É difícil começar essa carta porque penso que já a escrevi mil e uma vezes.
Você esteve em meu subconsciente a vida toda e a cada segundo de respiração, esquecia meus pulmões ou qualquer resquício de necessidade sanguínea que meu coração pudesse ter, porque em minha mente só existia você.
Teu nome, que não existia, era fruto de pensamentos inesgotáveis e tentativas inválidas. Pensar você era meu porto. A segurança de minha alma. Sem você, não havia chão ou sentido, porque tudo era você.
Cheguei a pensar que lhe encontraria em meu trabalho, em minha rua, no mercado. Escrevi milhares de histórias, buscando o começo, o meio e o final ideal. Nos matei em sonhos e até te pintei de vilão. Pintei e bordei com sua imagem, até chegar ao recorte ideal e perfeito.
Aos poucos, com cada motivação e cada suspiro de amor que eu dava, trazia partículas suas para minha mente, desenhava-as em meu coração e contornava com meus dedos a sua face, o seu sorriso, a sua expressão. Te amei desde o meu primeiro suspiro.
E esse foi meu maior erro.
Pensei que fosse você a razão de minha vida.
A motivação de quem eu era e do que eu fazia.
Para cada cidade nova, cada amizade e cada ponte que eu cruzava, era o seu olhar que eu buscava. Um olhar ancestral e repleto de luz. Um olhar que me visse e me buscasse. Um olhar que pudesse me reconhecer. Mas você não se lembra.
Você não lembrou de mim e nenhuma das histórias que li, pintei, dancei ou escrevi foram a nossa história. Porque nossa história ainda não aconteceu.
E não aconteceu por motivos simples, complexos, estranhos.
Eu te amei demais. Por isso não pude te amar.
Descobri que o amor é algo que sai de dentro para fora. E que vem de fora para dentro.
Me iludi ao pensar que estaria cheia e plena com o amor que vinha de fora. Porque não há um retorno se não há um caminho de ida.