Você pode negar a si mesma que está apaixonada. Pode negar ao seu coração e a sua mente, mas o corpo não consegue esconder as sensações de tesão e loucura. É muito mais simples do que poderíamos imaginar. Trata-se de comunicação não verbal.
Nada de palavras, apenas a linguagem corporal, agindo de maneira extremamente aquém a realidade exigida pela mente. O corpo só faz aquilo que o subconsciente ordena. E o meu suplicava por um toque daquele homem.
Já fazia uma hora desde que havíamos chegado. Como eu presumia, a casa era um luxo. Digna de filmes hollywoodianos da mais alta e fina produção. Era como se eu estivesse em uma realidade paralela, recostada a esperança de terminar a noite grudada a Adam Levine.
Assim que Valentine e eu entramos no palácio real, senti uma ânsia de vômito inacreditável, a última vez que aquele tipo de sensação horrível havia se apossado de mim, eu tinha 13 anos e estava prestes a dar o meu primeiro beijo de língua. Foi cômico e desesperador, além de ruim e estranho.
Nada comparado ao que eu senti parada na porta de recepção da casa de Adam, em Paradise City.
Uma praia gigantesca, um paraíso (como o nome sugere) repleto de mulheres estonteantes, homens de corpo sarado e dinheiro no bolso; pessoas de grande poder aquisitivo e, para deixar o mundo mais real, diversos latinos de origem ilegal.
Aquele lugar, sozinho, sem nada e ninguém, já fazia qualquer ser humano normal se sentir nas estrelas, prestes a ter um colapso nervoso causado pela beleza. Mas estar ali, na mansão de Levine, com um de seus melhores amigos (que acabara de me dar um beijo cinematográfico, dentro de um esportivo que custava a soma total do dinheiro que minha avó recebeu a vida toda, incluindo a aposentadoria) era fabuloso, extraordinário e surreal.
A vida não poderia ser tão intensa e inacreditável, poderia? A resposta é: sim, poderia Muller.
E foi o que constatei, assim que James deixou de segurar minha mão, quando saíamos do carro e subíamos as escadarias da porta de entrada, para encontrar Levine e lhe dar um abraço.
Os jardins eram gigantescos e me lembravam cenários de filmes europeus, em que havia um chafariz centralizado, com uma estatueta de mulher nua, árvores exóticas plantadas estrategicamente e canteiros de rosas, orquídeas, amores perfeito ou seja lá quais fossem as classes florais. Tudo parecia fazer parte de uma miragem e aquela era apenas a entrada da casa.
James se voltou para mim, depois de cumprimentar o amigo e eu já sentia a angústia de ver tão de perto o homem da minha vida, cara a cara comigo, pela primeira vez, sem que eu estivesse atrás de um balcão ou com a roupa de trevinhos verdes.
- Essa é a Lenah, minha amiga. – Ouvi James falando algo semelhante, depois dos segundos em que os sons do ambiente se foram e a sinfonia dos elfos tocou em minha imaginação fértil.
- Muito prazer Lenah. – ele olhou pra mim. Falou comigo. Ele-falou-comigo. Falou comigo, entendeu? Comigo.
E eu não sabia fazer nada além de olhar para os olhos azuis em minha frente; a maldita barba por fazer, a boca desenhada, o perfume que eu sentia e... James segurou minha mão.
- A Lenah é fã da banda, nos conhecemos no parque.
- Maneiro, vamos entrar?
Eu não conseguia falar ou responder aos instintos. Meu corpo parecia gritar sozinho. Era exatamente o que ele fazia. Gritava em chamas. O que diabos eu precisaria fazer para demonstra àquele cara que ele estava perdendo a grande oportunidade de comer a mulher mais gostosa de todo o raio entre Brasil e Estados Unidos?
Entramos. Se a vista frontal era elegante e sofisticada, o que encontramos dentro da construção de tijolos (será que existe cimento no paraíso?) e vitrais gigantescos fumês, foi a autenticação do meu passaporte de Pobre Feliz.
A sala era clássica, como eu havia esperado, um tanto espartana, com aquilo que realmente pudesse ser exigido e interessado no ambiente, mesmo assim deixava qualquer um babando. Tons neutros desfilavam por abajures de formas desconexas, uma obra de arte do período neo-clássico estava exposta, com suas cores suaves e revoltantes, remetendo a um sonho, uma tormenta ou sensações de leveza e turbulência – muito inspiradora e contrastante.
O chão era revestido por um assoalho de madeira maciça envernizado e havia um carpe macio sob o conjunto alinhado de sofás pretos de couro. Uma porta (ou eu deveria dizer um portal?) levava para outro ambiente, o qual revelava uma sala de confraternização agradável, com música ambiente, um bar no canto inferior, sofá, pufes, violão e um pouco mais de agressividade visual – expondo uma tela sob o fundo da habitação, com um guitarrista de cabelos compridos e cacheados, vestindo calças de couro pretas, debruçado sobre sua apaixonante guitarra vermelha.
Tudo era tão exótico e impressionante que resolvi piscar. Depois de caminhar e segurar firme a mão de James, a minha primeira reação ao entrar na casa do homem dos meus sonhos foi piscar.
Era patético que meu sistema emocional tivesse entrado em colapso nervoso, mas eu não tinha controle sobre o que o meu corpo fazia naquele momento. Portanto, resolvi que o melhor era sorrir, acontecesse o que acontecesse: parecer uma boba feliz é mais gentil do que parecer uma boba enfunada.
Encontramos dois caras sentados em frente ao telão que mostrava um Porshe amarelo e uma Ferrari vermelha correndo nas pistas de um Need For Speed que eu desconhecia a versão. Ao lado do mais alto, de cabelos castanhos, havia uma ruiva debruçada, gritando alguns incentivos e bebendo o que parecia ser vodka.
Outras duas mulheres estavam no bar preparando o que devia ser pina colada, enquanto riam e fofocavam sobre alguma coisa. Usavam vestidos insinuantes, que não evidenciavam curvas, senão corpos magros e retos. Eram altas e tinham cabelos loiros.
Valentine aproximou a barba loira do meu pescoço e perguntou se eu estava bem, no que eu sorri e lhe dei um beijo no rosto. Ele deve ter percebido que eu não me sentia à vontade e teve a excelente ideia de me apresentar para uma garota, já que mulheres se entendem...
- Anne!
Uma das mulheres no bar se voltou para James e ele deu um aceno, abrindo um sorriso. Nesse momento, Jesse entrou pela mesma porta em que havíamos passado e deu um tapinha no ombro de James, oferecendo um meio abraço ao amigo e deixando o braço pousar em seu ombro, enquanto abria um meio sorriso e, depois, olhava para mim.
- E aí cara?
- Preciso falar com você, porque não atendeu de manhã J?
- Coisas.
Jesse se limitou a responder, sem tirar os olhos de mim.
- Amiga nova?
Eu ainda não tinha certeza se estava assistindo tudo do meu corpo ou de um corpo paralelo, mas notei que a loira do bar se aproximou, com as pernas em evidência, um sorriso nos lábios e, então, beijou Adam – que estava perto de nós três, já que nos acompanhara até aquele ambiente - antes de lhe entregar uma taça com a bebida que havia preparado.
Fiz um esforço para não grunhir de inveja e me limitei a registrar tudo aquilo como aprendizado, para não deixar que homens gostosos voltassem a me deixar tão louca quanto o senhor Noah Levine me deixava.
- Muito prazer, me chamo Lenah Muller.
Foi a primeira vez que abri a boca e percebi que Adam se ajeitou ao lado da namorada para me olhar melhor.
- Tenho impressão de que já nos conhecemos. – eu cumprimentava Jesse quando ouvi essa frase da boca de Anne V.
Ela estava sorrindo e eu usei o meu charme, por pura defesa, a fim de olhar de cima a baixo para ela e então para Adam.
- Acho que não. – E sorri.
Era arriscado, mas necessário.
- Seu rosto me parece familiar, não trabalhamos juntas na Austrália, em maio?
- Não sou modelo. – Eu sorri e olhei para James. Disfarçar o nervosismo com uma dose de arrogância era o que eu fazia de melhor. – Mas costumo ouvir algo do tipo por ser parecida com a...
- Anne Hathaway . – Adam falou e deu um gole na bebida que recebera de Anne V. – É um prazer tê-la aqui, Lenah. Pode se sentir à vontade e beber o que quiser. James pode ser seu anfitrião hoje, se eu não estiver são sobre as duas patas. – Ele sorriu olhando para o amigo que me abraçava, em sinal de afetividade e brincadeira.
Só de pensar que estava ali, sem ser reconhecida como uma garçonete tive que aproveitar o momento e ensaiar mais o meu lado de exibicionista.
- Tenho certeza que vai ser inesquecível ver um dos meus ídolos bêbado, Adam. Posso te chamar de Adam, não posso?
- É claro que sim, fique à vontade.
Ele deu mais um beijo na vaca loira e saiu dali abraçado com ela. Não queria admitir que estava morrendo aos poucos de ver aquilo tão de perto, mas estava. Enquanto isso, James e Jesse iniciaram uma conversa e logo fomos sentar perto da piscina, que ficava nos fundos da mansão. Passamos um bom tempo por lá, entre conversas bebidas e brincadeiras. James me beijava com vontade e sussurrava coisas torpes em meu ouvido, sob o leve efeito do álcool.
Uma escadaria levava a um ponto alto de onde a piscina e o mar podiam ser contemplados. Observei aquele ponto estratégico, dei um beijo em James e disse que iria até lá para ver a paisagem. Ele assentiu e caminhei, observando bem as pessoas que chegavam à festa. A reunião de amigos estava prestes a se tornar uma balada agitada e tudo acontecia gradativamente. Anne e Adam haviam sumido de vista.
Uma ruiva se aproximou de mim.
- Olá. – ela sorriu e me entregou uma taça de champanhe.
- Oi. – Eu respondi e sorri com a mesma insinuação de superioridade que a mulher, segurando a bebida.
- Você é a nova namorada do James, não é?
Uma pergunta direta demais, eu pensei.
- Não, James e eu somos amigos.
A mulher pareceu debochada e então se recostou ao parapeito de vidro, observando o mar.
- Quando Anne me falou que ele estava com outra, tive que conferir você de perto.
Droga. Uma porcaria de mal amada vai ferrar meu caso extra-oficial com James? Isso seria arruinar a oportunidade de ficar mais perto de Adam. Já não bastava aquelas modelos serem lindas e estarem tão bem vestidas quanto eu, apagando o brilho de sedução que eu deveria ter naquela noite?
- Desculpe, qual é o seu nome?
- Melisa Simons. O seu é Muller. – O que Anne V andou falando de mim?
- Sim, Lenah Muller, Melisa. E, bem, eu espero não ter despertado sua inimizade por estar, ocasionalmente, com James.
- De maneira absoluta. Você apenas me... intrigou.
- Não sei qual é a sua relação com ele, mas posso te assegurar que...
Adam saiu de algum lugar remoto e obscuro, surgindo na porta que dava ao “terraço” onde estávamos.
- Não está importunando nossa convidada, está Melisa? – ele sorriu, com a lata de energético na mão, e deixou o braço pousar no meu ombro, causando uma onda de tesão por todo o meu corpo e me fazendo engolir saliva.
Eu não fazia ideia de que Adam pudesse estar por perto, tão pouco que apareceria e tocaria o meu braço. A mulher se limitou a sorrir e me observou, lançando o olhar para Adam em seguida.
- Eu não faria isso, Adam querido. – ela demonstrou sua ironia e saiu, pedindo licença.
Adam se posicionou no lugar em que Melisa estava e olhou pra mim. Meu coração estava acelerado e meu corpo quente. Minhas mãos estavam escorregadias e minha pernas bambas. Eu estava com uma vontade surpreendente de beijá-lo e arrancar a maldita roupa do corpo dele. Como um homem de jeans e camisa vermelha poderia ficar assim tão sexy?
- Está tudo bem? – ele perguntou preocupado e eu tive que me segurar no parapeito do terraço.
- Vou ficar bem.
- Quando vi Melisa vindo pra cá, depois de você, imaginei que era melhor ficar por perto. – ele ficou alguns segundos em silêncio, ouvindo o som da música que vinha da casa ou tentando se concentrar no barulho do mar - Não precisa ficar abalada com ela, é do tipo que late e não morde.
Adam sorriu e se recostou ao encosto de vidro, depois de colocar a lata de energético em uma mesa perto da "sacada".
- James está muito entusiasmado com você.
- Tem certeza? Acabamos de nos conhecer. – eu estava emocionada e tentava me concentrar em parecer normal.
- Eu conheço bem aquele cara, pode confiar.
- E por que está me dizendo isso? – eu o fitava com a maior força que poderia transpassar em meus olhos, gravando o momento.
- Porque também tive a impressão de te conhecer quando te vi. – ele se virou e me fitou. Pedacinho por pedacinho, fazendo um turbilhão de sensações me invadir.
- E se nos conhecermos? – eu deixei escapar.
- Então você mentiu.
- E se eu menti?
- Então eu quero saber o motivo. Afinal, estamos na minha casa.
Eu o observava louca de desejo. As palavras saiam tão seguras e tão fáceis daquela boca gostosa.
- Por uma questão de segurança, eu presumo.
- Por uma questão de curiosidade.
Eu consegui sorrir. Mais pela sensação de que estávamos dialogando, do que por achar graça naquele assunto.
- Digamos que você não me conheça, mas que eu sim te conheça. A resposta a nossa apresentação formal seria a de que, não, nós não nos conhecemos.
- Confuso e interessante. Quer dizer que se trata de uma meia verdade e não de uma mentira completa.
- Se trata de uma fã e seu ídolo. – dei de ombros, porque eu não estava mais aguentando. Dei um passo à frente e segurei a mão de Adam, com toda a coragem do universo reunida em mim. - Estou emocionada em estar aqui. Feliz e empolgada por estar com o James, é claro, mas ainda mais encantada com a sua presença.
Notei que meu anfitrião ficou embaraçado. Soltei a sua mão e desviei o olhar para o mar. A escuridão e o contraste com as luzes do jardim e da piscina, faziam aquela paisagem ser mítica.
- Eu agradeço o carinho. – ele tocou o meu rosto e me deu um abraço apertado. Estremeci sem medo, receio ou vergonha, nos braços dele e apertei com toda a força e carinho que nutria por aquela figura. – Percebi que não estava à vontade desde que chegou. – ele disse se afastando.
- Não queria ser inoportuna em me revelar sua fã e do cara com quem estou...
- Saindo?
Como eu não sabia o que dizer e ele sabia como completar, assenti com a cabeça.
- É isso.
- Vocês são adultos, vão saber o que fazer. Acho que nunca me apaixonei por uma fã. – ele sorriu. – Talvez por várias, mas nunca por nenhuma.
- Espero que James tenha o mesmo discurso. – eu disse sorrindo de leve em resposta e, em seguida, segurando a mão dele mais uma vez, dando-lhe um beijo. – Obrigada por curar meus anseios e incertezas.
Adam me olhou com um tom de dúvida e com a nítida impressão de que não sabia sobre o que eu me referia, mas eu me limitei a abrir mais o sorriso e sair dali, de encontro a James.
Não, ele não sabia que havia me incentivado a entrar em uma briga das grandes para tê-lo em minha cama, mas isso era o que menos importava naquele momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário