Reinações Múltiplas: Crônica do sétimo dia
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Crônica do sétimo dia

Sábado à noite. Eu poderia sair e ir pra algum lugar bacana, mas não sinto que seja o momento. 
Plaquinha mental: período pra me retirar e me curtir. 
Tive uma tarde de Amélia e Gabriela hoje. Metade limpando e curtindo a casa (e a playlist), outra metade cuidando do meu corpo e do meu cheiro. 
Se eu tivesse um parceiro sexual estaria com ele no quarto, na sala e na cozinha. Simultaneamente. Mas acho que antes adotaria um gato, só pra transformar o momento em um conto e poder descrever o "olhar do gato" enquanto nos enroscávamos como animais.
Hoje, tudo por aqui cheira limpeza e mulher. Presumo que não seria difícil trazer alguém pra dentro de casa sendo um sábado, estando solteira e me sentindo promiscua, mas não quero assim. Não seria meu eu maior se fosse assim.
Meu momento me pede carinho, compreensão, bom papo, atitude e sintonia espiritual. ~~ a lástima maior é que o parceiro sexual que eu queria pra essa noite não está disponível no mercado.
Me resta esperar que a mulher dele aproveite a cama, seja tão caprichosa, cheirosa, limpinha, prendada, Amélia e Gabriela quanto eu... e esteja tão disposta quanto "meu cravo e minha canela". ~~ mesmo porque ele deu a entender que andava "comendo mal" ultimamente, então fico na torcida pra que tenha um daqueles orgasmos de início de namoro. Ser casado por mais de cinco anos deve ser de um tédio sexual absoluto (a menos que a mulher seja como eu e a maioria das minhas amigas mais próximas, que adoram a ideia de pensar, viver, falar e fazer sexo).
Se eu fosse 100% bíblica o "não cobiçar o homem da próxima" garantiria meu lugar no purgatório esta noite... porque hoje estou desejosa e com muita saudade dele sentadinho do meu lado, com o cinto abotoado, o óculos de sol, o sorriso nos lábios... ou simplesmente com aquela boca gostosa, a barba por fazer e aqueles olhinhos castanhos reparando no meu "batom vermelho" às nove horas da manhã. Sinto falta de entrar no carro, ouvir ele dizer estaciona - em uma estrada rural no meio do nada - e pensar que naquele momento, finalmente, vai deixar de ser "o Doutor Instrutor" e insinuar algo erótico e louco. Passei algumas vezes por essa cena. O problema é que eu estacionava, o carro parava, a tensão contornava meu rosto e nada dele me olhar nos olhos e atacar minha boca. 
Que frustrante escrever fanfictions e não vivê-las ao pé da letra. Qualquer boa história teria rumado para "a mocinha e o protagonista rolando na relva, em meio a aula da tarde, com cavalos e vacas na paisagem rural", uma bela história bem humorada.

Lembro dele comentando sobre passar por meu bairro quando vem trabalhar e perguntando onde eu moro. Imagino que toda vez que ele passe em frente ao ponto de referência que eu dei acabe lembrando de mim. Será que um dia ele encontra minha porta? Torço pra eu estar na memória recente dele... entre os livrinhos da filha e o cartão de agradecimento, entre o imã de geladeira de Nossa Senhora e a trilha sonora que curtíamos juntos. 
Receio que não seja bem assim... mas ainda torço.
Torço pra que ele tenha me desejado um pouquinho quando viajávamos sozinhos entre os lindos bosques, campos e igrejinhas retiradas, no meio de lugar nenhum. Pra que ele tenha pensado em mim antes de me conhecer e pra que tenha esperado por mim quando já sabia quem eu era. Torço pra que ele fale de mim, como comentava de outras alunas, aleatoriamente. Torço pra que ele tenha receio de falar o meu nome, como se estivesse me evocando, porque quero que ele sinta medo de me querer por perto. Torço que para que assim, talvez, ele realmente me queira por perto. Torço pra tocar O Rappa, Armandinho ou Lorde cada vez que ele ligar o rádio. Torço pra que as piadas que ele faz no dia a dia sejam uma das que criamos juntos, sem querer, e que ficaram ótimas. Torço pra ele se frustre com alguma tarefa doméstica masculina e saia batendo portas, só pra aliviar um pouco da minha própria frustração em estar pensando nele.
 E, acima de tudo, torço para voltar pra aula e revê-lo o mais breve possível: natural, de rosto lavado, cansado do trabalho, depois de uma segunda-feira do cão, com alguma atitude diferente, daquelas que demonstram logo de cara que ele - em uma noite de sábado - também andou "torcendo por mim".