Quando nos vemos como instrumentos de trabalho, doando o nosso físico para que o espiritual conecte-se a matéria e realize transformações significativas na vida dos amados irmãos que procuram nossos templos, também nos vemos como uma espécie de guerreiros, prontos para batalhar em prol da fé.
Imagine que, como guerreiros, não mostramos debilidade e lutamos com as armas que melhor sabemos manejar. Usamos a fé, a segurança, o controle, a tolerância, o carinho, além das virtudes divinas que estão a nosso favor.
Somos capacitados para nos encontrarmos naquele ambiente - em situação de corrente mediúnica. Não, pura e simplesmente, entramos em um espaço sem que nos vistamos com as armas e espadas da Lei. Estamos ali porque assim desejamos e porque, de algum modo, fomos merecedores.
É importante que nos sintamos em uma situação especial, em uma situação de responsabilidade. E isso não envolve estar vislumbrado ou se sentir em um globo de arrogância. Trata-se da constatação de que, ao aceitar a Umbanda como sua religião, haverá uma série de deveres que virão com ela. E um deles é o comprometimento.
Ser comprometido, em primeiro lugar, requer não dar vazão para as negatividades do ser. Estar na Umbanda, conhecer aos amados orixás, sentir a presença pura de um Deus vivo e onipresente é assegurar a si mesmo que as dificuldades se tornam aprendizado.
Ser umbandista requer fé. Se você crê no poder, na força, no amor, na verdade dos orixás e da natureza divina não há motivos para se sentir fraco ou sozinho. A partir do momento que a Umbanda apresenta para os seus médiuns toda uma gama de rituais capazes de fortalecer as defesas, desenvolver os mistérios, amenizar as dores, tranquilizar o espírito, enriquecer o ser, então não há, meus irmãos, porque temer; tão pouco temblar diante de dificuldades.
E se as dificuldades já não existem, porque a Umbanda nos mostra que o Tempo cura todas as dores, então podemos ter certeza e segurança de que somos capazes.
Por isso, volto ao início do texto quando dizia que devemos firmar nossa cabeça. Com as baixas vibrações do nosso ser, enfraquecemos a corrente - e um elo solto é o suficiente para espíritos trevosos romperem nossa defesa.
Se nossos trabalhadores da luz estão focados em nos proteger de nós mesmos durante a gira, como poderão realizar o trabalho de ajudar aos que nos buscam realmente necessitados?
Contemple o seu templo. Contemple o trabalho que está ocorrendo. Ajoelhe-se em frente ao altar e faça uma oração. Vá até a tronqueira e peça amparo mental para o momento de trabalho. Firme o seu triângulo de força uma vez ao mês ou quando sentir que é o momento adequado. Forme imagens mentais dos locais da natureza que você mais ama. Pense na sua criança interior e na pureza dos erês. Dirija seu pensamento à Aruanda e peça a benção de nossos vozinhos e vozinhas sagrados. Crie a imagem de seu caboclo ou cabocla lhe dando a mão e assegurando que nessa luta você não estará sozinho. Abra o coração e imagine as luzes e formas que envolvem o terreiro no momento da gira. Deixe que o movimento do templo faça parte de você e torne-se assim parte do templo, você também.
Cultive o silêncio. Saiba valorizar o verbo. As palavras têm poder, quanto mais em um ambiente sagrado. Cuide para que as brincadeiras não saiam do campo tolerável, afinal você está em um ambiente religioso. As risadas e a felicidade são bem vindas, assim como a música e a dança, porém, tudo no momento certo. Em equilíbrio.
Sorria. Um sorriso, por vezes, vale mais do que qualquer palavra. Abrace. Troque energias de amor e laços de companheirismo com seus irmãos. Não apenas nos habituais beijinhos de 'oi' e 'tchau', mas com a intensidade de uma saudação espiritual. Esse é o lugar e o momento de trocar e potencializar todo o positivo que há na irmandade e na corrente.
Feche os olhos. Deixe que o momento se eternize no seu corpo, na sua alma, no seu espírito. Crie códigos mentais para armazenar a felicidade e a gratidão em estar no seu templo.
Qual é a melhor armadura e espada para a fé senão o amor pelo sagrado? Nossos guardiões e guerreiros não precisam de nenhum instrumento mais que a nossa fé. Jesus, o Cristo, é conhecido por suas parábolas. Finalizo com uma delas, a qual cabe muito bem nessa reflexão. “Em verdade vos digo: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: ‘Vai daqui para lá’, e ela irá. Nada vos será impossível.”. Desejo a todos vós, amados irmãos, que tenham a fé do tamanho de um grão de mostarda e que sejam tão pequenos quanto nos disse ser o iluminado Caboclo das Sete Encruzilhadas. Saravá!