Reinações Múltiplas: Saudades
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

Saudades


Às vezes dá medo de que o abraço nunca mais se repita.
Fica no peito a esperança com o enxame de promessas, doces e fraternas, ternas... e vãs.
Cada gesto foi guardado na memória, pela falta do retrato roubado naquele momento.
Eu deveria levar para sempre, mas nada além de minhas botas pretas, da saia indiana e de minha velha blusa verde coberta de pelos poderia recordar comigo aquele momento.
Não tenho testemunhas e as poucas, que eram esperança, se foram para nunca mais lembrar.
O momento, eternizado no peito, nos braços, nas mãos unidas e no olhar, não significaria nada para alguém além da morena nos braços do homem de olhos verdes. Apertada, unida, conectada com a benção dos deuses mais amados e bondosos de todo o Olimpo. 
Como dói recordar cada momento e pensar que não sairá da lembrança e que, por Deus, não passará de lembrança.
Memoráveis tempos de agosto, numa noite sem lua, em uma cidade ao sul do país tropical de sotaque lusitano.
Por que cada país, cada cidade, cada gesto, cada beijo não dado é o retrato daqueles olhos? Por que os cabelos sedosos não voltam à porta do hotel, do restaurante, de casa... Por que tão distante outra vez?
Sonhos. Como são ilusórios!
E as palavras, então? Aproximam tanto, sem fazer nenhum contato material. Inundam a alma, mas não tocam. Transbordam promessas... Tocam, sem tocar.
E como me faz falta aquele tato! E como me faz falta aquele olor. E como me faz falta não ter sentido o sabor. E como continua doendo saber que não me pertence. Saber que, de repente, não passa de uma lembrança distante das águas de março.

Foto: Noooooossa