Reinações Múltiplas: Moves Like Jagger - parte 2
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Moves Like Jagger - parte 2

por Franci Freire



Como se não bastasse a minha cara de taxo em pagar o maior mico naquela quinta-feira, fiquei puta em perceber que o Mister Sorvete de Creme não apareceu na semana seguinte. Era sempre assim, vez ou outra dava o ar da graça e, pluft, sumia logo em seguida... por, sabe a deusa, quanto tempo.

Se bem que, eu não devia estar tão puta e revoltada com a falta daquela delícia - que jamais me olhava ou percebia minha infeliz existência - porque alguém estava no lugar dele, usufruindo das maravilhas do pub adaptado em que eu trabalho. Se você chutar e acertar quem era a peça, te pago um sunday de morango.

Ela é loira, tem um corpo esculpido pelos deuses, cabe em qualquer roupa de liquidação em lojas de departamento, ala C&A, mas jamais usaria realmente uma das roupas de lojas de departamento, ainda que fosse a modelo capa da coleção primavera-verão e arrebatasse milhões de dólares posando com blusinhas de malha. Seus olhos são verdes, sua pele tem sardelinhas e, embora destrua corações na América, ela é russa.

E aí, ganhou um doce? Pois bem, a dita cuja aparece aqui em dias sortidos desde o incidente com a Pepsi. Eu, obviamente, evito atendê-la, mas, como garçonetes tem determinados lugares no salão que pertencem a elas e devem ser atendidos sempre que ocupados, acabei tendo a infelicidade de auxiliá-la na leitura do cardápio de cervejas e petiscos por duas vezes.

Vou explicar o funcionamento do Trifólio Verde. Basicamente, temos uma decoraçãozinha ala "trevos de quatro folhas" (super clichê para o nome) e damos algo a mais, além dos petiscos e pratos de sempre - do tipo colcannon, bubble and squeak, champ e coddle. O que nos diferencia, além dos sorvetes e da boa música regional não ianque, são os autênticos bread, Guinness, Murphy's e Beamish - devidamente importados da terrinha.

Bem, eu não sabia que a atual princesinha da Hugo Boss Green conseguisse tomar guinness como uma legítima irlandesa, mas consultando meu conhecimento nórdico (no wikipedia) lembrei que os vikings poderiam explicar essa pequena queda da russa pela cultura dos meus patrões.


Nessa quinta, sem o Adam, a russa apareceu, acompanhada de uma amiga ruça. Eu torci para que sentassem no lado oeste e deixassem o lado leste livre, assim eu não teria que atender a nenhuma das duas e seguiria curtindo meu momento "Levine is Over", mas você deve presumir que não foi o que aconteceu.

A bendita estava lá, com uma roupa jeans que faria qualquer mulher normal se sentir normal - a não ser que ela fosse uma supermodelo gostosona que namora o homem dos seus sonhos. Porque a natureza de orgulhosa brasileira não me ajudava a ser mais humilde, resolvi sair da defensiva e ataquei.

Digamos que eu não seja uma mulher feia e que meu corpinho sulista brasileiro ajude sempre que eu não estou em uma porcaria de uniforme verde de garçonete; então resolvi que ela me veria tão bonita quanto mamãe me achava, e tão excitante quanto uma passista desfilando em frente a construção civil. Assim meu superego ficaria menos maltratado.

Corri até minha amiga Mary, que atende o lado oeste, disse que precisava ir ao banheiro com urgência e que ela atendesse quem fosse chegando. A americana olhou para minha praça e depois para mim, com a autêntica cara de quem sabia que eu era louca pelo namorado da garota linda sentada na mesa em frente. Sorri e corri para o banheiro, será que meu momento invejinha era tão evidente?

Arranquei a blusa que usava em baixo do avental preto, abri os primeiros botões da blusinha do uniforme colocando o avental de forma hiper colada em mim. Peguei a necessaire no balcão da pia e passei o gloss de morango. Realssei minhas maçãs, reforcei o lápis de olho e borrifei perfume nos dois lados da nuca.

Saí do banheiro sorrindo, depois de, realmente, fazer um pipizinho de nervoso. Voltei, lavei as mãos, joguei a blusa que estava em cima da pia dentro do balcão e tornei a sair. Estava muito nervosa.

Quando cheguei no salão do pub vi alguns clientes a mais e percebi que Mary estava atarefada demais; aliás, Jhon, meu gerente, estava por lá - com cara de quem me mataria. Mas, o olhar mortífero de Jhon e o sussurro dele, prometendo me degolar em meia hora, foi o mais tranquilo da cena.

Ele estava lá. Perfeito e excitante. Aliás, eu queria correr para o banheiro de novo depois de ver a mão dele levantando na mesa e o olhar cruzando o salão até chegar de encontro ao meu, como se estivesse esperando que eu fosse até ele. E ele estava mesmo. Estava esperando ser atendido, porque havia acabado se chegar e queria fazer um pedido.

Acho que fiquei um bom tempo parada, observando a camisa branca, a calça jeans, a bota preta e os olhos azuis, porque Jhon ficou impaciente e me cutucou para ir até a mesa, antes que ele mesmo tivesse que atender ao cliente especial que acabara de chamar pela terceira vez.

Céus, eu quase tive um orgasmo por uma olhadinha de cliente para garçonete, imagina se ele me olhasse como estava fazendo com a namorada naquele momento de habitual "ignore a garçonete e se declare para a top model"?

- Eu também te amo. - foi tudo o que eu ouvi ela dizer, antes de sorrir e dar um beijinho na boca dele.

Respirei e contei até um, mentalmente.

- Pois não, senhor?

- Você... - ele desviou o olhar para mim e depois baixou para o meu colo, arqueando uma sobrancelha. Eu estava quase desmaiando por ele ter olhado, finalmente, para os meus peitos quando o deus grego segurou, casualmente, uma correntinha de prata que eu levava no pescoço, voltando a olhar para o meu rosto. - Levine?

Como eu posso explicar que fiquei vermelha como um pimentão e quente como azeite na frigideira a 180° C? Bem, acho que já expliquei. Fiquei vermelha como pimentão e quente como olho na frigideira! A mão roçando em meu colo, por uma fração de segundos e, em seguida, aquela indagação...

Fiquei morrendo de vergonha, porque esqueci de tirar a corrente no banheiro e deixei a bendita peça à mostra. Eu encomendei uma daquelas peças depois de ver uma foto antiga da Aguilera com o nome pendendo lindamente em uma correntinha. Não quis por o meu nome, mas não foi por mal... é que na noite anterior ao resolver fazer a tal corrente, tinha visto o Adam pessoalmente pela terceira vez e conseguido meu primeiro orgasmo de cinco minutos pós dedos leves. Foi incrível!

- É... bem... eu... Sou Lenah Muller Levine, senhor. - Foi a melhor desculpa que eu arranjei naquele momento, levando em conta que esqueci completamente de que era fã do cara e poderia falar a verdade. Embora, na hora, a verdade para mim se assemelhasse muito mais a minhas mãos girando em círculos e meus gemidos gritando o nome da criatura mais tesuda que eu jamais teria.

- Legal.

Foi o que ele disse, antes de me ignorar mais uma vez e fazer seu pedido.





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