Lincoln Burrows corria pelas ruas de New York. Usava uma camisa branca, uma calça social e um par de sapatos Armani, além do habitual óculos escuro, dessa vez um modelo Louis Vuitton. Não era raro encontrar Lincoln fugindo de alguém, ele simplesmente precisava esconder a si mesmo, pois toda a polícia norte-americana estava atrás de seu corpo atlético, com intenções nada excitantes: cumprir sua sentença de morte, em uma cadeira elétrica.
Naquela tarde o irmão de Lincoln, Michael Scofield, estava na Carolina do Norte, na cidade de Lexington, no condado de Davidson. Mike levava em seu corpo a planta da Penitenciária Estadual de Fox River, a mesma que serviu para livrar ele, o irmão e outros seis detentos que cumpriam pena naquela prisão - além de conter uma série de pistas subliminares, que tirariam ele e o irmão do país, a caminho do México e, então, do Panamá (local em que permaneceriam escondidos, até que provassem a inocência do irmão, se é que provariam algum dia).
Lincoln e Mike tinham um inimigo maior do que a polícia americana, eles eram inimigos do Estado, que havia tramado toda a empreitada de acusação de Burrows, além de estar atrás de cada passo de Scofield, desde que descobriram seus planos e intenções.
Havia dois meses que estavam fugindo da polícia e muita coisa já havia acontecido. L.J, o filho de Lincoln, estava desaparecido, a Dra. Sara Tancredi, amante de Mike, estava a caminho de Lexington e Lincoln havia se dado mal em uma de suas investidas de procurar L.J, por isso corria como um louco, saindo de uma loja de roupas importadas.
Catharine Bochinni nasceu na cidade de Oklahoma, onde sua mãe foi abandonada grávida por Giovanni Bochinni, a principal causa de seu impulso de se tornar apta a polícia secreta. Caty tinha a intenção de vingar o nome de sua amada mãe, que foi cuidada por imigrantes mexicanos em uma casinha de condições precárias, sofrendo com dores no intestino ocasionadas pela sujeira com a qual mulher e criança tiveram contato.
Aos cinco anos de idade, Caty viu sua mãe morrer em uma cama improvisada com filetes de madeira, um papelão e alguns pedaços de espuma velha. Uma descendente italiana, com o sangue mesclado ao americano, filha de um contrabandista de origem fascista, Caty dedicou sua vida a estudar no orfanato em que foi deixada e alcançar um lugar nas forças armadas, ou no FBI, onde pudesse fazer justiça com as próprias mãos, se livrando de bandidos, fria e cruelmente.
Já fazia dez anos desde que havia saído da Casa Sant Louise, no condado de Kay, Oklahoma, e seus planos acabaram rumando para outros negócios.
Com a preparação que teve na polícia federal e todo o treinamento que recebeu na categoria de base que precede a formação final para o S.W.A.T, Caty recebeu uma proposta de Paul Kellerman, um homem que surgiu em sua vida como um fantasma em noite de sexta-feira 13. O homem lhe ofereceu um trabalho com a polícia secreta e Caty se viu fadada a aceitar, pelo simples fato de trazer em sua mente a propensão familiar em se unir a facções ilegais, que buscavam justiça individualista.
Não era algo que orgulharia Caty, não tanto quanto a S.W.A.T, mas era exatamente o risco que ela queria correr. Os trabalhos que Paul lhe passava eram todos muito simples, nada que tivesse verdadeira ação, mas ela tinha certeza de que o homem guardava a melhor fatia do bolo para ela. Tinha certeza de que no momento certo ela seria chamada para enfrentar a aventura mais emocionante de sua existência.
Caty tinha uma pequena cisma com o sexo oposto, ela gostava de brincar com os homens e de fazê-los ser um objeto descartável em suas mãos. Era sem dúvida um dos atributos que Paul havia encontrado de maior agrado na mulher de um metro e setenta e oito, cabelos castanho escuro lisos e curtos, belíssimos olhos castanhos e um rosto esculpido pelos deuses olimpianos. Aquela garota, na opinião de Paul, com certeza teria muito a contribuir quando chegasse o momento certo.
E havia chego. Caty estava no caso há praticamente um mês. Ela estava de olho na fuga dos malditos delinqüentes e observava, com maior atenção, o cara que era pivô de toda aquela confusão: Lincoln Burrows. Estava na cara que o irmão faria qualquer coisa para libertar o imbecil do Burrows, além disso, qualquer mulher sacaria um plano de fuga tão ingênuo como o deles, era uma pena não ter nenhuma policial capaz e suficientemente boa em Fox River, na opinião de Caty, ela sozinha daria conta daqueles trogloditas.
Lincoln continuava correndo, quando um jovem, com cerca de 17 anos e cabelos estranhos, empurrou ele, a fim de deter sua fuga. Certamente o jovem pensou se tratar de um ladrão e resolveu ajudar a sociedade, interceptando-o – ao menos seria isso o que um cidadão de bem pensaria, mas na opinião de Lincoln, que foi prejudicado, aquela ação só servia para mostrar o quanto os jovens de hoje em dia são desocupados, babacas e intrometidos.
Furioso por ter caído e estar sendo alcançado, Lincoln levantou rapidamente, segurando o pescoço do jovenzinho magricela, que usava roupas coloridas, e o empurrou sobre uma máquina de jornal vermelha, que estampava na capa do USA TODAY o rosto de L.J Burrows.
Com um pouco de sorte, Lincoln se desvencilhou das pessoas que estavam próximas e entrou em um prédio, onde as portas de vidro eram fumê, com o símbolo de um leão dourado. Parecia um prédio comercial, então Lincoln correu até a porta nos fundos do corredor, ao lado dos elevadores, escapando pela saída de emergência e correndo por um beco, que o levou uma quadra de onde estava.
Caty esperava pacientemente a ordem de aparecer. Mal podia esperar para entrar na história, mas precisava manter a concentração, afinal, não seria fácil assumir o papel que haviam lhe encarregado.
Mike estava com êxito em seus planos de encontrar Sara em Lexington, pegando em um de seus pontos de apoio o material que precisava para, em seguida, voltar a Nova York e ajudar Lincoln a encontrar L.J. Por ora, o máximo que poderia fazer era preparar os documentos falsos e mudar sua rota de fuga. Era um tempo curto, mas ele conseguiria escapar de toda essa confusão, sem deixar Sara, L.J ou Lincoln para trás.
Lincoln entrou no apartamento pela janela, assim que o morador havia saído. Ele precisava trocar de roupas e comer algo, para continuar sua peregrinação. Sem Mike por perto, era difícil encontrar um ponto de apoio, ele precisaria roubar um carro e encontrar um lugar seguro para ficar, mas estava abalado demais com o sumiço de L.J para conseguir pensar, em qualquer coisa, com calma.
Na sala de reuniões da CB entregas, uma empresa fantasma que servia para esconder as intenções dos serviços sujos do Estado, Caty esperava por Paul Kellerman. A morena usava o cabelo preso em um penteado de fios rebeldes, um óculos Ray Ban de grau e um blazer preto Gucci, combinando com as calças e contrastando com a camisa branca meio aberta. Nos pés, um par clássico de Oxford.
Paul entrou com pressa, usava um terno cinza e uma gravata listrada, cor de vinho. Os óculos escuros foram tirados dos olhos assim que alcançaram o corpo escultural que o esperava, tendo um sorriso no rosto.
-Boa-tarde, senhor Kellerman.
-Bochinni. – ele beijaria a mão da mulher, se não estivesse a trabalho. Um aperto de mãos selou o encontro e logo Paul indicou a poltrona, para que Caty se sentasse. – Por favor.
-Obrigada. – ela não sorria mais, percebeu que era um momento delicado. – Estou a sua disposição.
-É ótimo ter uma pessoa responsável na equipe Bochinni, por isso recorri a você. Já não há como deter esses cretinos sem a intervenção feminina e, evidentemente, você é o meu melhor contato. – orgulhosa, mas sábia o suficiente para permanecer humilde, Caty agradeceu e pediu que ele prosseguisse. – Lincoln está de volta à cidade, hoje de manhã o desgraçado foi visto na esquina da Houdson St com a Whort St e logo estava na Walker St com a Church St., ele está em todos os lugares, não conseguimos detê-lo.
-Desculpe senhor – Caty interrompeu. – Lincoln Burrows estava andando pelos arredores da Broadway e foi perdido? – com o gosto da incompetência na boca, Paul engoliu em seco.
-Sim, as falhas foram superiores e nosso trabalho é tapar os buracos, confio em você Caty. Vamos colocar o plano em ação.
-O senhor acredita que possamos fazer como estava combinado, ou existe alguma alteração?
-Será tudo como planejamos, nada fora do traçado. Qualquer problema, estarei te cobrindo e qualquer falha de segurança, quero que mate Lincoln Burrows, seu filho ou seu irmão imediatamente, não importa como. – gostando das ordens, Caty abriu o sorriso novamente.
-Aceita uma taça de vinho, senhor?
Mike estava preocupado com a demora de Sara. Ele estava no local combinado há quase meia hora e ela ainda não havia chego. “Precisa ficar calmo, ela está bem”, dizia sua consciência quando viu Sara se aproximar, com cautela.
-Graças a Deus! – Mike saiu do local em que estava escondido, sem pensar em nada e correu, abraçando e beijando Sara. Os dois trocaram um olhar, depois de separarem o beijo e perguntaram em sintonia “você está bem?”, com um sorriso, voltaram a se abraçar, mas logo separaram os corpos e Mike puxou a mão de Sara.
-Venha comigo, precisamos agir com rapidez.
L.J estava fraco e com fome. Ele sabia que a qualquer momento o pai e o tio o encontrariam, mas a fé não era o suficiente para alimentá-lo. Ele precisava comer, ou morreria. Seu corpo se revirava para um lado e para outro, amarrado, no chão, em um lugar escuro que lhe lembrava, de alguma maneira, a prisão.
Lincoln andava com cautela, pois as roupas que conseguiu na casa que arrombou não eram muito compatíveis com seu porte físico, ficavam um tanto quanto menores e chamativas, a verdade era que ele parecia um gogo boy, ou um cara gay que paquerava pelas noites novayorkinas, o que para ele era a mesma coisa. “Estou parecendo um frutinha”, sua mente pensou enquanto ele caminhava pela Mercer St, a procura de um carro.
Caty estava preparada, sabia exatamente como agir, além disso, estava armada. Não havia como dar errado, seria um tanto patético, ela sabia, mas faria como Paul havia mandado: “Não mate, não fira. Traga ele para mim sem nenhum arranhão e o entregaremos a Alexander Mahone, como deve ser. Burrows não se livrará da execução, como ordenou a Presidente”.
Aquele papo de “Presidente” era uma merda, na opinião de Caty, mas ela teria de cumprir os mandamentos, ou estaria fora. E ela sabia o que significava estar fora, significava morrer. Não, definitivamente ela não morreria nas mãos de um amador, como Paul, que se julgava superior a ela. Talvez, apenas talvez, a Presidente tivesse o mesmo valor que ela, mas, ainda que Caty desse valor ao poder feminino, ela sabia que poucas se equiparavam ao padrão dela.
Antes de ser a Isca, Caty foi até sua casa fantasma, para onde atrairia Lincoln, e trocou de roupa, colocando um modelo “dia a dia”, em que usava um casaco preto com zíper de lado, sobre uma camiseta de malha cinza, uma calça jeans e um all star. Nada que ela odiasse usar, ao contrário, era confortável ser normal, às vezes. O único acessório era o óculos de máscara.
O carro que Lincoln conseguiu não era ruim, estava tudo sobre controle, apenas as roupas lhe incomodavam. Antes de seguir pela Delancey St, a caminho da Stanton St, Lincoln recostou a cabeça no volante e se permitiu chorar.
Havia um longo tempo que não chorava, talvez anos, na verdade mal lembrava qual era a sensação de sentir lágrimas nos olhos, mas, ainda assim, queria chorar. Era uma reação que seu corpo deveria lhe assegurar, por ter enfrentado a morte da mulher de sua vida, da mãe de seu filho, de tantas pessoas inocentes, de detentos que passaram por seu caminho e tantas vidas mais. Era um peso muito grande carregar o olhar daqueles que haviam morrido brutalmente, mas ainda pior ouvir a voz de Verônica em sua cabeça, as últimas palavras que vieram por ocasião de, justamente, tentar salvar a vida dele.
Lincoln se perguntava se sua vida valia tanto assim. Perguntava-se se sua vida valia o preço de tantas outras, que acabaram sendo perdidas direta ou indiretamente. Mesmo assim, ele sabia que a culpa não era sua, que o gatilho não tinha seu nome. Enxugando as lágrimas, Lincoln deu partida no carro e foi para o endereço de seu destino, o possível local em que encontraria seu filho. L.J precisava dele e, ao lado de Michael, era a única razão de Lincoln Burrows se atrever a viver.
Caty sabia do local em que Lincoln acabaria aparecendo, pois havia tramado o esquema perfeito. Os jornais daquela manhã indicavam uma rua, com movimentação na tarde anterior, onde possivelmente L.J teria aparecido, sendo carregado por dois sujeitos encapuzados. A polícia estaria lá e Lincoln seguiria a trilha do filho. Ela sabia que os federias de plantão eram uma farsa, mais uma investida idiota de Pam Mahone, o imbecil que trabalhava com Paul, mas ainda assim serviria para seus planos de “salvar Lincoln”.
Com algumas sacolas de compra, Caty sairia do supermercado no momento certo. Paul estava posicionado e passaria a ela todas as coordenadas, dali em diante seria com ela.
Lincoln estacionou o carro e colocou um boné, que encontrou no banco traseiro, para disfarçar um pouco mais. Realmente se sentia inconfortável naqueles trajes, mas não seria uma roupa que o deteria, quando seu filho corria risco de vida. Ele sabia que as proximidades da Stanton St com a Attomey St eram a grande chave para encontrar L.J.
Com cautela, Lincoln se aproximou de uma cerca e observou um furgão parado a três quadras de onde estava. Ele via tudo de cima, preparando-se para descer apenas se não houvesse polícia suficiente. Não havia nenhum movimento, mas ele pode perceber alguns elementos que pareciam policiais a paisana, além de um carro suspeito. A rua estava calma, mas não poderia ir até lá, ou seria baleado.
Caty olhava para as sacolas, com a cabeça baixa, a fim de ouvir Paul com sua escuta, sem ser notada pelos clientes idiotas, que andavam ao redor.
“Bochinni, o elemento está na quadra de cima. Cambio”.
Caty sorriu, era o único sinal de que precisava.
Com as compras nas mãos, Caty deixou o mercado e caminhou tranquilamente pela rua, como uma mulher despreocupada que iria para casa. Foi até o fim da quadra, quando um garoto passou correndo e tentou roubar suas sacolas e sua bolsa. “Atordoada”, Caty gritava por socorro, tentando bater no garoto, que revidou com uma faca.
A intenção de atrair a atenção dos policiais, que estavam disfarçados por perto, foi bem sucedida. Os homens saíram em perseguição ao garoto, enquanto ela se debruçava segurando a barriga, com expressão de “dor”, “medo” e “ódio”. “Um golpe de mestre”, pensou ela. Eram três policiais de olho na rua e sobrava apenas um, concentrado demais no furgão para notar que Lincoln havia saído da ratoeira e se aproximara de Caty, em direção ao furgão.
-Ai! – o grito de dor vindo da voz feminina atraiu a atenção de Lincoln, que havia visto toda a cena e pretendia passar despercebido, mas acabou voltando – meio contrafeito com o próprio sentimentalismo – para socorrer a mulher.
-A senhora está bem? – Caty segurava a barriga, Lincoln não se lembrava de ter visto o ladrão cortando a mulher, mas o sangue em sua roupa, sua cara e choro, dor, pânico e horror, denunciavam outra coisa. – Oh meu Deus, aqueles idiotas foram atrás do almofadinha e te deixaram aqui ferida. – ele colocou a mão no ombro da mulher, olhando exclusivamente para o ferimento.
-Preciso ir para casa limpar essa porcaria. – ela dizia chorando, com ódio. Estava pálida como um fantasma.
-Eu vou chamar um médico para você. – ele não podia chamar um médico e isso só lhe ocorreu depois de dizer.
-Eu não vou a médico nenhum, se você me ajudar a chegar em casa, eu agradeço. – Lincoln olhou para o carro em que estava o policial a paisana e viu-o saindo, assim como o furgão.
-Droga! – ele não teria tempo de segui-los se ajudasse a mulher.
-Por favor senhor, minha casa fica aqui perto, eu te dou vinte dólares. – ela se agarrou em Lincoln, fingindo estar fraca e ele, finalmente, prestou atenção a ela.
O choque de perceber a beleza da mulher, e notar que ela estava agarrada a seu braço, sangrando, lhe despertou e fez com que uma corrente atravessasse seu corpo, numa fração de segundos.
Caty interpretava a “moça desamparada” como uma rainha do Golden Globe, era um talento que julgava herdar da parte latina em seu sangue. Com certeza estava se contendo para não rir da roupa patética que Lincoln usava, além de se conter para não fincar seu canivete nos olhos dele, que a miravam com intensidade naquele momento. Contudo, ao invés disso, ela estava segurando os braços fortes do fugitivo, com a melhor cara de dor que poderia fazer.
Imagine só, suplicar ajuda para um homem! Ela jamais faria isso, óbvio, mas era parte do show fingir ser vulnerável e sensível. Lincoln Burrows estava na palma de sua mão. Era uma questão de horas até estar nas mãos de seu chefe.
- Aonde está seu carro?
-Eu moro na Rinvington St, estou sem meu carro, me ajuda? – ela parecia muito irritada, aos olhos de Lincoln, não era normal uma mulher reagir assim a um assalto. Ele se preocupava em ficar ali e ver a polícia voltando, afinal, poderia ser pego desprevenido.
A cabeça do homem pensava a mil por hora, todos os detalhes lhe passavam. Caty percebeu que Lincoln estava pensativo e resolveu agir. Largando dos braços dele, deu alguns passos para o lado e pegou uma sacola no chão, fazendo um resmungo de dor e deixando algumas lágrimas escorrerem.
Sem saber o que fazer com relação a mulher, Lincoln segurou o braço de Caty – que estava prestes a reagir com um murro na cara dele, mas lembrou que deveria deixá-lo tocá-la – e pegou as sacolas, sentindo a blusa que vestia, sufocar sua pele, de tão apertada.
-aonde você pensa que vai? – perguntou a ela quando a ajudava.
-Você não quer me ajudar, eu posso muito bem me virar sozinha. Como disse, moro perto. – Lincoln observou o rosto irritado mais uma vez, a mulher era linda, depois tratou de puxá-la para a rua de onde tinha vindo. Seu filho teria que esperar.
-É claro que vou ajudá-la madame, o problema é que estou com um pouco de pressa.
-Solte meu braço. – ele não soltou, arrastava ela até o local em que havia deixado o carro, para levá-la em casa. – Eu disse para soltar o meu braço! – com um puxão rápido ela tirou o braço da mão dele.
Lincoln olhou bravo para a mulher alta, de pele branca e olhos em um castanho encantador, que teimava em sua frente.
-Vou te levar até em casa moça, sua barriga está sangrando, precisamos fazer um curativo, tem como me acompanhar?
-Você me puxou sem dizer uma palavra sequer e nem se deu conta da força com que me apertou, o que queria que eu fizesse? - ela parecia mesmo irritada.
-Quer saber? Eu posso te deixar aqui mesmo. Nunca vi uma mulher tão irritadinha com um assalto e a barriga sangrando. Deve ser alguma maluca! – ele não sabia porque estava perdendo sua energia discutindo com a mulher que tinha o rosto repleto de lágrimas que havia chorado na hora do ataque e a blusa suja de sangue.
Gemendo com uma falsa dor, Caty resolveu chorar mais uma vez. Era sempre uma boa saída.
-Eu estou assustada, tá legal? Eu já fui assaltada cinco vezes por aqui, chega uma hora em que você se cansa de gritar por socorro e entrar em pânico. – Tirando uma sacola da mão de Lincoln, que se sentia inutilmente culpado por ter falado daquela maneira com a mulher, Caty ameaçou ir embora sozinha. – Pode deixar que eu me viro.
-Não. – Lincoln segurou o punho da mulher e soltou um suspiro de frustração, pegando a sacola de novo. – Eu vou por as sacolas no carro e volto pra te pegar, precisamos sair daqui antes que os policiais voltem. – Caty se certificou de que eles não voltariam, assim que ela estivesse com Lincoln, teriam todo o tempo do mundo para ele ir até a casa dela.
-Por que não quer que os policiais voltem? – ela tinha de se fazer de desentendida, é claro.
-Não faça perguntas, apenas espere. – ele virou as costas e caminhou até o carro, levaria até onde ela estava, para evitar fazê-la andar.
-Eu não vou ficar aqui esperando, enquanto você foge com minhas compras, ai – ela fingiu uma dor na barriga. Lincoln virou os olhos e se voltou a Caty de novo.
-Vou buscar o carro pra te levar em casa, está na outra quadra, quer esperar sem se mover, ou esse ferimento vai ficar pior. – Fingindo-se emburrada, Caty parou de segui-lo e esperou.
Em um minuto, Lincoln colocou as sacolas no carro, deu partida e pegou a mulher na rua.
-Ótimo, aonde você mora mesmo? – ele olhou para Caty novamente, estava com a blusa levantada, olhando para o ferimento com cara de dor e nojo.
-O que? – ela olhou para Lincoln no banco do motorista, com a feição de distraída-com-dor.
-Ora, pare de mexer no seu ferimento, ele é superficial, mas do jeito que você está cutucando vai virar uma cratera. – revoltada com a ordem Caty fechou o rosto e fez um bico.
-Você não manda em mim, pare de me dar ordens. Eu nem sei seu nome!
-E eu não sei para onde ir, me diga logo em qual rua você mora.
-Está mandando em mim de novo? Ora...
-Moça. – ele parou o carro e olhou para ela. – Vai me dizer aonde mora ou não? Estou aflito em te ver machucada, mas não posso ajudar se não me disser aonde mora!
- Rinvington St, 180.
-Obrigado.
Ele dirigiu até lá e nenhum disse uma palavra. Levaram cinco minutos até estarem na garagem da casa de Caty, em frente a porta da cozinha.
-Vou te ajudar a sair do carro.
-Não precisa, eu posso sair sozinha. – ela abriu a porta antes que ele pudesse abrir, mas se fingiu de frágil na hora de virar o corpo para descer. Havia uma porção de sangue em sua roupa.
-Eu disse para esperar, mas a senhora é muito teimosa.
-Você não me conhece e está em minha casa, tem como parar de me aborrecer. – Caty disse essas palavras já nos braços de Lincoln, que havia pego ela no colo para levar até algum aposento, em que pudesse fazer o curativo. Os braços dela estavam ao redor de seu pescoço, ele havia se sujado de sangue, as mãos dele estavam ocupadas, segurando o corpo dela.
Os rostos próximos fizeram os olhares se encontrarem, certeiros, e Lincoln penetrou sua alma com as garras verdes que possuía, assim como os olhos castanhos de Caty se encheram de confusão.
-A chave está na minha mão, preciso descer. – ele a olhava intensamente, sem prestar atenção as palavras. – Moço, as chaves. – ela disse despertando-o do transe.
-Ok, me de elas. – Caty colocou o molho em uma das mãos que Lincoln deixou livre, para abrir a porta e o roçar dos dedos fez uma onda passar por ambos os corpos. Sem graça e furiosa, Caty pigarreou esperando que Lincoln abrisse a porta.
-Obrigada. – disse quando ele a soltou, gentilmente, no sofá. – você pode pegar o kit de primeiros socorros na terceira gaveta da pia do banheiro. – ela indicou o banheiro do térreo e Lincoln foi até lá.
A casa tinha um aroma delicioso de rosas misturado com produtos de limpeza. Parecia ser bem arejada e tinha um tom branco, que transmitia paz. O banheiro era estreito, mas muito simpático. Tinha um toque feminino, mas era impessoal, como a personalidade dos ambientes pelos quais Lincoln passou.
Lincoln voltou com uma caixinha de madeira decorada, que continha o nome “Primeiros Socorros” em vermelho, sobre branco. Ao entrar na sala, viu Caty apenas de sutiã e seu corpo esquentou no mesmo momento. Ele estava relutante para reparar na bela mulher, mas vê-la com uma lingerie cor-de-rosa, sobre a pele clara, com os cabelos escuros, mal presos, sentada sobre as pernas, foi uma imagem muito forte para não ser arquivada em sua memória sexual. “Não fosse esse monte de sangue”, ele pensou e se sentiu culpado de novo. Ao invés de ajudar a mulher, estava discutindo com ele e reparando em seus lindos seios.
-Você mora sozinha? – Disse Lincoln, enquanto se aproximava com a caixa. Caty ergueu os olhos e ruborizou, não se sentia muito bem com a cena.
-Moro com meu irmão, mas ele está viajando.
-Qual é o seu nome? – ele estava de joelhos, com camisa o incomodando, enquanto limpava o ferimento.
-Catharine Bochinni. – ela sentiu que deveria ter mentido, mas agora era tarde.
-Sou Lincoln. – Caty olhou para ele, concentrado no ferimento.
-Pode me chamar de Caty. – ele ergueu os olhos para os dela e ficou observando o rosto. A boca era muito bem desenhada e pedia para ser beijada com carinho e leveza, algo que ele não estava disposto a fazer, perderia tempo demais. Precisava salvar L.J.
Caty ruborizou novamente, os olhos dele pareciam devorá-la quando se fixavam em sua pele.
-Você teve sorte em não se ferir mais, Caty.
-Você acha? – ela fingiu preocupação, olhando com curiosidade a delicadeza que ele tinha em tocá-la, percebendo também que seu corpo estava arrepiado com o toque.
-Poderia ser muito pior, você não deveria ter tentado bater no pivete. – ela nem tinha tentado bater em ninguém, porque Catharine Bochinni não tentava, fazia. Se quisesse bater no garoto teria matado ele, com certeza, mas Lincoln não podia saber disso.
-Eu precisava me defender, como eu disse, não foi a primeira vez. – Lincoln fez um movimento para o corpo de Caty ficar alto, enquanto passava uma faixa em sua barriga. Os dois ficaram próximos, em uma posição questionável e ele sentiu que a pulsação da mulher acelerava em seus braços, quando soltou o corpo para prender a faixa, ficando cara a cara com Caty.
-Está nervosa Caty?
-Um pouco. – para seu ódio mortal, não era mentira.
-Costuma ficar nervosa assim? – ele falava com a voz pausada, perigosamente perto de seu rosto, enquanto as mãos trabalhavam em suas costas, para arrumar a faixa.
-Não. – ela engoliu saliva, olhando fixamente para Lincoln. – mas não é todo dia que um estranho entra em sua casa e faz um curativo em seu corpo, semi-nu. – ela sabia que poderia brincar com ele, e ao invés de ser a caça, lembrou quem era o caçador, a si mesma.
-Vou embora assim que terminar, não fique preocupada.
-Eu conheço você de algum lugar? – Caty disse se aproximando mais do rosto de Lincoln, que sentia o corpo cada vez mais tenso. Foi a vez dele engolir saliva.
-Não lembro de te conhecer. – ele se afastou. Não poderia ser reconhecido, estava vestido ridiculamente, justo para isso. – droga! – ele falou, assim que viu a camisa manchada de sangue. – minha roupa está toda suja.
Caty se concentrou em tirar os olhos do tórax bem definido, porque ainda que fosse engraçado ver aquela roupa minúscula em Lincoln, era tentador perceber o seu porte-físico. “Um delinqüente”, lembrou ela a si mesma.
-Me diz uma coisa, disse ela se levantando, sem se dar conta de que continuava apenas de sutiã. Ele a observou, o corpo era incrível. – você não está usando uma roupa sua está? – Lincoln ficou constrangido.
-Bem, é... na verdade...
-Foi o que imaginei. – ela sorriu e então soltou uma risada, segurando a barriga e dizendo um “ai” ao final, o que ele achou pateticamente sexy. O rosto dela estava iluminado no sorriso, parecia outra mulher. – Desculpa, mas eu acho que você amanheceu bêbado em algum lugar e acabou colocando a roupa errada. – ela sabia que precisava inventar histórias por ele, que era burro demais para fazer isso sozinho.
-Na verdade foi isso mesmo. – ele disse menos envergonhado do que deveria, mas era uma boa desculpa. – já vou indo, preciso me trocar.
-Espera.
Caty segurou o braço dele e sentiu que ambos tiveram uma pausa nos batimentos cardíacos, que voltaram a bater, acelerados ao extremo, assim que os olhos se cruzaram mais uma vez.
-É que... bem, meu irmão não está e ele deve ter o seu número. Já que me ajudou a fazer o curativo, acho que poderia subir e pegar uma roupa emprestada, quem sabe até... – ela olhou para o chão, envergonhada. – tomar um banho.
Era exatamente o que precisava para que ele ficasse lá o tempo suficiente dela contatar Paul e despachar o bandido direto para a cadeia.
-Acho que não é uma boa ideia, seu irmão ou seu namorado pode se irritar. – ele coçou a cabeça sem graça e ela sorriu, novamente aquele sorriso lindo que enchia seu rosto e o ambiente.
-Robert não vai se importar, porque não está na cidade e eu não tenho namorado. – Lincoln sorriu e Caty sentiu uma faísca queimar sua barriga, depois um nó na garganta. Ela nunca havia visto um sorriso tão... incrível.
-Se tivesse ele me mataria por estar vendo a namorada semi-nua, não é?
Percebendo que estava à vontade demais e não havia colocado uma camiseta, Caty cobriu o corpo com as mãos e ficou roxa de vergonha.
-Bem, enquanto eu me troco, você pode tomar seu banho e escolher a roupa, acho que são do mesmo tamanho.
Caty correu ao banheiro e pegou uma toalha, que enrolou na parte de cima do corpo, para tapar os seios.
-Melhor assim. – pensou alto, olhando para o corpo e viu que Lincoln ria, assim que virou para ele. – De que está rindo? – ela se irritou.
-Você fica uma gracinha envergonhada. – ela sentiu o rosto esquentando.
-Ora, e você fica ridículo com essa camisa. – ele olhou para o corpo e riu de si mesmo.
-Tem razão. – falando isso, arrancou a camisa e olhou para ela, ainda com o sorriso. O corpo de Caty sentiu um calor sem fim e ela percebeu que estava nervosa demais. – aonde fica o quarto do seu irmão? Não posso demorar. – ele jogou a camisa nos ombros. Caty tinha um nó na garganta, ele era irresistível e ela estava completamente interessada em um... delinqüente, fugitivo, assassino, condenado a morte! Lembrando a si mesma que deveria matá-lo e não desejá-lo, ela pediu que Lincoln a acompanhasse.
Tudo estava correndo como deveria. Lincoln havia pego a roupa no guarda-roupa do falso irmão de Caty, estava tomando banho, ela estava mandando as mensagens para o chefe, já havia colocado um vestido e feito algumas panquecas de blueberry, como sabia que Lincoln se identificaria.
-O cheiro está ótimo – disse Lincoln descendo as escadas.
-Resolvi fazer um lanche, ante que você vá...- ela olhou o homem nos novos trajes, estava divino – embora.
-Você está linda. – ele olhou para a mulher de cabelos soltos, com o vestido branco-florido e os pés descalços, era uma cena que ele gostaria de rever diversas vezes.
-Ora, você está muito bem, também. Aliás, melhor do que eu poderia imaginar que as roupas ficariam. – ele se aproximou da mesa, e sentou-se, sentindo o cheiro delicioso das panquecas.
-Eu adoro essas panquecas.
-É mesmo? – ela disse empolgada, para disfarçar a “surpresa”. – eu sou louca por elas.
-Posso provar uma?
-Fique à vontade. – ela se sentou e ficou olhando ele comer. Era mais encantador do que deveria.
-Não vai me acompanhar?
-Eu estou sem fome. – ela sorriu com as mãos apoiando o rosto.
-Você perdeu sangue demais, precisa se alimentar e beber líquido. – Caty franziu o cenho.
-Detesto quando você fala como se eu fosse uma criança. – Lincoln riu.
-Você é uma criança. – ela se ofendeu. Mostraria a ele quem era criança quando... quando... matasse ele.
-Não, eu não sou! – vendo a perna de Caty descoberta, por seu pé estar na cadeira, deixando a coxa e o joelho a mostra, do outro lado da mesa, Lincoln engoliu um pedaço de panqueca secamente, quase se engasgando, e decidiu que ela, realmente, não era uma criança. – está tudo bem? – ela foi ao outro lado da mesa e bateu em suas costas, erguendo os braços dele.
-Está! – ele disse entre tossidas, tentando se recuperar. Caty sorriu vitoriosa, ao lado dele, encarando-o enquanto segurava seus ombros.
-Viu. Você não deveria falar mal de mim.
Lincoln percebeu a boca próxima da dele e não resistiu em puxar Caty para seu colo e beijá-la; pega de surpresa, a garota deu um pequeno grito de dor, por ter o corpo movido com força, e depois tentou se desvencilhar, com as mãos no peito de Lincoln, que aumentou a freqüência do beijo, fazendo-a se derreter e abraçá-lo com os lábios implorando por mais.
O beijo violentou a mulher de tal maneira, que Caty se via suspirando alto e travando uma batalha com a língua de Lincoln. O homem, por sua vez, sentia uma frequência deliciosa em todo seu corpo, que era aquecido a cada toque dos lábios, frenéticos.
A respiração de ambos era acelerada e o corpo de Caty tremia, impossibilitado de atender a qualquer comando do cérebro dela, que não fosse “beijar mais”. Lincoln tinha o corpo rígido e o coração tamborilava sem parar. Até que ambos sentiram-se sem fôlego e afrouxaram os braços, parando o beijo, sem separar as bocas.
Nesse exato momento, a polícia secreta invadiu a casa. Caty olhou assustada o movimento. Dezenas de armas apontaram para ambos, Lincoln sentiu um nó na garganta, não queria ver Caty envolvida naquilo.
De trás dos policiais saiu Alexander Mahone, sorrindo.
-Muito bem senhorita Bochinni. Fez um excelente trabalho.
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