Não dói mais como antes. Agora a dor é seca, não tem vestígio de choros a noite, nem tem aquele monte de ligações ou aquelas declarações idiotas no Orkut.
Pra começar, eu pensei que nem dor tivesse mais. Porque a cicatriz tem algo de perturbador, que te faz esquecer e, quando está desprevenida, percebe que está ali marcada na sua cara.
E comigo não foi diferente. Foram mais de vinte anos de expectativa. Acho que desde o berço essa dor e essa vontade me acompanham, mas eu não estou em paz. E a falta de paz, a falta de sobriedade me faz ser assim, estar assim. E me afundo no meu abismo, no meu sofrimento, com uma dor que dilata e inquieta a minha alma. Sou eu. Ninguém mais. Mesmo porque nunca existiu um ele.
Nunca.
Uma palavra que eu detesto usar. Que detesto ter que empregar em uma frase. Uma palavra que me persegue em diversos aspectos.
As aparências tomam tanta conta de mim que as pessoas custam a perceber como eu sou.
Disse que sou uma mulher feliz. Mitas vezes. E realmente sou. Não vivo momentos de felicidade, ao contrário, eu vivo momentos de tristeza.
Não sou triste. Sou um poço de felicidade que cai na foça e se afoga por não saber boiar, nadar, ou colocar os pés no chão.
Me prendam: eu sonho.
Sonho com homens que existem e com homens que eu nunca vi.
Sonho com fatos e com sentimentos.
Eu sempre estou criando uma história. Sempre sonhando.
Mas viver... bem, de viver eu entendo o que consigo movimentar.
E tudo é movimento.
Geralmente os meus movimentos me levam para algo como viagens dentro de uma esfera qualquer.
Quando estou na estrada, quando estou no campo, no parque, na mata, no mato, quando estou no banho ou quando estou a caminho de qualquer lugar, meus sonhos e meus pensamentos se fundem em realidade... e eu vivo muito mais do que um sonho.
Mas quando estou sozinha e desprotegida no meio da multidão... nesse momento eu fico realmente sentindo as dores da cicatriz.
Quem disse que cicatriz não dói, nunca viveu um desamor.