Estou triste. Me pergunto quando não estive triste.
Quando foi que a alma parou cinco segunos para respirar e teve ar suficiente para encher os pulmões de meu subconsciente. Vazio. Até o momento, vazio. E repleto. Cheio. Pleno.
Por todos os lados que a garotinha de cabeloz cacheados e sorriso no rosto percorre, mais e mais motivos se dão para que regresse, para que tema e pare. Para que não prossiga, para que assuste seu pequeno coração que bate acelerado e triste.
O sorriso nos lábios não lhe pertence. É um sorriso forçado, mal visto, mal tido, incontido. É um sorriso profano e gentil. Um sorriso de deuses. De amor. Um sorriso que morre e que é morto. É mais que um sorriso. É seu reflexo de esperança.
E então ela corre.
E no vazio do subconsciente encontra portas e bate e vê monstros e corre outra vez.
Até que seu mundo se torna não mais que poeira e sombras, neblina e lodo, medo, escuridão. Seu coração parece bater fora do peito e seus olhos estão estirados na cara. Dois ovos fritos, negros, de pânico.
E pensam em fazer o mesmo com seu coração. Quebrá-lo ao meio em uma frigideira de ignorância, pouco ou nenhum amor.
Mesmo assim, ela prossegue, não regride, não detalha a tristeza que sente, apenas corre e torna a correr, até que o corpo não aguente, até que o tempo não aguente, até que os olhos fechem.
Fechem. Ela implora. Fechem.
Mas eles continuam abertos, continuam grandes e vermelhos, de choro. De desespero. De dor.
De tristeza.
E ela intercepta a esperança. Mata. Pouco a pouco. Arranca um pedaço e desfaz as possibilidades de seguir em frente. De ter um pouco de fé. Em si mesmo ou em outro. Acaba o amor, por intermédio da dor.
E as feridas expostas são pouco curadas, mais massacradas, pouco escondidas, visíveis, abertas, temíveis, concretas.
Sofre. Sofro.