Sempre gostei muito da ideia e resolvi usar uma roupa que me deixasse tão a vontade a ponto de ser eu mesma e quantas outras mulheres eu sentisse vontade de ser, nas horas que proceguiriam.
Meu rosto levava um doce sorriso de vitória, enquanto o celular na janelinha do banheiro tocava músicas de sedução de uma cantora negra brasileira. O hidratante cor-de-rosa de cheiro bom era uma das táticas daquele banho lento e doce, cuidando de cada parte do corpo e ousando em prepará-lo para a sedução.
Havia uma brincadeira gostosa, de enviar um par defotos mais ousadas por um aplicativo de fotos. Uma conversa havia esquentado as possibilidades daquela quinta-feira e eu estaria pronta, assim como aquele homem que utilizava a foto da cidade a noite como avatar na rede social por onde trocávamos mensagens.
Ele me disse que estaría lá em alguns minutos mais e eu comentei que estava nervosa sem saber o que vestiria... O comentário foi certeiro, dizendo-me que vestisse nada. E para brincar de ser mulher, eu lhe enviei a foto da primeira peça de roupa que havia escolhido para vestir um dia antes.
A calcinha cor-de-rosa de bolinhas pretas possuia algo entre o vibrante e o divertido, com uma renda na parte trasera que acentuava as curvas de minhas nádegas. resolvi usar o sutiã vermelho, já conhecido do homem do outro lado da telinha, quem havia recebido uma imagem bem interessante para um café-da-manhã.
O rapaz estava em extase. O comentário era do tipo "como é que pode me fazer uma coisa dessas quando estou dirigindo?", meu riso de lado a lado era empolgação pura.
vesti uma blusa preta de mangas 3/4, minha insegurança gritava que preto emagrece e combina com tudo. Olhei para o espelho e ousei ensaiar antes de sair. Queria saber como a combinação da calcinha e da blusinha poderiam resultar. Dancei devagar ao som de uma música excitante e aprovei tudo o que via naquele reflexo. Seria exatamente assim que deveria agir, quando tivesse a chance.
Foi quando vesti a saia de estampas indianas e me enchi de colares, além de um brinco gigante em forma de árvore, meu símbolo favorito.
Postei a foto e ao mesmo tempo informei para o menino informático que sairia com uma cigana, indiana, negra e rainha. Que teria a honra de passar a noite com uma divindade. Era uma estratégia de sedução. Algo que poderia parecer absolutamente prepotente, se nós não estivessemos cheios de vontade e absolutamente sedentos pelo prazer daquela noite.
Minutos depois ele disse que havia chegado.
Saí rumo ao portão, depois de passar o perfume, rezar algumas vezes e fazer o sinal da cruz, batendo o pé esquerdo e pedindo um axé das pombagiras. Tudo o que viesse a meu favor naquele momento seria de bom grado.
Fran estava lindo.
Era como se eu visse uma miragem a minha frente. O carro cinza com o qual trabalhava como Uber, a calça jeans de cor clara com furos nas pernas grossas, a camisa branca sem gola, mostrando o início da tatuagem de elefante.
Belo. Simplesmente, belo! Não havia cabelo, nem óculos porque era o período noturno.
Nos cumpimentamos com um beijo gostoso e senti sua língua. Ouvi sua famosa expressão de desejo e aprovação "Hum!", enquanto a língua dele passava sobre os próprios lábios e me olhava com olhos de fome.
Abriu a porta traseira do carro, onde deixei a mochila que recém havia comprado na viagem para o Brasil, no dia dos pais, e colocou sobre o banco, ao lado da dele, também negra, que estava abaixo do banco.
Me sentei no banco da frente e ele comentou que era a terceira pessoa a andar no carro, sendo conhecida. Que ele havia carregado um amigo, eu e a mãe e que todos os demais eram pessoas desconhecidas.
Me contou que uma velhinha o fez lembrar de mim, quando comentou algo sobre árvores e eu ri bastante com a lembrança dele ter partido de uma senhora idosa. Ele foi simpático explicando e logo perguntou se eu queria colocar música, que havia um cabo pra isso e que podia conectar meu celular.
Sorri e acariciei a perna dele e lhe roubei um beijo, ele ficou um pouco incomodado com a reação do corpo enquanto dirigia e eu ri de como podia ser maravilhoso estar ao lado dele.
Deixava meus peitos mais empinados, de propósito, a ideia era mostrar o meu corpo e como ele estava naquele momento. Tentava colocar música, na playlist especial que havia baixado para aquela noite, repleta de black music, com canções que tinham a ver com quem eu era e com o que eu desejava e sentia.
Fran queria que funcionasse e pensava que era o cabo adaptador que não funcionava, se concentrava nisso e eu tratava de deixá-lo tranquilo, dizendo que poderíamos escutar sem o cabo, usando o som do celular.
A habitual teimosia o fazia querer tentar arrumar a conexão do cabo enquanto dirigia e eu tentava deixá-lo atento no trânsito.
Estávamos de repente perto de onde nos conhecemos, a mesma região da praça Brasil. Ouvíamos o som do celular, sem usar o cabo adaptador, que realmente não funcionava no meu celular e ele tentava encontrar um lugar para parar o carro e procurar por perto um motel, porque sabia que havia diversos por ali.
Minha cabeça pensou no mesmo momento que se ele tivesse me dito que não havia encontrado um lugar e que estávamos saíndo sem rumo pela cidade, para uma rua que ele supostamente conhecia, seria melhor que eu tivesse procurado o lugar antes, em casa, com calma. Mas ele fazia as honras e queria se preocupar com isso.
Não conseguiamos encontrar uma rua ou um lugar de parar o carro e havia um ônibus atrás de onde ele, de repente, resolveu parar, dando um sinal de luz de que estávamos parados na principal. Depois de quase arrancar a traseira do carro novo do Fran, o ônibus se foi e o meu acompanhante seguiu para a rua lateral, onde havia mais segurança para estacionar, mais espaço e tranquilidade.
Fran abriu o celular, ignorou as mensagens de Whatsapp e buscou no Maps a palabra motel.
Encontrou a rua que procurava e programou o aplicativo para que seguissemos a voz do Google. Comecei a brincar com aquilo e comentei de como era no Brasil, com a voz de um humorista (que fala como um ganso engasgado) sendo uma das opções para GPS e logo estávamos fazendo piadas sobre palavras chilenas que poderiam ser usadas para explicar melhor o caminho para os motoristas.
Riamos muito e Fran acabou se desconcentrando um pouco. Ele estava nervoso e não conseguia entrar no Motel, talvez o nome fosse 66 ou era o número do lugar. Ele havia passado um pouco, a rua estava repleta de trânsito e a ideia genial do meu uber e acompanhante era dar a ré e no meio da rua e entrar no endereço.
Meio ao semi-desespero que lhe dava por ver o planeta businando para ele, sem dar oportunidade de que desse a ré e sem que ninguém o deixasse entrar para o lado oposto da via, eu, como um anjo de luz, lhe disse que desse a volta na quadra!
Ele me ouviu como se escutasse as trombetas do paraíso e encontramos na rua de trás uma entrada absolutamente discreta, em outro motel. Foi ali mesmo.
Fran foi orientado a entrar. Descemos do carro e ele perguntou na recepção valores e local. Então voltamos para que fechasse o carro e pegasse as mochilas. Ele havia se confundido com a entrada e a saída do lugar e estava perdido na recepção! Eu o guiei e disse que se acalmasse. Sentia que estava muito nervoso com o momento.
Naquele momento eu não fazia ideia de quanto o intimidava.
Entramos com as bolsas, havia muita cerveja na minha. Eu passei no mercado por ele, para deixar tudo organizado, gosto de ser uma mulher observadora e de planejar e executar com antecedência, quando é possível. Ele e eu subimos o quarto. o número estava na casa do vinte, mas não recordo com exatidão. Entrei na suite, que ja haviamos visto e gostado. Havia madeira por toda parte e imagens de árvores! Eu amava aquele lugar.
Não sabia exatamente por onde começar, mas queria muito beijá-lo. Ofereci a cerveja e ele disse que eu esperasse, a moça do motel apareceu avisando os últimos detalhes e então fechamos a porta.