Na semana em que Anne ainda estava na casa de Carol, Cabal se sentia diferente. A questão do empresário fantasma não havia saído de sua cabeça, mas só pensava nisso nas horas vagas, que eram poucas. Teve muitas coisas para fazer na produção da nova turnê que planejava, estava longe, mas era bom pensar e planejar, ele não gostava de deixar nada para depois. Combinaria e PROjetaria, depois ficaria tranquilo na execução de seu trabalho.
Isso o acalmava completamente, deixava o corpo relaxado. Mexer com música era sua vida, sua alma, assim como a pequenina e perfeita MC (Maria Clara). Ela passou dois dias com ele e os dois fizeram a maior festa. Claro que Cabal tinha compromissos, mas nos últimos tempos, queria mais era curtir a filha crescendo, aprendendo a cada dia uma nova palavra e sendo tão esperta, com os cachinhos dourados que cresciam aos poucos. Era sua pequenina princesa. Adorava olhar para ela horas e horas, ver o sorriso e a calma que lhe proporcionavam.
Mas hoje era dia de festa e MC não estava mais no apartamento. Túlio Dek se apresentaria na Pegasus e Cabal não conseguia parar de pensar que a “morena da festa” talvez estivesse lá naquela noite. “Eu te encontro no próximo baile, quando não for o centro das atenções baby”, ele lembrava da frase, da boca dela se movendo lentamente ao pé de seu ouvido e depois estalando em seus lábios um beijo rápido, quente, insano e... Era loucura! Balançava a cabeça o tempo todo, mas os pensamentos voltavam. Já tinha comentado daquela mulher com mais gente do que gostaria, e ainda por cima tinha a amiga que havia visto a cena, tirando sarro dele sem parar, por causa da cara de bobo, que ele reconhecia ter feito. Todos queriam saber quem era a tal “morena fatal”, mas a verdade é que nem ele sabia. Mas como queria saber!
(Throug Cabal on)
Eu preciso tirar essa garota da cabeça, estou ficando pirado com isso. Pra piorar as coisas, tem aquela porcaria de “empresário fantasma”. Desde quando eu perdi as rédeas dos meus pensamentos? Que droga! Para com essa porra C4! Você nem sabe quem aquela mina é cara! Patricinha de merda, nem vai aparecer.
(Throug Cabal off)
Ele estava muito irritado agora. Pensar tanto assim em alguém que não conhecia, por um motivo besta? Nunca havia passado por isso. Não sabia o que estava faltando, mas era como se algo faltasse.
Vestiu uma beca bem esperta e foi pra balada. Não era qualquer mulher que ia tirar C4 do sério, eram elas que ficavam de 4 pelo C4 e não o oposto. O negócio era se jogar na noite e sair pegando geral, aproveitar o dom de ser alto, loiro e gostoso, que o bondoso Deus havia lhe dado. Pensava isso rindo de si mesmo. Auto-estima não faltava ali.
A festa estava lotada, casa cheia mais uma vez. Cabal olhava para todos os lados e via mulheres exuberantes, homens de todas as cores, corpos colados dançando e aproveitando a noite. Garotas beijam garotas e garotos não deixam por menos. Seus olhos verdes estavam atentos em tudo aquilo. Pensava ser a evolução do hip hop, finalmente, chegando. Não era apenas a felicidade de ver o amigo em ascensão, era a felicidade de ver o seu som, a sua música, a música que ele escolheu, dentre todas, para defender. Defender na carne, com o rosto de seu herói Sabotage estampado. Defender no coração, em lembranças que vinham de amigos eternos e da infância.
xXx
“A minha mãe... eu me sentia só.”
(Flashback on)
O menino loirinho estava sentado no banco do corredor. “Fique aqui filho, mamãe já vem”. Priscila havia subido pelos elevadores, deixado Daniel na sala de espera. Teria uma reunião importante naquele dia, mas o pequeno não sabia de nada da vida, só queria brincar, como toda criança. Achava muito chato ter que ficar ali sentado, mas ainda assim obedecia a mãe, brincando com o Superman de brinquedo.
A capa vermelha voando, o braço direito em punho, apontando para o céu. O boneco estava na mão de Daniel, que o movia para cima e para baixo, fazendo um som com a boca, imitando um jato de avião, misturado a um super-turbo de vento, que sua imaginação criava enquanto a brincadeira surgia.
Levantou da poltrona, que estava encostada a parede, levando o brinquedo e fazendo o herói voar pelo céu, que era a sala de espera do prédio. Distraído, era guiado pelo vôo do super-herói e, quando menos esperava, observou ao seu redor, vendo que estava próximo da porta de saída. O que viu na rua não seria apagado tão facilmente de sua história, nem de seu destino, nem de sua vida.
Era um grupo de jovens que estava na esquina, com seus cabelos de tranças, armados ou em penteados estranhos, dançando no chão, uma música que embalava, um som que ressoava em todos os lugares e mexia com os nervos de Daniel, fazendo o coraçãozinho se sentir feliz e bombear o sangue mais e mais rápido. Daniel não sabia que música era aquela, nem que dança, nem que estilo, pois o menino não se preocupava muito com nomenclaturas, ou tribos, ou conceitos, afinal, era uma criança e para as crianças não há raça, credo ou cor, todos são iguais. Talvez aquele pensamento perdurasse em seu pensamento e ele não tivesse preconceitos na juventude.
Quando a mãe voltou a sala de espera, tinha no rosto um sorriso estampado. Abaixou-se e deu um beijo no filho, segurando com as duas mãos o rostinho frágil e branco, com um par de olhos tão lindos quanto os que ela sempre imaginou para um filho seu. Falou algumas palavras de amor, mas isso não interessava muito para um garoto de oito anos, que queria brincar de super-man. Além do mais, o pequeno Daniel era um homenzinho e homenzinhos não podiam ser beijados com tanta baba assim por suas mamães, em frente a várias pessoas - um pensamento típico dos meninos daquela idade. As bochechas coraram, ele estava envergonhado pelos beijos em público, mas sua mãe não ligava, apenas curtia comemorando a magia de ser contratada por aquela empresa americana. Tudo iria mudar.
(Flashback off)
Cabal não queria admitir, mas olhar para todos os lados, à noite toda, devia ser a esperança de reencontrá-la. Quem era aquela mulher? Como ela havia feito aquele feitiço? Não importava mais, agora ele estava prestes a curtir a noite com uma ruiva exuberante e ela não o teria nem sob decreto, a não ser que passasse por ele naquele instante (desejava isso intensamente, fechando os olhos, e repetindo de minuto a minuto, mas quando abria a janela da alma, ela, simplesmente, nunca estava lá).
Esperou, mas não seria daquela vez, infelizmente para ele. Felizmente para a ruiva.
xXx
“Mesmo assim, o que eu quero mais é o seu bem”
Estava quase na hora de sair, mas ela não queria. Queria ficar dormindo, com a cabeça enterrada no travesseiro. Culpa da noite passada. Como ela pode ser tão idiota em pensar que ele estaria pensando nela, tanto quanto ela estava? Besteira! Não era mais criança, mas não aprendia nunca. Que droga!
O show de Thaíde seria na quarta, mas era domingo à noite quando Carol parou para espiar as fotos no fotolog de Cabal e viu as garotas ao redor. Era óbvio que pelo menos três, das dúzias, estiveram na cama dele. E ela se sentia a última das mulheres, com um ciúme horrível, de alguém que não era absolutamente nada dela, o que a deixava ainda mais furiosa. Foi dormir com um mal estar sem tamanho. Não queria admitir, mas estava apaixonada, com certeza estava.
É possível destinar tempos e horas de sua vida a uma pessoa que não lhe conhece? E é possível fazer isso sem querer nada em troca, sem a menor intenção de aproveitar nada dessa pessoa? É meio difícil. Carol não fingia querer entregar aquelas coisas todas de bandeja, sem ideais secretos. Não. Ela queria algo de Cabal, com certeza. Mas não era dinheiro, como Eminem e outros artistas costumavam pensar de mulheres como ela. Afinal, ela tinha tudo o que precisava bem ali. Não importava se o assunto fosse em Euros, Dólares, Libras, Reais ou Pesos, ela teria absolutamente tudo, afinal ela tinha um grande poder.
Mas ela sabia que, sem uma prova, Cabal não acreditaria na sinceridade de suas intenções. O que deixava Carol segura era seu poder de sedução, o qual ela utilizaria com toda excelência naquela noite.
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