Reinações Múltiplas: Carta aos boêmios sobreviventes
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Carta aos boêmios sobreviventes

Esse negócio de cultuar o corpo está ficando meio sério, rapaziada. Talvez esteja na hora de puxar o freio de mão.
Eu tô ligada que existe um grupo de pessoas alucinada por exercícios, academia e corpos de esculturas greco-romanas, mas daí a ser ignorante e não deixar a mente funcionar além do corpo, me preocupa.
Acho que nunca quis classificar os marombados da vida em um grupo de insignificantes ou subestimados, mas também nunca fiz questão de me aproximar muito desses caras. Simplesmente não combina.

Quando se trata da galera da dança, eu reconheço alguns grupinhos que são bem fechados e só aceitam as gurias "classe A" entre eles, mas mesmo assim relevo e tenho alguma esperança de encontrar aquelas pessoas normais que, a exemplo dos primeiros casais dançarinos, pensam apenas em fechar os olhos e sentir a melodia invadindo o corpo, sem se preocupar com o espelho ou com a contagem dos passos.

O mesmo poderia ser princípio dos exercícios físicos: tratar o corpo com intenção de saúde, de bem estar, de energia, de vitalidade. Porém, vitalidade tem sido confundida com virilidade e o que era pra ser saudável se tornou algo retrogrado e fútil. Ir a academia tem sido sinônimo de preparar o corpo para fazer sexo (na verdade ainda estou estudando se quase todas as ações humanas não tem se mostrado adeptas do "momento de se preparar para fazer sexo").

Li alguns comentários de um cara paranaense (o que muito me envergonha) falando sobre as mulheres não terem porque gostar de bundas masculinas, porque as mulheres não tem o que fazer com a bunda masculina - diferente dos homens, que aí sim tem porque se sentirem atraídos (estou sendo MUITO polida em escrever com essas palavras, porque a linguagem foi realmente humilhadora, portanto entenda que ele disse: homens comem bundas, mulheres não; logo, não há porque gostarem de bundas. Quase socrático, nosso companheiro). Posso dizer que, simplesmente, pasmei.

Fiquei sem chão porque sabia da infeliz existência de pessoas com mente pequena em academias, inclusive convivi com um grupo que muito me preocupava com relação às atividades mal aplicadas e a filosofia de vida mal resolvida (em um sentido existencial), mas como uma eterna esperançosa, ignorei a existência de um grupo infinitamente maior de caras com sentimentos e opiniões peçonhentas.

Me decepciono muito com esse tipo de pensamento por parte do sexo oposto e temo ficar encalhada pra vida toda, se depender de me tornar um produto de academia ou um produto de revista pornográfica.
Espero que o público alvo que conserva a idolatria às letras e melodias da vida não esteja desanimado e desgostoso em compartilhar seus bons pensamentos sobre a mulher em sua plenitude feminina, pelo simples bem da humanidade e conservação das amantes de poetas boêmios.

Um salve para todo e qualquer homem (vivo) que vê além das aparências e se deixa envolver por sentidos extra-físicos. Vocês são uma rosa no deserto e merecem ser muito amados. Seus lindos.