Reinações Múltiplas: THE WALKING DEAD
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

THE WALKING DEAD



Talvez o choro impeça que as pessoas enlouqueçam. Simplesmente há coisas que não podem ser reveladas, e há coisas que ninguém pode modificar.

Anne Rice


Prólogo

Do lado de fora da casa, uma multidão corria enlouquecida. Eram pessoas desesperadas que haviam perdido seus entes queridos e tentavam salvar suas vidas. O medo atravessava as entranhas e enlouquecia a qualquer ser vivo, embora a doce Catharine já não soubesse o que significava estar ou não vivo.
Ela estava em sua sala, pegando apenas o que poderia carregar, olhando para as fotos, para as paredes com os quadros, para o álbum em suas mãos, atordoada. Catharine levaria as fotos, teria de conseguir carregar, ainda que fosse um peso praticamente inútil, ela precisava, simplesmente, de uma lembrança. Uma segurança para seu subconsciente não desmoronar na loucura, ainda que não houvesse o que fazer, ainda que estivesse tudo acabado. Ela era uma sobrevivente.

-Catharine, deixe-me ajudá-la. – O velho amigo da família Houns estendeu a mão para a mulher alta, de cabelos castanhos, pele clara e lindos olhos que cintilavam em cor de mel. Por um segundo, Catharine hesitou, mas não havia mais nada para fazer, além de segurar aquelas mãos fortes e destemidas, que não eram as de seu esposo.
Estava tudo escrito desde o início dos tempos, teria de ser assim, como Deus havia ordenado. Ao menos Peter estava a salvo, ao menos tinha uma mão amiga para cuidar dela e do filho, já que seu marido, seu amor, seu homem, seu Charlie estava morto.

Capítulo 1 – Um homem de 1978.

Charlie Houns nasceu na cidade e condado de Lincoln, na Carolina do Norte, Estados Unidos, no ano de 1978. Naquele ano, em Long Beach, acontecia o Grande prêmio do Oeste dos Estados Unidos, realizado em 2 de abril, um dia antes do nascimento deHouns.
O vencedor da corrida foi o argentino Charlie Reutemann, que corria pela Ferrari. Em homenagem ao piloto latino, o pai de Charlie, Jhon Houns, nomeou o filho recém nascido. Mario Andretti, piloto americano da Lotus-Ford, ficou em segundo lugar na corrida, o que rendeu a Jhon uma noite regada de cervejas, para amenizar a decepção em perder para um argentino e o dinheiro que havia gasto, indo até Long Beach, bem na data que antecipava o parto de sua mulher.
Naquele mesmo ano, em janeiro, houveram boatos de que OVNI’s haviam sido avistados por policiais de New Jersey. De acordo com os relatos, cerca de doze objetos voadores foram vistos e perseguidos por veículos das bases de forças armadas, assim como veículos da Polícia do Estado de New Jersey. Naquele período – do nascimento do filho de Jhon - o grande assunto ainda eram os extraterrestres e o ataque que havia ocorrido ao policial Jeffrey Morse, que atirou em uma das naves alienígenas que, supostamente, voava baixo, enquanto um humanóide - com cerca de um metro e vinte - se aproximava do carro daquele policial, tentando estabelecer algum contato. Com toda a confusão, a força aérea interveio na ocasião e algumas pessoas alegaram terem visto pesquisadores empacotarem algo desconhecido, colocando o pacote em uma caixa de madeira e, finalmente, em uma caixa de metal. Mais tarde, o policial Jeffrey relatou sua experiência em uma carta.

¨*¨
-Um ano bastante conturbado. – dizia Charlie, enquanto bebia um gole de seu cappuccino espumado ao lado de seu companheiro de viatura, Lucas Downson que, por sua vez, comia uma rosquinha açucarada.
-Você teve sorte meu chapa – Lucas estava no banco carona e Charlie no de motorista – poderia ter nascido em 76, como eu, e enfrentar o surto de gripe suína.
-Aqueles anos foram bem difíceis meu amigo. – Charlie bebericava o café, olhando para um ponto fixo qualquer, perdido em pensamentos, com uma das mãos deitada no volante, onde descansou sua cabeça, apoiando o queixo. – Sabe Lucky, eu não imaginei que me tornaria um policial.
-Na verdade, eu também não imaginei. – o policial mais velho e mais baixo, estava deliciando sua terceira rosquinha, com a boca suja de açúcar, quandoCharlie olhou para o lado e sorriu, debochando.
– Você não imaginou porque, certamente, queria abrir um restaurante. – o amigo voltou sua atenção, entendo a piada e brincou:
-Se eu fizesse isso, iria a falência.
Os dois riam, conversando e iniciando a rotina de sentar e esperar por alguma confusão pelas redondezas, quando sabiam que as confusões raramente aconteceriam e que suas tardes seriam tranquilas, a medida do possível. Mas, de repente, perceberam uma movimentação estranha nos arredores da Loja de Derivados, da senhora Grey – Presidente do Conselho Regional de Patriotismo do Condado de Lincoln, famoso por guardar e cultivar a origem daquela cidade.
-A senhora Grey não pediria para entregarem gás a essa hora da manhã, pediria? – disse Lucky, guardando a rosquinha e se preparando para sair da viatura, que estava estacionada em frente a padaria.

-Com certeza não, Lucky. – Charlie também abandonou seu copo e caminhou do carro até os fundos da loja da senhora Grey, que estava cituada há´uma quadra, para saber se havia algum problema por lá. O olhar atento do policial não lhe enganava, algo estava acontecendo por ali.
Chegando a porta dos fundos, onde o caminhão de gás havia encostado, os policiais ouviram um gemido de mulher e flagraram um dos homens do caminhão tirando objetos do interior da Loja de Derivados, prestes a colocá-los em um saco e roubá-los. Nesse momento, com rapidez e astúcia, Charlie e Lucky sacaram suas armas e gritaram para os ladrões – eram dois - que parassem e colocassem as mãos aonde pudessem ser vistas, enquanto a pobre senhora Grey era agarrada por um deles, como refém.
Entrando com rapidez no interior da loja, em uma perseguição ao segundo elemento - que já havia abandonado o saco com utensílios, e corria em busca da fuga - Lucky viu que o homem sacaria uma arma e atirou no indivíduo duas vezes, sem aparente sucesso. O ladrão estava a uma distância considerável, pois havia atravessado a loja, saído pela porta da frente e corrido pela rua – que não tinha movimento algum, graças ao período do dia.
Charlie ainda estava em frente a refém e ao bandido, que, por sua vez, apontava uma arma para a cabeça da senhora Grey.
-Largue a arma e coloque as mãos aonde eu possa ver! - O policial estava certo de que tudo acabaria bem, com um pouco de sorte.
-Você não está em condições de negociar por aqui banzé. Vou levar a velha e sair, não tente me seguir ou eu mato a velhota!
-Abaixe a arma, agora mesmo! – ele falava em sua posição de defesa, mirando na cabeça do bandido, enquanto a pobre mulher chorava e tremia, com medo e aflição pela vida.
Nesse momento, do lado de fora, Lucky conseguiu se desviar de três disparos, encostado ao lado de uma parede, enquanto o bandido que fugia estava abaixado atrás de latas de lixo, em um beco.
-Saia daí agora mesmo! Mãos para cima, aonde eu possa vê-las! – mais um disparo e, então, o último. Lucky atingiu o bandido, que caiu desmaiado e baleado. O policial correu até o carro patrulha e pediu reforços, depois correu em espreita até a loja em que o amigo estava, mas quando voltou ao estabelecimento, a senhora Grey chorava e Charlie estava no chão, sangrando.

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