Não há nada como um bom subúrbio pra te fazer ter os pés no chão e o sensor aranha no 220 w.
E eu canso de falar: os índices de violência e homicídio do CIC são a junção de uns 4 bairros mal divididos, popularmente conhecidos como Cidade Industrial de Curitiba. Tem defunto contabilizado que nem é nosso.
Isso me lembra Tropa de Elite.
Além disso, a área é retirada, com muitas fábricas, estradas vazias (mal iluminadas, com buracos ou emenda de asfalto) e esses fatores, somados à falta (ou corrupção) das patrulhas militares fazem do bairro um excelente local para desovar, traficar e prostituir.
O que há de bom vem logo mais à frente...
Pra alimentar as vilas do CIC tem, pelo menos, 5 terminais (CIC, Pinheirinho, Capão Raso, Fazendinha e Caiuá), ou seja, tem alguma coisa errada na divisão geográfica do bairro - ele é muito grande e tem uma demanda maior do que os outros. Ou, simplesmente, tem um nome só, mas abrange mais do que um bairro.
Sendo assim, não precisa ser um Newton pra fazer uma fórmula e chegar à conclusão de que a união de várias vilas, em um espaço retirado do centro, com mais casas do que comércios e preços mais acessivos em imóveis vai atrair maior movimento de pessoas humildes.
Isso, somado ao número vergonhoso de colégios (vide NRE Curitiba setor CIC), oportunidades de emprego relacionadas à produção e acesso escasso à cultura, cria um perfil diferente da Curitiba vendida nos postais.
A CIC chama muito mais malaco curtindo Hip Hop do que playboy curtindo Bossa Nova, mas a escritora que vos fala é exemplo vivo de que existe vida além do preconceito contra os bairros pobres dessa cidade que se sente tão inglesa/francesa/alemã/
Curitiba alta: desça do salto. Se nós somos o maior bairro e se nos somamos com outros bairros ditos "ruins, marginais, bocas quente", então somos quase a totalidade da cidade. Somos a cidade. Somos você, seu panaca preconceituoso.
O CIC é o bairro das montadoras, das multinacionais, das empresas que fazem a economia da cidade não ficar estagnada em restaurantes de Santa Felicidade, pra citar o trivial. A CIC tem emprego pra quem quer por a mão na massa e produzir. Também tem ruas vazias, onde a piazada corre soltando pipa e jogando futebol, bets, tudo aquilo que uns praticam em clubes ou parques centrais; e que outros morrem de vontade de deixar o filho fazer, mas não deixam, por não conhecerem o vizinho ou por terem medo de soltar o piá na rua.
Pode não ser o exemplo mais bonito, porque nossas raias têm cerol e nossa piazada usa dois tijolos como trave, mas não troco as recordação das minhas brincadeiras de rua e de quintal, pelas recordações de crianças que moraram em prédios com playground, piscina, porteiro e grades, na região central.
Um salve pro povo das vilas, das COHABs e da periferia curitibana.
Não somos São Paulo, nem Rio, mas temos favelas com homens bons e maus, com gente culpada e inocente, igualzinho o restante do país.
Curita não é o paraíso pintado pela prefeitura... e o transporte urbano, digno de tanto falatório, de tanta vaia e aplauso, foi feito pra gente: a galera pobre que mora nos fundões da cidade e precisa sair uma, duas horas antes, pra chegar no horário.
O importante é ter dignidade, foda-se o falso moralismo e os que subestimam nossa capacidade.
Das palavras de D2, as minhas:
"Iate em Botafogo Apartamento em Ipanema
Uma vida de bacana se eu entrasse pro esquema
Mas eu busco na raiz e lá tá o que eu sempre quis
Não é um saco de dinheiro que me deixa feliz
E sim a força do Samba, a Força do Rap
O MC que é partideiro, o Bumbo que vira scratch
É o meu som, que mostra muito bem o que eu sou:
Onde cresci, aonde ando, aonde fico e aonde vou"