenhum testamento. Três exclamações, sendo uma com onomatopeia:
-Atchin!
-Saúde!
-Obrigada!
Eu disse, eu respondi, eu agradeci. Eu pessoa, eu verme, eu poetisa. Os poetas não são homens, nem bichos. São aquilo que eu fui, mas já não sou, porque morri. Defuntos não são nada, ou são? Bem, eu não sou!
Palavras ao vácuo, essas eram minhas palavras...
E como eu sofri, e quanto eu sofri! E para que? Para que sofrer? Agora meus olhos não abrem. Nem sequer tenho olhos. Me restam a indignação e a morte. Não, não. A morte não. Até esta abandona. Mata e foge.
Não fosse a velha companheira, nada me restaria. Velha companheira! Reencontrei a solidão. Solidão pós morte. Quase um privilégio.
Merda de palavras fragmentadas. Se eu vomitar, o som e a poética dos meus resíduos farão mais sentido do que elas.
Sim meu caro, novamente duras linhas.
Franci
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