Reinações Múltiplas: Moves Like Jagger - parte 3
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Moves Like Jagger - parte 3

por Franci Freire



Eu ficava horas trancada em meu quarto, com a cabeça embaixo das cobertas, me perguntando se Adam, de fato, poderia ser tão mesquinho com alguém a ponto de ignorá-lo completamente. Alguma faísquinha de esperança minha dizia que não, mas a parte que assistia Britney Spears possessa atacando um fotógrafo, bem como a parte que pensava em Adrian Pasdar dirigindo bêbado para chamar atenção, depois do cancelamento de Heroes, me fazia pensar que o ego inflado daquele homem de olhos claros e corpo escultural era defeito da fama.

Como excelente fã, voltei a assistir o dvd do início de carreira da banda, ouvindo Levine desafinar e sentindo prazer em pensar que ele tinha algo de humano. Aliás, uma pessoa que compunha letras como Won't Go Home Without You não podia ser completamente tapada e arrogante. Ao contrário, Adam Noah Levine sempre me pareceu interessante, boa gente e até humilde. Certo, eu peguei pesado com essa personalidade boazinha e querida, mas é necessário levar em conta que, desde o dia em que segurou a minha correntinha até hoje só trocamos mais cinco palavras e olha que eu tenho me esforçado em ser simpática, adorável e prestativa.

O problema não é com ele ou comigo, só pode ser com a minha profissão. Aposto que sou melhor de cama do que a russa sem sal, mas ele não me come porque sirvo sorvete. Além disso, ela pode ser mais instruída, mas eu sei cozinhar. Seria uma delícia cozinhar, dormir e acordar ao lado dele...

Resolvi levantar e tomar um banho demorado. Dia de folga, igual a patinar no parque.

E lá fui eu, depois de deixar o coro quente, com um banho de 35°C, pra me despertar. Água fria me irrita, prefiro as altas temperaturas. Vesti uma baby look da Betty Boop, um short jeans e um Nike azul. Peguei o squezee, um saco de costas com dinheiro e documentos dentro, e caminhei até o quarto organizado de minha amiga mexicana para emprestar o antitranspirante Rexona.

Eu pretendia sair de lá e tomar um banho de mar, então usava um biquíni embaixo da roupa de patinar. Aproveitei e coloquei um bronzeador no saco, caso eu resolvesse deixar minha pele mais latina, já que andava branca demais. Minha felicidade era ficar dourada e não vermelha, o que me diferenciava, definitivamente, da Anne Hathaway que existia em mim.

Enviei uma mensagem para Lupe, com um coração, dizendo que estava saindo e deixando a chave na planta ao lado do canil vazio. Ela respondeu logo em seguida, agradecendo e pedindo desculpas por esquecer as chaves em casa. Logo recebi mais uma, dizendo que não teríamos aula naquele dia e que bastava entrar no site da facul e baixar uma dúzia de textos sobre Picasso, Juan Miró e Henri Matisse. Fiquei feliz e fiz uma dancinha comemorando, teria um dia inteirinho meu e só para mim.

Cheguei ao parque, o sol estava pecaminoso. Uma área daquela região estava isolada para gravação de um videoclipe, achei bacana, ao mesmo passo que achava uma merda perder espaço para alguma cantora pop superfamosa que nem patinava por ali de verdade. Depois desse pensamento, bati na boca e me puni com uma mordida mental na língua, lembrando de um clipe da Shakira, minha diva #3.

Sentei-me no banco de pedra e troquei o Nike pelos patins, eu gosto mais de patinar do que de andar de bicicleta, embora goste da ergométrica e precise dar uma malhada nos glúteos. Estava bem tranquila, olhava para um afrodecendente com cerca de 1,90 m, braços tatuados e dando condição, quando meus olhos foram sugados para um loiro, alto de cabelos longos e olhos loucamente verdes. Eu sempre esperei vê-lo em companhia de Adam, mas o único que apareceu no Trifólio foi Jesse.

Ali, do meu lado, andando ao lado de uma morena desconhecida, estava nada menos que James Valentine, a prova viva de que todo, todo, evidentemente to-do pokemon evolui.

Tive três tipos de fisgadas baixas antes de pensar em todas as coisas que eu poderia fazer com um dos melhores amigos de Levine, só pra atingir o alvo.

Um golpe baixo e certeiro. Coisa de cachorra, confesso, mas era isso o que eu queria, não era? Ser vista. Tendo um dos caras da banda para mim, com certeza chamaria atenção de Adam. E quem seria melhor que o Kurt Cobain cover? Tudo bem que o Jesse era pegável e me parecia o mais inteligente do grupo, mas eu não queria um nerd pra assistir todas as temporadas de Arquivo X comigo, queria o corpinho malhado na minha cama - ou outro lugar que o bendito escolhesse, isso era o de menos.

Certo, eu só tinha um problema e ele tinha cerca de 1,65 m, 45 Kg, cabelos compridos e pouca bunda. Quem seria a garota? Não importava, eu precisava chamar a atenção do casal e me aproximar do gato. Minha santa deusa, o que eu faria perto daquele cara? Ele tinha a essência de "amigo do outro" que faz toda mulher pensar duas vezes antes de se aproximar e que, definitivamente, dá um gostinho a mais. Fora dizer que, quando o amigo do outro era daquele porte, minha amiga, era um bom motivo pra se jogar geral.


Com muita astúcia, comecei a patinar, coloquei os fones de ouvido - que peguei de última hora, quase esquecendo ao sair de casa - e dei play em Wake up call, que é o ápice do devaneio com aquela melodia que te faz arrancar a roupa cantando "He won't come around here anymore. Come around here? I don't feel so bad", uma loucura!

Corri, dei umas piruetas, e percebi que ele estava entretido com sorvete de morango ou de frutas vermelhas, precisaria ver mais de perto para confirmar. Sorvetes me perseguiam, ironicamente e eu estava começando a me sentir desesperada em não ser vista por integrantes daquela banda em questão. Medida drástica parte 3, lá fui eu patinando até me jogar em cima dos dois.

Exatamente, fingi uma queda, que não fingiu ser dolorida, porque doeu mesmo. James, em alguns segundos, estava ajudando a namoradinha a levantar e me ajudando a ficar em pé, também. Como percebi que a rival estava bem, comecei a fazer barulho de dor que deixam homens como cachorrinhos, mortos de pena.

- Você se machucou? - ele segurava minha mão, atencioso.

- Minha perna está doendo. - choraminguei.

- Precisa ter mais cuidado moça. - a acompanhante falou.

- Me desculpem, eu estava, entre... uau. - eu disse, fingindo só prestar atenção nele naquele momento. - James Valentine?

Notei que ele ficou sem graça e sorriu de lado.

- Sou eu mesmo e você é a...

- Muller, Lenah Muller. - levei a mão ao pescoço, inconscientemente, para ver se não tinha esquecido a corrente Levine por ali, dando sopa e me entregando. Não tinha. - Estava ouvindo Maroon 5, a culpa é sua por me derrubar. - eu sorri e ele retribuiu.

- Acha que já pode andar?

- Preciso de mais uma ajudinha pra tirar o patins e calçar o tênis, se não for incomodo.

- Imagina. Tudo bem pra você Becca? - Becca? Rebecca... Rebecca? Senhor me manda a corda, eu amarro no pescoço e você puxa, pode ser? O cara tá saindo com a Rebecca Black? E quem fez uma plástica nela? Meu caneco colorido, a guria fez uma lipo ou tirou as costelas? Estou em estado de choque. Tentei respirar, mas acho que fiquei chocada demais, demais mesmo, porque James olhou pra mim e começou a rir. Rebecca parecia enfurecida.

- Eu... é... perdi alguma coisa? - um outro loiro chegou e eu percebi que tinha a quase a mesma idade de Becca. Aquilo explicaria o meu engano e me daria um passe livre? Era o que minha mente maníaca e psicopata esperava.

- Essa moça acabou caindo por aqui e vou ajudá-la a se recuperar, se quiser levar a Becca, ligo pra encontrar vocês.

- Tudo bem. - O cara novinho deu um beijinho na garota conversou alguma coisa em voz baixa e eles saíram.

Fiquei olhando e esqueci de fingir que doía alguma coisa, mas era choque demais ver um cara do Maroon 5 com aquela menina que tinha idade pra ser neta de qualquer integrante da banda.

James olhou para onde meus olhos seguiam e quando voltei a olhar para ele, acabamos nos encarando e trocando um fodido olhar.

Como o cara era lindo. Fiquei estática, mas tinha um plano uma meta, não desistiria assim tão fácil.

- Desculpa, é que eu pensei que...

- Ela é namorada do meu primo, nada demais. - deu de ombros.

- É que vocês dois estavam... - puta merda, dei mancada. Tinha dado a impressão de não ter visto ele quando me joguei em cima de seu corpão.

- O quê?

- Nada. - disfarcei.

- Tudo bem. Vai querer ajuda com o tênis, ainda?

Droga. Ele era muito Kurt Cobain, não dava pra ficar normal ou fingindo. Desisti de manter a máscara e tentei concertar as coisas. Era importante para a minha moral latina-sulista pegar aquele cara. Se eu não conseguisse, e apostava comigo mesma naquele momento, ficaria cinco meses sem fazer sexo com estranhos.

- Posso tirar sozinha, obrigada. Você é gentil e eu quase me aproveitei de sua boa vontade.

Como eu estava ancorada nele, perto da mureta ao lado do carro de sorvete, só me virei e já estava sentada. Comecei a tirar a bota do patins, quando a mão dele se precipitou e começou a tirar os nós do cadarço.

Olhei para James e encontrei olhos de predador e um sorriso malicioso. A música do clipe do artísta desconhecido (ou seria Bruno Mars?) estava ressoando e a agitação ao redor era grande, mas nós estávamos sozinhos ali durante aquele curto olhar de cumplicidade.

- Vou te ajudar e depois a gente podia tomar um sorvete. - Droga! Sorvete não, cara!

- Eu vou adorar. - sorri para ele entreolhares, enquanto o via massagear meu pé e tornozelo, perguntando se doía, enquanto esfregava para cima e para baixo. Eu estava prestes a dizer que doía sim, mas doía mais em cima, entre as pernas, só de sentir aquelas mãos gigantes com pequenos calos me massageando toda. Ok, era só o pé, mas me permiti divagar.

Acordei do transe, fui sutil e agradeci, colocando o tênis em seguida.

Valentine segurou minhas mãos para que eu ficasse de pé, tudo muito devagar e com paciência, me seduzindo, evidentemente. Estava dando certo. O cara tinha 32 anos de puro deleite e estava ali, no papo. Como podia ser amigo e da mesma banda que o outro? Fiquei sem ação quando, certeiro, rápido e objetivo, James tocou meus lábios e depois passou a mão por minha nuca, me puxando.

Foi rápido demais para que eu pudesse fingir que não gostei ou que gostei meio termo. Lá estava eu, com a boca mergulhada na dele. Fácil como tirar doce de criança, durante o sono. Já que eu estava ali mesmo e, como não sabia se o Adam um dia olharia para minha cara pra dizer algo além de "quero de creme com cobertura de chocolate", resolvi aprofundar o beijo.

Cara, que delícia. O homem beijava tão bem que me violava com a boca. Os lábios passeavam devagar pelos meus. Primeiro explorando os lábios inferiores e depois mordiscando-os até sugar todo o meu ar, ao passo que ia delirando em minha ação atirada de colocar as mãos agarrando seus cabelos loiros, suspirando com o beijo. No meio da "rua", com um sol de matar na cabeça e o corpo derretendo tanto quanto eu com aquele beijo.

Separamos os lábios e tentei recuperar o fôlego. Não combinamos, mas o 'uau' saiu em sintonia. Rimos sem-graça e voltamos a nos encarar.

- Qual é o seu nome mesmo?

- Lenah Muller.

- E qual música você estava ouvindo quando caiu do céu bem no meu colo, Lenah Muller?


Conversamos um pouco e passamos a tarde juntos. Zuamos com a tal Rebecca Black e o primo de James; falamos de música, teatro, cinema, Maroon 5, bandas favoritas, vida de artista e o assunto Levine não chegava. Eu não queria ser a primeira a falar, mesmo porque seria idiota da minha parte esconder que conhecia o cara. Foi nesse momento crucial que o telefone dele tocou.

Era o Adam. Jesus, era o Adam Levine! Eu tinha certeza. Absoluta certeza, pra ser sincera... e não se tratava de premonição, porque era uma video-chamada e eu vi ele. Me esquivei para ficar longe do ângulo da câmera. Nós estávamos em um barzinho cult perto da pracinha onde eu patinava e já eram quase 6 pm.

Os dois conversaram e eu fiz de tudo para não ouvir, queria isolar a voz que gritava "cachorra" na minha mente. Eu ia usar o cara pra chegar no outro? Muita sacanagem... Pensando bem, se fosse um homem com duas mulheres amigas, não pensaria duas vezes. Ok, isso não era bem verdade, mas me reconfortava, então acabei ouvindo o finalzinho da conversa com atenção.


- Vou acompanhado, a Anne vai estar aí?

- Of course, com quem vai vir? A namorada do seu primo? - os dois desataram a rir.

- Não, vou com a garota que me livrou daquela chata. Isto é, se ela aceitar o convite.

- Garota?

James ignorou Adam se dirigindo a mim. Estávamos lado a lado, em um banco redondo de canto, e ele colocou a mão em minha perna, em uma parte sensível, já que eu estava de short, e deu uma leve apertadinha, aproximando o rosto do meu e sussurrando em um beijo.

- Aceita, princesa?

Como, me diga, como, em sã consciência, uma mulher recusa sabe-deus-o-que com um homem loiro, alto, solteiro e gostoso tocando as coxas dela e sussurrando em um beijo?

- Sim.

Adam deve ter visto o beijo e ouvido os sussurros.

- Hey, alô. Está aí James? - o loiro se recompôs.

- Ela vai.

- Beleza, então esteja aqui às 9 pm.

- Combinado, passo aí às nove.

A ligação foi encerrada e eu fui beijada com uma delirante calma. Devo dizer que a ficha não tinha caído? Não tinha. Eu mais loirão, igual a casa do Levine às nove? Balela.


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