Os olhos verdes estavam obscurecidos de desejo e
o corpo suava com o esforço físico absoluto do momento. Gerry sentia o mundo
girando e sabia que naquele momento era o dono de tudo. Bastava estar com ela
para saber. Senti-la, tocá-la. beijá-la eram sensações ainda mais preciosas,
absolutas, refletidas e estavam longe de serem ignoradas pelo mundo lá fora.
Os olhos castanhos da mulher estavam grudados nos
seus e ele não deixava de ouvir a voz dela, esganiçada, advertindo uma paixão
desenfreada. Algo que jamais havia lhe ocorrido, ainda menos em um espaço de
tempo tão curto. Lenah possuía mais do que ele poderia descrever, mais do que
poderia usufruir; e ele queria ela inteira. Completa, repleta, absoluta.
- Não consigo parar de te desejar. - dizia entre
beijos no pescoço moreno. - Vamos nos destruir nessa cama.
Ela o puxou para um beijo cheio e intenso,
desejando devorá-lo com os grossos lábios.
- Eu quero você, Gerry. Preciso de você com uma
vontade louca, não pare. Por favor, não pare.
E ele continuava, ainda mais embalado pelo
desejo, completamente torturado pela paixão que crescia em seu peito, cada vez
que tocava, respirava e sentia aquela mulher.
A brasileira. Sua. Tão linda, atrevida e
talentosa. Tão misteriosa e sedutora. Tão simples, tão mística. Sua, naquele
momento nada além daquela palavra fazia sentido. Sua Lenah.
Os corpos pareciam dançar em um baile de
sofrimento, prazer e tortura. Os olhos embaçados pelo momento, a boca seca e
desejosa. Beijos, muitos beijos. Lentos, rápidos, ternos, selvagens.
- Você me enlouquece Lenah, me deixa louco.
Foi o que disse antes de se perder dentro dela,
ao ouvir o grito de prazer que transmitia nitidamente o que estavam sentindo um
pelo outro. Minutos infinitos de uma viagem alucinante pelo vale da perdição.
Quem era aquela mulher e o que era capaz de fazer com ele? Perguntas que eram
respondidas entre gemidos e ritmos descompassados.
Quando os movimentos cessaram ele deixou o corpo
cair em cima dela, repousando a silhueta máscula bem aconchegada a dela.
- Não consigo mais me mover.
Seus lábios conseguiram dizer, esforçosamente,
depois de alguns minutos. Enquanto ela se limitava a respirar e deixar que a
energia fluísse absolutamente de seu corpo para o dele e do dele para o dela.
Gerry estava ali, colado a seu corpo, com os batimentos acalmando-se passo a
passo, respirando o seu ar e dividindo o seu tempo. Era incrível, surreal e
extremamente significativo.
O homem de corpo defido e barba grisalha estava
dentro dela, aconchegado em seus braços e com o hálito quente voltando a buscar
sua boca, em um beijo sutilmente sedutor.
- Não consigo deixar de te desejar nem um
segundo, morena. Cada dia parece um tormento de anseios, desde que te conheci.
Ela sorriu e continuou aceitando o beijo. Era
verdade o que ele dizia. Uma verdade tão latente e real que estremecia seu
mundo, assim como seu corpo trepidava nos braços dele.
- Fiquei pensando o mesmo por esses meses. Uma
loucura demorar tanto tempo para me render a sua cama.
- Não faço a mínima ideia de como consegui deixar
você ilesa por tanto tempo. - E as mãos dele passeavam pelas pernas dela.
- Se eu descobrir como não me rendi a você no
preciso segundo em que nos vimos naquele estúdio, escreverei uma tese
significativa.
Os dois se envolveram ainda mais, como se fosse
possível estarem mais conectados e unidos. Em seus pensamentos as correntes de
energia voltavam a fluir, imaginando como dosar aquele sentimento no momento do
prazer, como se estivessem a ponto de explodir por suportar aquela loucura.
- Precisamos trabalhar Gerry.
- Essa era a ideia desde o princípio. - Ele
sorriu maroto e eles riram. Estavam no apartamento dela para combinar os
detalhes finais da produção em que trabalhavam. Não era difícil para Gerard, um
veterano na sétima arte, mas para Lenah era bem mais que um desafio, tratava-se
de sua grande oportunidade. Muller enfim encontrara seu espaço e estava crente
de que seu momento estava prestes a chegar. No entanto, tinha receio de que
Butler pensasse que a aproximação carnal entre eles tinha outras intenções, que
não as de puro e inestimável prazer. Havia o medo de que ele a acusasse mais
tarde ou de que o público, de alguma maneira, descobrisse uma relação casual e
fizesse todo o esforço da atriz ir por água abaixo; como se Lenah Muller não passasse
de uma fraude, dormindo com o primeiro que aparecesse, em troca de uma vaguinha
na produção de um longa. Talvez, naquele momento, o pensamento dela estivesse
anuviado demais para refletir sobre os resultados da investida.
- Se revisarmos o último plano hoje não vai ter
nada de muito sério para a semana que vem.
- Estamos em pré-produção, Gerry, não podemos nos
desfocar ou vai explodir tudo em nossas cabeças daqui há dois meses.
- Você trabalha demais, princesa. - Ele beijou o
cenho franzido que acabara de surgir em Lenah.
- Posso dizer o mesmo de você.
Gerard a abraçou, envolvendo suas pernas e
mudando a posição desconfortável do corpo de ambos.
- Mas não sou tão obcecado quanto você.
- Porque já fez isso inúmeras vezes e não tem
mais aquele friozinho na barriga, pensando que vai dar tudo errado.
- Engano seu. Não é assim, exatamente.
- Você entendeu perfeitamente o que eu quis
dizer, querido.
- Talvez.
Ele sorriu pensando em como sua garota estava insegura
e tão linda em seus braços. Lenah era tão boa naquilo e parecia querer ficar
ainda melhor, Gerry a acompanhara desde o convite de seu amigo Richard, para
que os três arquitetassem aquele projeto; e desde o segundo em que a viu teve
certeza de que a teria e de que a queria. Agora estavam abraçados e nus e ela
parara um instante para observar aquele sorriso, registrando os pensamentos
ocultos e explícitos de seu homem. Trocaram um beijo doce, quente, úmido.
- Eu adoraria ser um profissional brilhante nessa
tarde - ele sussurrou no ouvido dela - mas o seu corpo não vai deixar de
perseguir a minha memória e isso vai refletir no meu trabalho, negativamente.
- Isso quer dizer que...
- Isso quer dizer que não posso provocar um
desgaste mental, refreando meu desejo, ou ficaria doente e estragaria todo o
nosso planejamento.
- Excelente desculpa. - Os olhos dele grudados
nos lábios dela, que imploravam por um novo beijo, ainda mais intenso, ainda
mais extenso.
- Gostou?
Eles ficaram abraçados, em silêncio. Encaravam-se
deixando o desejo voltar a culminar e expandir-se. Um pequeno sorriso nos
lábios. Lenah viajava pela rota entre o sonho de viver aquele momento e
realidade em estar vivenciando-o.
- Que tal um café? - As mãos dele passeavam pelos
cabelos negros, deixando-se perder entre os longos fios.
- Uma excelente ideia, senhor Butler.
- E se tomarmos um banho primeiro? - Os lábios
dele não se conteram, percorrendo um curto trajeto entre o queixo e o pescoço.
- Eu posso preparar o banho e você o café. - Ela
disse entre suspiros, já arqueando o corpo e enlaçando-o em seus braços.
- Querida, nosso trabalho em equipe é
inegavelmente eficaz. - Gerry terminou a frase já com a voz rouca e grossa
entrando em um vão de ar quente pela orelha de Muller, eriçando todo o corpo
feminino novamente.
- Golpe baixo Gerry. - Ela se moveu como uma
gata, enlaçou-o em suas torneadas coxas e beijou-o com extrema fúria. Sentia a
necessidade de demonstrar com detalhes as sensações que ele lhe causava.
Gerry mal conseguia respirar. Seus olhos,
novamente, obtinham aquela cor escura e sua voz mantinha-se no tom rouco e
selvagem. Como ela lhe tornara um adolescente? O que acontecia com o homem
feito quando estava nos braços daquela mulher? Parecia sucumbir de prazer e
morrer em um dilúvio doce, pedindo mais e mais sofrimento. Ela o enlouquecia,
tirando-o do sério e fazendo-o sentir um tolo apaixonado.
O homem deixou a mulher embaixo novamente. Queria
demonstrar o que estava sentindo e, para tanto, usufruiu o corpo feminino com
os lábios. Ela tremia, trepidava, sussurrava o nome dele. Entre Gerard e Gerry,
entre Butler e meu, a voz ficava mais desgastada, sumindo, apagando,
fundindo-se a um urro sobre-humano. Movimentos firmes e outros contidos, lábios
intensos e a língua passeando por lugares proibidos, desejados, escondidos. Ele
fazia como ninguém. Ela fazia como ninguém. Amavam-se? Apenas o tempo diria.
- Não consigo mais Gerry, não consigo. - o
desespero era latente.
Ela havia deixado de sentir as pernas e já não
lembrava qual era seu nome. Ele sabia aonde tocar, quando tocar, como tocar.
Por quanto tempo havia esperado uma pessoa que a entendesse e a desejasse tal
como era? Difícil dizer, difícil cronometrar e definir cada uma das sensações.
De repente um fluxo inesperado a invadiu, estava
fora de si. Seus pensamentos desfragmentados e os sentidos não faziam mais
parte de seu corpo. Foi ao espaço outra vez e lá permaneceu por segundos
intermináveis. Quando voltou, depois de alguns minutos cochilando, percebeu-se
sozinha na cama.
Sentiu o aroma delicioso de café e sorriu para si
mesma, ainda com os olhos fechados. Ele estava sentado no sofá do quarto,
observando-a dormir, enquanto segurava uma xícara de café com estampa de ursinhos,
presente da irmã dela.
- Não quis te acordar.
Ela soltou um som de preguiça e esticou todo o
corpo. Ele estava de roupão, era nítido que já havia tomado banho, pois estava
mais lindo e excitante do que nunca. A barba por fazer, os cabelos com o
grisalho tentador. Os olhos, incríveis e intensos. Lenah se deu conta que seus
segundos e seu cochilo talvez tivessem sido maiores do que o tempo que seu
corpo cronometrara.
- Que horas são?
- Estamos perto das oito. - Ele bebeu mais um
gole de café.
A mulher se deu por vencida. Havia perdido o dia
de trabalho e ganhado uma tarde de amor inesquecível. Faria o que precisava
fazer na tarde seguinte ou quando o mundo lhe obrigasse, por hora precisava
captar a essência daquele momento.
- Richards não ligou? - Os olhares se cruzavam.
- Não que eu tenha ouvido.
Ele deixou a xícara no balcão do quarto, próxima
ao porta-retratos que exibia um garotinho moreno com o uniforme de uma escola
brasileira qualquer, e aproximou-se dela, logo em seguida, beijando-a com
carinho.
- O que acha de tomar um banho, se vestir e sair
para jantar comigo? - Ela soltou um suspiro. Era perfeito demais.
- Estou com muita fome e uma sede inigualável.
Não posso resistir ao convite.
- Foi o que pensei. - Ela ganhou mais um beijo e
demorou-se nele, sem intenção de soltar aquele homem ideal. - Preparei um
sanduiche para enganar a sua fome, até que saia do banho e se arrume para o
nosso jantar. - Ela sorriu.
- Você é um anjo.
Trocaram um olhar cheio de promessas.
- Me dei bem com a sua cozinha.
- Que ótimo. Ela é prática e beira a eficiência.
- Percebi.
Lenah levantou e banhou-se, depois do lanche. Gerry deixou que ela
entrasse no banheiro e foi até a sacada do apartamento. A noite estava amena,
mas exigia um casaco para quem se arriscasse a sair. O homem olhou pela janela
que dava para um parque iluminado, as pessoas estavam distraídas com suas
atividades noturnas e ele distraído observando-as passar o tempo. Em seu
coração, Gerry tentava segurar a ansiedade que lhe invadia a alma, pois no
fundo ele sabia que era ela. Só poderia ser ela. A pessoa que sempre havia
esperado, a mulher de sua vida. Era Lenah. E não havia sentido nenhum em
afirmar algo assim na primeira tarde de sexo.
- Pensei em irmos ao restaurante do hotel, o que
acha? - Ela saiu do banho enxugando os cabelos ondulados na toalha branca,
parecia ainda mais apetitosa e iluminada. Ele precisaria de toda a concentração
do mundo para não voltar a amá-la naquele momento.
- Enquanto você tomava banho, fiz uma reserva em
um lugar mais aconchegante, se não se importar, é claro.
- Não me importo. - Ela sorriu, deixando a toalha
na cama e seguiu até ele, abraçando-o com carinho. Deixou o roupão de banho
cair, enquanto mergulhavam em um beijo lento. - Você me surpreende cada vez
mais, sabia? - No fundo ele sabia, afinal, surpreendera a si mesmo mostrando-se
tão terno e atento com uma mulher. - Quando penso que beira a perfeição, você
simplesmente a ultrapassa em léguas, Gerry.
- Seu costume de exagerar à mexicana é um charme,
querida.
- Não tão charmoso quanto aquele seu sotaque
escocês no nosso primeiro round.
A noite continuou mágica e as emoções fluíam de
tal maneira que apaixonavam aos espectadores daquela trama real. Era cativante
e intenso. Louco e surreal.
Eles não eram perfeitos, estavam longe de ser
completamente leais e repletamente dedicados, mas a sensação de vida eterna
havia chegado e arrebentado a porta lacrada do coração. Uno para el otro, suas mentes diziam e seus corpos respeitavam.
E aquele era apenas o começo.