Eu sonho demais.
Quando me vejo parada sem ter o que fazer, estou sonhando. E quando estou agindo, seja lá para o que seja, é um sonho também.
Muitos dos meus sonhos se concretizaram ao decorrer dos anos. Isso porque, realmente, há sonhos em excesso. São tantas opções que fica difícil nenhuma dar certo.
Eu nem preciso fechar os olhos. Minha mente começa a funcionar, como uma máquina turbulenta, e de repente estou sonhando. É frustrante, na maioria das vezes, por não passar de sonhos. Chega um momento (geralmente uma vez por dia) em que você para e pensa: porra, quando é que isso vai acontecer?
E por vezes não passa de sonho.
Eu queria saber tantas coisas e ter paciência de descobri-las, de conhecê-las, de lutar por elas, mas nem sempre é possível. Tem horas em que é só o pensamento falando e o corpo padecendo em vontade, desejo, insegurança.
Eu queria ter mais segurança, às vezes. Não para os outros, porque quando o assunto é lidar com os outros eu realmente não tenho problemas. O que me lastima é não saber lidar comigo. Apaziguar-me, acalentar-me. Deixar essas inseguranças tolas pra trás. Afinal, nem tudo o que passa por sua cabeça é real e as probabilidades de uma sonhadora ter menos assuntos reais do que fictícios é absolutamente normal.
Não gosto dessas probabilidades. Anseio uma vara mágica ou um pó, qualquer coisa que possa me auxiliar na fabricação dos sonhos. Sei que as velas ajudam. Muito. Mas não posso usá-las, na maioria das vezes.
Estar trancada numa salinha, dentro de mim, é o que mais dói em sonhar.
Esse meu eu sai de mim e viaja em oportunidades, em possibilidades, mas retorna pra casa e fica trancado, sem nada concreto. O pior é que esse jogo de sedução entre quem eu sou e o que eu sonho é comum demais. Tornou-se basicamente diário.
Não sei se gostaria de controlar isso, mas por vezes me sinto tola. Penso: pare de pensar. Chega! Você não precisa ficar criando o tempo todo, viva!
Mas é em vão.
A noite chega e lá estou eu, contando histórias para minha criança interior dormir.
Dói.
Como muitas das minhas aventuras, como diversas loucuras que pratico, essa - de sonhar acordada - é mais uma daquelas que machucam a alma.
Pedacinho por pedacinho, eu consegui arranhar todo o meu eu, deixando o pobre em carne viva. Ferida exposta e com pitadas de sal, para amenizar a vida. Não a dor. A vida.
São tantos "queria" no meu curto vocabulário que dá vontade de correr num pasto gigante e contínuo, com muito vento na cara, como um lobo, um cavalo, um leopardo, qualquer animal... mas livre. Estar livre pra chorar e deixar que a mágoa vá embora.
Estou ferida. Nitidamente molestada por dentro. E tenho grande parcela de culpa nessa dor. Eu me machuquei. Deixei que minha mão fosse exposta ao fogo e mergulhei os dedos, sabendo que choraria depois... pelo simples prazer de apostar.
Apostei em mim e na sorte.
Venci. Mas como em toda disputa, lá estava eu, com o troféu nas mãos e o corpo esfolado.
O sabor da vitória é momentâneo. O sabor da conquista é eterno.
Não adianta ganhar se você não conquistou a vitória.