Me disseram que é ilusão.
Não, pior, disseram que é hipocrisia.
Eu, por acreditar no ser humano, em suas potencialidades e limutações sou hipócrita.
Eu, por ter pensamento positivo, esperança e motivação sou hipócrita.
Eu, por não acentuar os defeitos de meus alunos, por não mencionar apenas as suas debilidades, por cuidar das palavras ao comentar sobre seus dons e amores sou hipócrita.
Eu, por olhar todos os dias para distintos rotos, ouvir distintas vozes, sentir distintas energias, levar em conta diversas ralidades sou hipócrita.
Me cansaria de inumerar o que mais me torna uma mulher hipócrita e quanto amor hipócrita sinto por minha profissão, pelo meu campo e minha área de trabalho. Seria muito difícil transmitir em palavras o quão hipócrita eu tenho sido ao perceber meu aluno, observá-lo, pensar nele, enumerar suas debilidades E as potencialidades que ele possui, traçando em seguida as soluções para os deficites e deixando claro em meu ciclo que essa minha hipocrisia é para colaborar com a Educação de jovens e adultos.
Hipocrisia a minha em amar meus alunos com o cuidado de ser profissional, sem deixar que minhas próprias debilidades se unam as deles. E mais hipócrita eu sou em declarar em voz alta que faço o que amo porque quero e não por convenção ou por não ter coragem de seguir adiante com meus próprios sonhos.
Sou hipócrita em discutir Educação argumentando a favor do ensino-aprendizagem, sem ter formação bacharel ou licenciatura em Pedagogia, MAS tendo em meu currículo acadêmico - como licenciada que sou - as matérias pedagógicas como suporte para trabalhar com meu aluno, além do limitador horizonte de minha própria disciplina.
Não ensino Arte, mas imito-a. Vou entre traços e rabiscos, aquarela e exprssionismo barato "dibujando" minha própria escultura. Esculpo a minha alma, apaixonada pelo dom e a magia do ensinar, do observar e do persuadir.
Guardo como troféu diversos livros. Livros que meus alunos leram por intermédio da minha voz, por vezes rouca, lhes dizendo que fossem adiante e incentivando-os a descobrirem seu próprio caminho literário.
Guardo como notas as notas que eles me deram. Os julgamentos que vieram de sua parte, de sua opinião, do auxílio de seus pensamentos, das críticas de suas vozes. E das vozes daqueles que são mais sábios e mais vividos do que eu.
Sou uma hipócrita. Uma romântica, uma utópica, uma condenada a fazer de seus dias, dias felizes e de paz. Dias de amor e luz. Sou hipócrita quando visto meu jaleco, ainda da faculdade, e entro otimista em uma sala repleta de olhinhos brilhando em busca de diversão, namoro, bate-papo, brincadeiras, bagunça, tudo menos Educação. Sou hipócrita por acreditar neles. Por acreditar em mim. Por acreditar no meu trabalho. Por acreditar no meu país. Por acreditar em Deus.
Haja hipocrisia nessa minha vida.
Sou hipócrita ao me sentar na sala dos professores e não abrir a boca, sempre e quando o assunto é inconveniente para o recinto.
Sou hipócrita quando as fofocas começam e eu não participo do grupo de debates. Sou hipócrita quando deixo de falar para ouvir e aprender.
Jamais fui tão hipócrita em toda a minha vida como quando descidi ser uma professora, sabendo das dificuldades e injustiças dadas a categoria. Continuei sendo hipócrita ao dar o melhor de mim em aulas que não eram de minha disciplina. Fui ainda mais hipócrita ao conversar, entre lágrimas, pedindo para não destruir o futuro daquelas crianças, pois me sentia incapaz de continuar com algo que não me pertencia. Sou hipócrita ao falar a verdade. Sou hipócrita ao ouvir e não responder. E quando dou minha opinião sobre o assunto, sou ainda mais hipócrita.
Já fui chamada de muitos nomes dignamente, mas há poucos nomes que me ofenderiam mais do que dizer a mim "hipócrita".
Minha dignidade quase se resumiu a pó, não fosse eu enxergar o outro lado. O lado de quem diz.
Pouco ou nada sei sobre minha profissão. Pobre de mim, estou começando agora. Há cinco ou seis anos que me dignei a ser "hipócrita". E respeito cada um dos meus colegas, mesmo aqueles que não são "hipócritas" como eu.
Desejo a eles paz. Paz para que possam refletir os seus defeitos e as suas qualidades, pois antes de enxergar em si mesmo, será pouco provável que vejam nos outros seus reais valores.
Deixo claro que conheço os meus defeitos, que tento trabalhá-los e que faço diversas mudanças no meu dia a dia para me adaptar a cada situação. Por vezes esqueço de mim, por vezes me centro no outro. E mesmo quando esqueço de mim, ao pensar no outro, lembro de mim: de minha própria ação para com o próximo.