Ai como competição feminina me estressa --'
Não nasci pra isso, sério. Detesto competição.
Provavelmente o primeiro pensamento é "isso porque você nunca ganha".
Não procede. O certo é que eu nunca me esforço. Só de pensar em entrar numa disputa eu já me sinto cansada.
Sabe aquelas que quer ganhar na mega sena e não joga?
Bem aquele tipo que pensa: Eu? Gastar dinheiro com essa porcaria? Nem morta!
Cheguei a conclusão (embora deva refletir mais) de que prefiro o que é certo, o que é de conquista única e exclusivamente minha. Sem essa de contar com a sorte, prefiro merecer.
O sabor é completamente diferente.
Por isso que competição me estressa. Sou tão individualista que prefiro não ter adversários na vida. Bem daquelas que pensa "cada um tem seu lugar no espaço". Pra que, em sã consciência, eu me atreveria a competir com alguém se levo comigo a certeza de que o que é meu, é meu e ponto?
O único problema é que o que eu anseio é alto demais e coisas grandes são visadas por um sem fim de almas. Nesse caso, independente da minha aversão ao confronto e à disputa, entro automaticamente na lista de opções, ou melhor dizendo, na fila de espera.
Como sou do tipo que detesta esperar, ocupo meus espaços vazios com atividades extras - em busca de não ver o tempo passar e, assim, chegar mais rápido ao momento de chamada da minha senha.
De qualquer maneira, eu sou uma fã de oportunidades, costumo, inclusive, criar algumas. Quando elas surgem estou de olhos abertos, descartando e aproveitando de acordo com meu humor e minha vivência.
Às vezes eu penso que mereço certas coisas e pessoas, e acabo por dar conta que eu só precisava saber mais sobre elas pra seguir em frente e continuar peneirando e filtrando as informações. No fim das contas, sempre encontro um porto onde cambiar aquilo que recebo ao decorrer das viagens.
Haja estrada. Haja caminho. Haja coragem de prosseguir.
Mas não posso reclamar, costumo seguir estradas de luz e manter-me aquém do que é obscuro, isso por si só me faz ser suficientemente especial, para mim mesma.
Então, se o "mim mesma" está de acordo, para que competir?
Não quero. Me recuso. Não sou a favor de batalhas. Ao menos não quando tenho que protagonizá-las. Sou uma guerreira da pior espécie, daquelas que evita atacar e defende. Evita contra-atacar e escapa. Sou boa com estratégias de fuga, talvez até de ataque, mas não me peça pra empunhar uma espada.
Sou melhor empunhando um lápis e um papel em branco.
Ao contrário. Eu ouço lá de vez em nunca, estudo uma letra ou duas, mas não baixaria um CD ou compraria um livro.
Isso de ser cult não é para mim. Eu prefiro o popular, mas não o que é de todos. Aquele tipo de popular que é só meu, mas que não deixa de ser popular.
Viu? Não tenho perfil pra disputas femininas. Não sei brigar. Não sei contar vantagem.
E tem mais um porém, detesto ser reparada. Sou daquelas que prefere passar desapercebida, sem chamar atenção demais.
Talvez porque, geralmente, quando falo chamo um pouco de atenção. Tenho lá um dom com a palavra e isso ajuda bastante no momento de opinar. O que não quer dizer que eu seja uma pensadora. Não consigo citar nenhum autor, esqueci mais da metade dos livros que li na vida... e não sou organizada. Na verdade, embora eu tente, sempre acabo empilhando as coisas, em uma busca por ordená-las.
Raramente dá certo.
Gosto mais de ficar na assistência. Sou do time do apoio. Não aquele tipo de apoio principal, na verdade. Sou mais do time secundário.
Não é atoa que os bateristas me chamem mais atenção, ou mesmo aqueles personagens secundários e/ou vilões. Não sou muito dos holofotes (ainda que possam haver exceções).
Sei um pouquinho de muitas coisas. O que é melhor do que saber muito sobre uma coisa só.
Acho que essas peculiaridades me diferem. Me tornam abstrata, incontida.
Às vezes penso em ser diferente, popular. É nesses momentos que me enfio em um casulo e relembro minha alma escritora. Nasci pra trabalhar sozinha, tranquila, sem nada além de música e algum barulho artístico.
Tantas esquisitices só poderiam me fazer desistir de lutar. Ser avessa à batalhas.
Talvez, afinal, seja uma breve noção de derrota antecipada.
Talvez, afinal, seja apenas a precaução de que quando eu lutar será para vencer.
São tantas as minhas particularidades que me recuso a ouvir meu lado pessimista mostrando impossibilidades.
Cada um tem o direito e o poder de escolha que bem entende. Assim como cada um tem o direito de buscar sua felicidade dentro do padrão que preferir.
Não sei se é minha alto-estima que me faz sentir boa demais, mas sempre há aquela noção de que eu poderia ser melhor do que a escolha daquele que, por ventura, foi escolhido naquele momento.
Mentira. Pura mentira.
Tenho certeza que as escolhas feitas são parte do caminho de aprendizagem e que, em algum momento, eu também serei parte desse caminho.
Queria que fosse o mais breve possível, por aquele probleminha com o tempo de espera... já não há atividades suficientes pra tapar os buracos... Mesmo assim, fica a esperança de que seja eterno enquanto dure. Como todos pensamos.
Acho engraçado o dom de entrega de algumas pessoas. Isso é o que mais me chama atenção em um homem. para ser sincera. Eu me apaixono pela entrega, por aquele que se doa completamente. Geralmente, à arte.
Gosto dos homens que têm a arte como amante e que conseguem mostrar o quanto amam a partir dela. Sinto que valorizo demasiadamente esse tipo de gente e também acho que isso parece um problema. Um grande problema.
Não há garantia de retorno. É um mal que possibilita ver e não ser visto. O que, eventualmente, magoa. Muito.
É esse olhar que eu tenho e que, em meu consciente, me difere, o responsável pela minha descrença com o poder alheio. Quero dizer, o merecimento alheio.
O que faz dela uma candidata melhor, entende? Essas questões de mérito são tão egocêntricas em mim que me deixam em constâncias de "eu merecia, ela não". Mas, afinal, aquilo que merecemos é nosso e se não é, ora, pois não merecemos.
Há alguns casos de falta de oportunidade, mas não cabe a mim ficar buscando-as a cada batida de coração que apita "candidato ideal". Afinal, ainda tenho um restinho de orgulho que me diz "espere, ele é quem tem de lhe cortejar".
Ora, em todos os outros contos foi assim, porque no meu - que sou a escritora - haveria de ser diferente? Só porque fui eu a criar a história não quer dizer que deva vivenciá-la de modo torto, sem direito a final feliz.
Quero minha maçã e quero o beijo de amor verdadeiro, como qualquer princesa que se preze. Mereço ser resgatada de um castelo em chamas. Ainda que eu seja suficientemente inteligente pra não morder o fruto ou me enfiar numa aventura om dragões malvados, poderia dissimular inocência só pra sentir o gostinho de Charming em ação.
Todas queremos un principe azul en la vida. E existe mais de um. E esse meu olhar consegue captar alguns deles... talvez cada um deles. E meu radar está quebrado, por isso não sei diferenciar um do outro. Todos, assim, se tornam possíveis.
Mas não são.
Cada conto um conto. Cada história uma história.
Vou continuar me enganando, ate que ele chegue. Não sei dizer se está perto ou se eu o afastei. Sei dizer que virá. Que será eterno. Que eu já o amo - porque sempre amei e porque é natural em mim distribuir amor.
Refreá-lo também, mas essa é outra história.
Elas são melhores do que eu?
Talvez tenham uma imagem que vende melhor. Mas há algo em mim que elas jamais terão. E há algo nelas que eu não terei.
Estamos, assim, empatadas. Embora a vantagem delas seja a companhia.