Aqueles olhos e aquela voz
que se reproduzem em um ombro não amigo
numa postura desconhecida de traços semelhantes
Ele que parece muito com quem não é
com o que talvez não seja
Ele que não é meu e aquele que jamais o foi
aqui, do lado
sentado
e o espelho não nos mostra porque refletimos distintos caminhos
que nesse momento se cruzam lentamente em uma tentativa de expressar
quem somos
na profissão e no amor
ora semelhante, ora irresponsável e sem tesão
ele que não é meu
eu que não sou dele
e olhares que não se cruzam em uma verdade
mórbida
verdade incompreensível e devastadora.
E eu, e eu?
Oh, como sou nesse mundo de espelhos que não me refletem!
Mais dramática que Shakespeare em uma releitura de Antígona.
Não sirvo para clown, não sirvo para mim nesse momento de reencontro com a voz dos olhos castanhos que não eram meus.
E temo a saudade de alguém que nem conheci.
Bendita seja a vida que me regalou poesia.