Eu sempre imagino que será você.
Nos domingos à noite, quando o céu já está coberto de estrelas, em um lençol negro de pequenos vaga-lumes, é como se escrevesse seu nome na mente e no peito, tecendo e bordando o amanhecer de uma nova semana, finalmente, ao seu lado.
Poetizo de forma irreverente e irrelevante, pois ninguém além de mim divide o desejo de esperar por um sinal que venha de ti.
Sonho e me iludo, pouco a pouco, reconhecendo no peito o apertar de um músculo bruto e pouco selvagem, domado anonimamente pelo seu amor.
Querido de minha alma, aprendi a viver sem você. Aprendi a viver sem te esperar. Mas não aprendi a deixar de ansiar sua chegada.
Apenas me sinto ardentemente conduzida pelo tempo e pelos ventos que sopram te afastando ou aproximando de mim.
Me confundo e vejo seus lindos olhos em outros olhos. Como se minhas mãos fossem um anzol atirado a um cardume, colhendo em si a primeira vida que morder a isca.
Não é assim que pretendo viver.
Me despeço de ti, meu querido. Dos recados sem nome e das formas indiretas de chegar a seu coração.
Me despeço não por mim, mas por você. Para que possa, em fim, seguir o rastro e a trilha que criei para o nosso amor.
Vem a mim.
Encontra-me.
Conduz os teus passos até os meus.
Busca por mim em teus sonhos e me ache.
Venta pro lado certo. Acompanha a maré que teu barco vai chegar em meu porto. E a embarcação de seus sentimentos será descarregada em mim.
Deixa que eu te conforte, que eu te console, que eu te abrigue. Dorme em mim.
Abrasa-me e pede para que eu seja o teu lar, enquanto estiver por aqui.
E depois, quando ambos cansarmos da calmaria, volta pro teu mar e rema... Vai para o desassossego das ondas de Iemanjá. Vai para o teu mar, meu pirata, meu poeta. Meu grilo falante. Meu amuleto de sorte. Meu cigano, meu malandro, minha bússola ao norte.
Vai e deságua nas tuas águas, sem sentir remorso de não olhar pra trás.
Mas antes de ir... Eu te imploro...
Chega!