Reinações Múltiplas: Educação Superior: sem sapatinho de cristal
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Educação Superior: sem sapatinho de cristal


Franciele Cristina Freire[1]

É difícil dizer o que os acadêmicos esperam de uma instituição de Ensino Superior. Presume-se que adentram a Universidade em busca de aptidão para exercício de determinadas funções que elegeram durante a trajetória escolar – além de realizar uma escolha capaz de suprir suas necessidades culturais, científicas, emocionais e financeiras; formando-se, assim, na profissão dos seus sonhos. Ou, talvez, essa versão maquiada não passe de um conto de fadas.

O “felizes para sempre” da formação nacional não tem contado com a ajuda de sua Fada Madrinha, do contrário, as estimativas do Inep – com relação ao fluxo de matrícula, ingresso e conclusão no Ensino Superior, apresentadas em outubro de 2011 – não apontariam defasagem de 5.405.460 acadêmicos no momento de vestir a beca e de segurar o diploma.

As más línguas diriam: “entrar é fácil, sair que é difícil”, e o Censo da Educação Superior 2010 está de pleno acordo. Ocorre que, de maneira geral, seis milhões de alunos se matricularam em instituições públicas e privadas; que, desses seis, apenas dois milhões ingressaram à academia e, como se fosse pouco, só novecentos mil concluíram seus estudos.

Com base nessas estimativas, quais seriam as perspectivas reais de um ingressante acadêmico, haja vista que, depois de efetuar a tão sonhada matrícula, 75% das carruagens viram abóbora?

Minto nos diz, em seu livro Reformas do Ensino Superior no Brasil, o público e o privado em questão, que a grande mudança em jogo, no Ensino Superior, está focada na ação direta do setor produtivo e financeiro, bem como na organização do sistema de ensino e pesquisa para executar tal mudança. Ou seja, se por um lado temos a ação direta do mercado de trabalho impondo o perfil profissional do novo acadêmico, também temos a ação direta da organização acadêmica (e aí está o docente) como agente de equilíbrio entre a qualificação exigida pelo mercado e a “educação permanente” (aprender a aprender).

Portanto, temos como finalidade primária da Educação Superior, conforme a LDB, “estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo”; Obviamente, encontraremos (na quinta finalidade da educação superior) um quesito que engloba o profissionalismo – tratado como fruto de permanente aperfeiçoamento e integrador de conhecimentos. No entanto, a principal ideia desenvolvida ao decorrer de tais finalidades está vinculada ao estímulo do conhecimento e não ao ingresso no mercado de trabalho.

Ora, se os profissionais da educação superior estão direcionados a “suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional” e o acadêmico é integrado ao Ensino Superior com o olhar voltado exclusivamente a experiência profissional e, consequentemente, ao lucro, então temos aí um choque de princípios.

Para o acadêmico – mediante fatores internos ou externos do mantenimento de um curso superior – torna-se mais “rápido”, e até viável, abandonar a faculdade e buscar conexão com o mercado de trabalho por outros meios.

Ainda sobre o ensino acadêmico e o rumo que a academia oferecerá ao então graduado, Minto ressalta que “as noções de empregabilidade e competência (...) tornam-se centrais, (pois) trata-se da capacidade individual de adaptação ao mercado de trabalho”. Em outros termos, a competência do indivíduo em ser ou não “empregável” é individual e independente ao sistema de ensino; Nesse quesito, a ideia de inclusão social é rompida e resta ao acadêmico contentar-se com o estímulo ao conhecimento.

Em suma, o brasileiro antagoniza o elo de aprendizado em seu acesso ao curso superior, ingressando pela motivação profissional; o que tem levado muito príncipe a desistir da coroa e se contentar com um bom emprego de cocheiro.



[1]Professora de Língua Portuguesa, graduada pela PUCPR; escritora de materiais didáticos, fanfictions, blogueira do Reinações Multiplas; Revisora e editora da Revista Eletrônica Ilícitas; Revisora e beta do site Wonderland Fanfictions; Cronista contribuinte da Revista Digital Saia e Salto Alto.

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