Atenção, pra quem não assistiu a 4ª temporada: spoiler!
Há um momento em que descobrimos que nunca estamos a salvo. Um momento triste ou feliz, estranho ou perfeito. O melhor ou pior momento de nossas vidas, quando lidamos com nossos fantasmas interiores. Loucura ou razão? Buscar segurança ou encarar o perigo? Há sempre mais de uma resposta, mas há apenas um caminho...
Uma tarde nublada em NY, os ilustres moradores da cidade se preparam para uma convenção, dentre os quais Angela Petrelli, a, nada carismática, mãe do ex-senador Nathan Petrelli. As notícias da morte do senador haviam atravessado o mundo, todos choravam a perda do ilustre político e lamentavam sua ausência, haja vista o potencializado reinado que deixara escapar. Nathan era a proposta de salvação da elite nova-yorkina, sem ele os planos do congresso estavam ameaçados, pois sua voz era sinônimo de domínio e apoio internacional. Angela vestia um terno escuro, sapatos vermelhos, seu penteado era o habitual coque e carregava uma pequena bolsa da cor dos sapatos. Era a imagem perfeita de uma ilustre republicana.
Na noite anterior, Angela havia sonhado. Talvez, para os reles mortais, um sonho não atribua nenhum significado, mas na vida de Angela eles indicam, não menos, que o futuro. Por muitas vezes me imaginei observando o futuro. Em sonhos, em cartas, em olhos, em mãos, mas ainda não posso vê-lo, Angela, contudo, não necessita do menor esforço. Ela, simplesmente, fecha os olhos e sonha. Às vezes, ao fecharmos os olhos, nossas vidas são revestidas de sombra e pesadelo, às vezes são sonhos de primavera. Eu não lembro da última vez que fechei meus olhos, eles permanecem abertos, fixos em tudo o que me interessa. O futuro de New York, por exemplo, sempre me interessou. Angela Petrelli, Nathan Petrelli, Peter Petrelli, Claire Bennet, Noah Bennet,Matt Parkman, Mohinder Suresh, Ando Masahashi, Tracy Strauss, Sylar, Gabriel Gray e, mais recentemente, Samuel Sullivan, sempre me interessaram. É por isso que tenho agido como uma pessoa, bem, não consigo definir minhas atitudes ainda. Vejamos.
Como eu dizia, o futuro de NY estava nas mãos do ilustre senador. Nathan era um homem atraente, sexy, inteligente, de boa família, o típico par-perfeito, não é surpresa ter encontrado para si, literalmente, uma “mulher de fogo”, Meredith. Desse relacionamento surgiu Clair Bennet ou eu deveria dizer “Claire Bear”, como o papai Bennet? A rede de relações de Nathan formaria um belo Twitter e/ou Facebook apenas pelo número de parentes, fora o eleitorado. Digo isso porque as apresentações não terminam aqui. Nathan tem um irmão, um belíssimo irmão, um atraente irmão, um bom e fraternal irmão. A sim, um poderoso irmão. Peter Petrelli, o sonho de consumo de meia dúzia de enfermeiras em plantão no Pronto Socorro da cidade, local em que trabalha. Peter é tio de Claire, que é neta de Angela, que é mãe de Nathan, que foi assassinado por Sylar. Uma bela teia, não? Consta que eu assisti toda essa trama e a desenrolei, com muito custo e estou aqui, agora, forte e disposta a qualquer coisa para crescer ainda mais.
Quando eu era criança gostava de morar no campo, depois se tornou algo monótono. Eu queria mais, queria a cidade, queria o mundo. Meus pais se foram muito cedo, para uma dimensão que não conheço, ainda, mas que deve estar próxima caso haja dificuldade na realização de meus planos. A única lembrança que tenho é uma foto, não porque minha família fosse pobre, sem condições de ter máquinas fotográficas ou coisa parecida, muito ao contrário, eram os donos das maiores fazendas do Texas, tinham casas na Califórnia, apartamentos em NY, não tenho porque reclamar de meu legado. O que me impediu de ficar com as fotos foi à dor de tê-los assassinado. Isso foi antes de eu conhecer meus poderes, de saber para que servem, como utilizá-los, quando, com quem. Enfim, é uma história ruim de lembrar, afinal foi acidental e eu os amava muito, principalmente pelo carinho que me proporcionavam. Foi quando eu, Lenah Muller, descobri meu poder.
Angela entrou no gabinete de seu filho, observou os livros, observou os móveis, os troféus, as medalhas. Estava tudo como Nathan havia deixado. Era seu filho favorito, era o homem que a orgulhava, não fosse à influência emotiva de seu filho Peter, Nathan estaria vivo e com a faixa de presidente da America em seu peito. Angela se aproximou da janela, ouviu um ruído seguido de um gemido, não sabia o que era. Abriu a janela, olhou para baixo, se virou, olhou para escrivaninha e tornou a olhar para a janela. Seus olhos enormes pareciam saltar de seu rosto, o grito foi ensurdecedor, seguido de um desmaio, que provocou a batida de sua cabeça, fazendo um corte pequeno na testa, derramando sangue no carpe importado. Foi quando, aflita, ela despertou na macia poltrona, em meio à conferência. O que havia na janela de seu sonho? O corpo frio e pálido de seu filho, flutuando.
Matt Parkman estava feliz com sua família. Já era tempo de estabelecer a tranqüilidade na casa dos Parkman, ainda que o bebê demonstrasse sua habilidade crescendo a cada dia. Em uma das últimas tardes de inverno, o pequeno Matt havia desligado as luzes de todo o quarteirão com seu choro. Era um garoto prodígio, não havia dúvidas. Mas o Matt pai não gostava de ver aquilo. Até quando poderia controlar a súbita vontade de ler os pensamentos de sua mulher? Até quando não questionaria os criminosos com quem lidava, sem utilizar seus poderes? Era difícil para Matt. Era cruel com sua natureza. Um peixe fora d’água.
A tentativa frustrada de Claire chamar a atenção do mundo foi impedida facilmente. Bastou algum esforço de Hiro Nakamura para que a garota fosse retirada do parque antes de completar a loucura. Seu tio Peter lhe deu uma bronca, lhe aconselhou, disse que “era errado se jogar de cima da montanha-russa e mostrar a toda à mídia que tem poder de regeneração”, mas falar com uma jovem não é simples. Ela quis mostrar ao mundo quem era e eu não pude deixá-la continuar chamando a atenção.
Angela sonha o futuro. Nathan voava. Peter absorve poderes. Claire se regenera. Matt lê pensamentos, domina o cérebro. Mohinder tem super-força e rapidez. Ando aumenta os poderes e tem o raio vermelho. Tracy vira água, congela. Sylar absorve poderes, conserta coisas. Hiro para o tempo, move-se nele. Samuel domina a terra. E eu? O que Lenah Muller faz?
A princípio, eu observei tudo. Olhei cada um deles, pesquisei, tentei descobrir coisas. Desde seus maiores sonhos até seus maiores pesadelos. Por que? Bem, porque eu tenho certa obsessão por desafios. Eu estava naquela lanchonete, no primeiro encontro de Hiro Nakamura e Nathan Petrelli, sim, eu também vi Nathan aterrissar voando. Eu nunca fecho meus olhos, sou como um peixe fora d’água, literalmente. Meus olhos verdes são fixos, mas não parados, nem mortos. Eles brilham, enfeitiçam aqueles que os olham. Minha voz é forte e suave. Eu sou yin e yang, Pi e Rô, o bem e o mal, a vida e a morte. Ao mesmo tempo em que meus cabelo longos, castanhos e ondulados podem ter o perfume de uma flor, também servem como corda para enforcar aqueles que eu detesto. Mas o principal, bem, o principal são meus lábios, ora dotados de veneno, ora dotados de amor. É por isso que não resisti ao charme dos irmãos Petrelli e é por isso que não resisti ao charme de Sylar.
Claire foi até a casa de Noah Bennet conversar sobre o último ocorrido. Foi o momento perfeito para que eu surgisse na história e finalmente mostrasse meu poder.
-Desculpa moça, você deixou esse papel cair.
-Eu? Não, não deixei.
-Sim, deixou, eu vi cair de sua bolsa. É uma foto não é?
-É uma foto sim... bem, obrigada, mas não é minha.
-Engraçado, parece que ouvi o barulho do mar. Devo estar dormindo pouco, rs.
-Não, eu também ouvi... E vem da foto!
-Rsrs, imagina... uma foto. Devemos estar trabalhando demais, não acha?
-É, pode ser.
-Com licença, preciso ir.
Claire ficou parada observando a foto em sua mão. Era uma espécie de cartão postal. Havia o mar, o céu, alguns pássaros negros ao longe. Ela fechou o portão do apartamento, abriu a porta, subiu as escadas, estava muito inquieta. A foto parecia ter vida, parecia sim que o mar havia se mexido naquele momento. Mas como? Ao entrar no apartamento deixou a foto em uma mesinha e abraçou seu pai, de ímpeto, com muita força. Ele perguntou como estava se sentindo, eles conversaram sobre a noite no parque de diversões. A essa altura meu plano estava quase concluso. Era uma questão de minutos para me livrar daquela intrusa. Disfarcei quando saí e deixei a foto em suas mãos, eu não poderia ficar muito longe, ou a foto não me obedeceria.
-Ursinha Claire, você precisa conter essa ansiedade, tem idéia do que poderia acontecer se o mundo soubesse quem você é? Nada do que eu fiz teria sentido.
-Você não entende ninguém entende. Eu pensei que Peter... O que foi isso?
-Uma onda?
-Onda? A foto!
-Qual foto?
Nesse momento Claire correu até a mesinha e segurou a foto. Esperei até que Bennet se aproximasse, eu podia sentir, eu posso sentir a vida e a morte, havia vida, mas apenas uma, segurando a foto. Ela explicou rapidamente como havia conseguido a imagem e finalmente, após minha expectativa, Noah colocou a mão no objeto, a fim de tirá-lo da mão de Claire e observá-lo melhor. Nesse exato segundo concentrei meus poderes para que fossem engolidos pela foto, Não foi muito difícil, Bennet é fraco, sem poder algum e Claire é apenas uma pedra no sapato. Entrei no prédio, alegando que era amiga de Claire e que meu telefone havia ficado em sua bolsa, não foi difícil enganar o porteiro, peguei a fotografia. Eles estavam sob meu poder.
Quando eu tinha cinco anos descobri que podia fazer coisas estranhas, como deixar minha mãe encantada e meu pai furioso, ou vice-versa. Parece normal a qualquer filho, mas comigo era diferente, pois eu os controlava e tinha plena consciência disso, com apenas essa idade. Fui crescendo e o poder também, aos seis anos assassinei meus pais. Eles me deixaram no portão da escola, eu não queria entrar, precisava ficar com eles, na noite anterior meus lábios haviam queimado de dor, eu não poderia ficar lá, sozinha. Mas eles não me ouviram. Quando a professora pediu para que eu desenhasse ou fizesse alguma brincadeira para me animar, conduzi meu lápis imaginando os dois sofrendo, como eu sofria, mas com muito mais dor. As imagens pareciam reais em minha mente, mas muito mal traçadas no papel. De repente percebi que eles estavam presos lá. Rasguei o papel e eles nunca mais apareceram. Eu era uma criança, a única coisa que fiz foi chorar.
Com o passar dos anos descobri que os poderes se acumulavam em mim. A cada ano, um novo poder. Eu não aprendi a lidar com todos, nem sei a ordem com a qual eles chegam, mas percebi de imediato que para cada poder bom havia um ruim, como se eu fosse o centro do bem e do mal, em tudo. Alguns poderes eu aperfeiçoei, com a prática, outros ainda me consomem, como esse de nunca fechar os olhos.
Mohinder estava em um novo laboratório, havia um túnel que levava a um quartinho e era lá que ele vivia desde os últimos acontecimentos turbulentos de sua vida. Precisava urgentemente descobrir uma cura para tudo aquilo, não aguentava mais. Tracy havia o contatado para trabalhar, novamente, para a Companhia. Ela se juntou a aliança de Angela assim que percebeu o quanto sentia falta de sua antiga vida, precisava respirar. Os estudos eram secretos, não havia intenção de alarmar e ocasionar um caos. Aproveitei o momento de descuido de meus amigos para formar aliados, é claro, mas não contava com a visita de Ando.
Estava tudo programado, eu apareceria de surpresa pedindo ajuda a Mohinder com meu “problema”, essa desculpa é velha e fatal, ele não negaria. Tracy estaria lá e tudo ficaria perfeito, eu a seduziria e ela mesma faria o trabalho de beijar Mohinder, sob meu comando, logo os dois estariam ao meu lado. Eu só precisaria ter o cuidado de liberar a dose exata de amor e não de veneno (outra grande dificuldade em controlar meus poderes!). Fui até o laboratório, vestida como faxineira, fixei os olhos no do segurança, às vezes isso funcionava, ele pegou no sono, bati na porta (para dar mais valor ao teatrinho), fingi uma cara de desespero e disse a Suresh, antes que ele dissesse qualquer coisa, um turbilhão de lamentações e de súplicas, pedindo que me salvasse. Os homens são fracos, as mulheres inteligentes, por conseqüência, Tracy foi quem começou a fazer perguntas, sendo a primeira “como você quebrou a segurança?”. Menti estar apavorada, pedi um copo de água ao professor e em meio ao pranto do meu rosto ele disse que buscaria um calmante em seu quarto, para minha sorte. Fiquei alguns minutos com Tracy, foi o suficiente. Ela pretendia ir até o segurança, mas antes disso eu a segurei pelo braço e lhe dei um beijo encalorado. Não fazia ideia do que aconteceria, se ela cairia dura ou faria o que eu quisesse, e, confesso, a segunda opção me animaria muito mais. Nesse instante de decisão, não apenas Mohinder voltou do quarto, como Ando entrou pela porta aberta.
-O que está acontecendo aqui? Achei que essa era uma missão secreta. Por que a porta está aberta? E por que o segurança não acorda? Professor você está bem?
- Estou. Como assim o segurança não acorda? O que você fez com ele mulher? Quem é você?
- Não fale assim com ela Suresh!
Era tudo o que eu precisava: de uma protetora, minha resposta estava bem ali. Tracy estava sob meu controle, como planejado. Peguei em sua mão e a agradeci por “ter me acalmado”, ela sorriu e tratou de me inocentar. Disse que eu estava nervosa porque tinha poderes novos e não sabia como usá-los, que por isso havia deixado o segurança dormindo e, por conseqüência, havia me desesperado e pedido socorro para o professor. Se fosse ensaiado, não sairia melhor. Reagi com pressa dizendo que queria ir embora e sussurrei em seu ouvido meu primeiro comando. Com certeza até a noite Ando e Suresh teriam sido flechados pelo Cupido, bastava um beijo de Tracy, minha discípula, e eles estariam na rede, na teia. Todos me obedecendo.
A fotografia com os Bennet estava em meu bolso, eu não poderia deixá-los longe. Tirei a foto e olhei fixamente para Claire, ela me fez lembrar de alguém que me esperava em casa. Nathan Petrelli.
Noah Bennet não sabia de minha existência, eu não era um número computado, no entanto, Samuel sabia de mim, e ainda que eu não o conhecesse pessoalmente já sentia uma atração ardente por ele. Um homem interessante, poderoso. Eu poderia ser feliz ao seu lado, se não ambicionasse a outros. Meu desafio era descobrir a quem meu coração pertencia, não queria fazer mal a ninguém, mas com Claire por perto a atenção era dela, além disso Mohinder poderia me ajudar a descobrir como controlar meus poderes, eram os únicos motivos para eu detê-los, como estava fazendo. Mas faltava Matt e Angela, ele poderia pensar que eu queria fazer mal a algum deles, então era necessário detê-lo também, e ela poderia prever algo, eu não iria correr esse risco, meu próximo passo era ir atrás deles.
Na noite em que Peter deixou o corpo de Sylar cair e matar a lembrança de Nathan, minha esperança de viver com o homem perfeito se foi. Eu sempre procurei alguém como Sylar, forte, poderoso, ambicioso. Bem como, sempre procurei alguém como Gabriel Gray, sensível, amável, precioso. Mas havia Nathan e a magia de seu olhar, seu charme, sua experiência. Além da Peter, seu encanto e perfeição. A culpa não era minha, era da minha natureza. Eu provavelmente, como qualquer mulher, garota ou menina, poderia me apaixonar por dois homens diferentes, isso se eu fosse um ser normal, mas eu tenho em mim o Black & Write. Não sei como escolher, como saber o que é prazer e o que é amor, não antes de testar. E eu quero testar a todos eles. Desde que vi Nathan naquela lanchonete, eu o quero, e quero Peter e Sylar também, principalmente por ele ser como eu, ter dois em um. Não pretendo machucar ninguém, esse é apenas mais um poder natural em mim, o da sedução.
No dia em que Nathan foi enterrado eu roubei seu corpo, alguma coisa não me deixava consolada, nem se quer tranquila, como todos pareciam. Eu sentia que se o trouxesse e lhe desse um beijo, ele ressurgiria, viveria, respiraria, não sei. Foi o que fiz. Roubei seu corpo e lhe dei um beijo profundo. Ele não respondeu. Nada aconteceu. Dei outro, mas nada. Resolvi deixá-lo em uma cama, no sótão de minha casa no Texas. Como minhas pesquisas e planos continuavam, mal tive tempo para tentar reanimá-lo, mas nunca desisti, conservei seu corpo quando percebi que não havia resultado. De alguma maneira, eu podia sentir vida ali.
Peter continuava trabalhando, sempre mais e mais. Eu adorava observá-lo à noite, afinal eu não durmo. Gosto principalmente de seu corpo mexendo para lá e para cá, salvando vidas, parece tão sexy, tão incrivelmente sexy. Eu me apaixono cada vez mais. Nessa noite ele me viu, eu corei. Ele parecia absolutamente cansado, mas sorriu. Fiquei sem ação, saí dali antes que reparasse em mim. Gabriel apareceu no hospital no momento em que eu saia, percebi que era o destino. Ele olhou no fundo dos meus olhos, não como aquele segurança medroso, mas com desconfiança, sei que ele tem poderes que podem me descobrir. Foi a voz de Peter que interrompeu sua análise. Eu aproveitei a brecha para fugir dali. Quando cheguei a minha casa, vi o corpo de Nathan caído no chão. Lembrei do sonho de Angela, será que eu o ressuscitei?
To be continue...
Ps: Espero que tenham gostado, comentem ok?
Obrigada.
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