Muitas vezes me peguei pensando naquilo que poderia ter sido e não foi, nas escolhas da vida.
Me vem em mente que cada uma delas é pré-estabelecida, como em um acordo que fazemos com os nossos e com Deus. Um acordo de coração e de muitos sentimentos; de esperança e de muita luta. Escrevemos, antes mesmo de cruzar nossos olhares pela primeira vez, uma "cartilha de sobrevivência", como uma espécie de trilha a ser percorrida.
Primeiro pensamos naquilo que temos, então naquilo que desejamos e logo naquilo que é necessário para alcançarmos o que almejamos. Esse é o nosso planejamento, nosso plano, nossa opção ao caminhar.
Me vem em mente, também, que em nenhum momento somos instruídos a limitação. Que não somos obrigados a percorrer os trajetos que traçamos e que, como em qualquer plano, é possível seguir um novo caminho, sem necessariamente abandonar a ideia inicial, mas agir pelo impulso, pelo momento, pela necessidade, pelo pensamento que nos norteará naquele exato instante de aprendizado - justamente porque a escolha se renova de acordo com os movimentos e sentimentos que nos permitimos desfrutar durante o reencarne.
No dia a dia nos são dadas diversas opções, com inúmeras possibilidades. De religiões, dogmas e ideologias políticas, até a posição que escolheremos para dormir ou mesmo o pé com o qual iremos acordar. Tudo é nosso. Tudo recebe o nosso DNA, a nossa escolha, o nosso ser. O movimento de nossas vidas possui um Maestro Maior, que possibilita caminhos e ações, porém, os músicos, aqueles que executam as notas e realmente realizam o trabalho sonoro, fazendo dos acordes mais do que meros símbolos, somos nós, seres humanos, orquestra da vida.
Ouvimos melodias distintas, apreciamos um ou outro som, nos apaixonamos ou detestamos uma ou outra sinfonia para, no fim, produzirmos nosso próprio "barulho". Somos instruídos a viver e dessa forma mantermos a vida, graças a misericórdia divina e a nossa própria ação.
Na possibilidade da vida, reproduzimos inúmeros atos - dignos dos mais brilhantes musicistas; compomos diversas melodias - variando notas e tonicidade; nos tornamos, pouco a pouco, regentes de nossos caminhos e regidos por nossas escolhas.
Quando nos equivocamos pedimos desculpas ao público ou seguimos de cabeça erguida, sem se importar com a afinação. Vemos beleza em outras composições e aplaudimos de pé, nos tornando plateia de inúmeras orquestras. As vezes nos atrevemos a reproduzir os sons favoritos e outras, por uma espécie de medo, ouvimos a melodia sem envolver nossas vidas, como passivos espectadores de composições alheias.
Entre as escolhas de caminhos, nos atrasamos para os concertos ou chegamos adiantados demais. Nos cansamos de esperar ou simplesmente deixamos o bilhete de entrada em um canto, sem se preocupar com o tempo que gastamos para adquiri-lo.
Por vezes, no entanto, acertamos na escolha. Olhamos no espelho e, na hora certa, ajeitamos o cravo vermelho na roupa, polimos nosso instrumento musical e, com um sorriso nos lábios, nos damos de presente os acordes de um solo inesquecível, repleto de realizações pessoais.
Fazemos parte de orquestras, escolhemos sons clássicos ou contemporâneos, assistimos os exemplos da primeira fila, do camarote, de alguma distante fileira barata ou até mesmo da rua, com um binóculos improvisado de papelão. Nos esforçamos para aprender e pertencer a um grupo. Queremos a nossa banda.
Temos inúmeros exemplos e inúmeras condições de escolha, por esse motivo o planejamento individual e o planejamento coletivo do "pré-encarne" mudam. Mudam porque nos deparamos com instrumentos que não conhecíamos e com oportunidades de tocá-los em diversos estilos musicais. Mudam porque pode-se gravar apenas o instrumental ou adicionar voz à melodia. Mudam porque aqueles que planejaram conosco poderão não comparecer ao concerto ou chegar um pouco mais tarde. Mudam porque viver é movimento e quando mudamos movimentamos o viver.
Muitas vezes me peguei pensando naquilo que poderia ter sido e não foi, nas escolhas da vida.
Me vem em mente que cada uma delas é pré-estabelecida, como em um acordo que fazemos com os nossos e com Deus. Mas a vida... A vida é uma rapsódia, com todos os estilos dentro de um só; por isso ouvimos tantas melodias e nos deparamos com notas que jamais imaginamos reproduzir.