Há minutos atrás a ideia de me fazer sentir um peixe fora d'água era a intenção de alguém que, com muita segurança e preparação, contornava as respostas que não poderia dar às perguntas que surgiam de minha parte.
Me dei conta de que estava "pensando a situação" e, como boa estudante que sou, colocando em prática o que aprendi ontem nas aulas de filosofia.
Anos de prática e aprendizado são, inegavelmente, um atributo importante. A experiência, a vivência, o currículo, a trajetória. Fazem anos, afinal, que ouço falar de trajetórias, de histórias construídas passo a passo. Não desmereceria, jamais, um profissional ou estudante/praticante de qualquer área, fosse quem fosse, se este questionasse seu tempo de experiência e formação em comparação a minha inestimável juventude.
Controlei, então, qualquer desqualificação que pudesse imperar sobre meu nome em forma de ego. Disse adeus aos louros que nunca quis erguer e limitei-me a fazer perguntas. Questionar. E, devo dizer, que momento invariavelmente difícil é esse. O momento de questionar alguém que, por ventura, tem maior conhecimento que você. Maior agilidade. Maior experiência.
A ideia de que sua pergunta possa ser uma curiosidade cai por terra e a pessoa parece nutrir a insatisfação em ser questionada.
Fazer uma pergunta pode se comparar a realizar uma ofensa? Ir de frente a uma verdade?
Mas, senhores, o que é uma verdade? Não seria apenas um ângulo de aceitação do que produz nossa imaginação? Assim como a inverdade, a verdade não estaria associada ao que reconhecemos (unica e exclusivamente) como a realidade vista por nossas olhos?
E não seria a verdade do outro tão digna quanto a nossa?
E, nesse sentido, não seria possível contrastar as verdades e encontrar um ponto comum entre elas?
Mas quem sou eu para contestar qualquer expressão? Uma pós-adolescente de vinte e poucos anos, sem a menor noção de sistemas, metodologias, técnicas e outros quaisquer vocabulários que possam ser utilizados.
Sou mais uma trabalhadora que busca um pouco mais que o pão de cada dia. Uma daquelas que fecha as portas e ensina - ou que tem essa intenção. Uma daquelas que se esmera em amar o que faz sem pensar no que os representantes do (moralmente falido) Estado possa preocupa-se em apontar como certo e errado, agindo de acordo com a ética e a verdade do meu próprio ser.
Sou uma professora que ensina, que brinca e que ama seus alunos e sua profissão.
Uma professora sem teto. Sem uma escola para chamar de família. Pulando de galho em galho entre substituições e fechamentos de livro de chamada (que não me pertencem). Uma a mais. Outra.
Tão fácil desmerecer um profissional que "nasceu ontem". Tão fácil desmerecer os incontáveis anos de estudos, concentração, dedicação e merecimento.
Assino de uma boa vez o certificado de descredito que me compete. Não fará falta um mérito que não me cabe. Minha maior gratificação está na mente e no coração de quem eu amo. E eu amo o meu povo. Meus alunos, um a um, com ou sem a força de vontade que eu, por ventura, tive em algum momento.