Tudo estava nos olhos. Um amor resumido em olhares. Distantes, cercanos, senhores de si.
O toque era tão intenso quanto a luz que inundava os olhos e deixava as cores fazerem sentido em uma área específica do cérebro. Havia tanta ciência em um simples gesto que, de certa maneira, não fazia sentido.
O amor estava ali. O amor imperava naquele toque tão intenso de luz, entre olhos e olh
os, aproximando almas. Mesmo assim, o homem fazia questão de complicar o que estava óbvio, o que era claro. A natureza do amor não tinha fórmula. Era Deus. É Deus. E o que mais?
Há tantas cores entre pálpebras. Há tanto amor entre sorrisos.
A boca. Há algo mais bonito que um sorriso? Podem-se procurar flores, paisagens e escrever diversos poemas em busca de um adjetivo que se aproxime de um sorriso, mas nada, absolutamente nada se compara à pequena fração de segundos em que a boca se estica e mostra os dentes da pessoa amada.
E ele a amava, talvez mais do que a própria alma. Alá sabia o quanto sofria em silêncio e o quanto seu coração chorava pelo pecado que cometia. Havia mais pecado em seu olhar do que em toda a Meca. Pecar era um ato infame e poderia destruí-lo no juízo final. E o amor, vejam só, seria capaz de fazer-lhe renunciar a tudo, incluindo o seu lugar no paraíso. Porque para ele o sorriso dela era o paraíso.
Amar é o primeiro verbo que aprendemos a conjugar e o último que aprendemos a definir. Há mais coisas entre o olhar e o sorriso do que sonham os cegos do castelo. E quando o homem de longa barba e cabelos volumosos via a moça ocidental, seu coração implorava aos céus para que todos os cegos pudessem ver, a fim de que a luz tocasse seus olhos com as cores daqueles cabelos enegrecidos.
Era demasiado poético, mas o homem implorava aos céus para que todos os paralíticos pudessem andar, a fim de que pudessem acompanhar aquelas longas pernas em uma dança.
Amar, ele descobria, devia ser mais difícil para os egoístas. Não porque o amor deva ser compartido, mas porque o amor é, por excelência, fruto de um todo.
Quando se está amando há uma extensão infinita de cores, uma parcela considerável de dívidas a serem pagas com a humanidade e um percentual inadmissível de boas ações que nunca fizemos. Não porque o amor nos faça pessoas melhores, mas porque ele nos cobra um lugar melhor para aqueles que amamos.
Ele mirava os olhos castanhos em busca de uma resposta. Não poderia se aproximar da mulher do ocidente, ainda que naquele instante estivesse entregando todos os seus camelos por um toque. Um aperto de mão, uma carícia involuntária ou a leve sensação de aproximar-se mais e sentir o perfume.
Fool:
"No louco, tudo é leve e solto. Isto pode trazer inquietação e atividade, pode trazer mudanças àquilo que está estagnado. O cão tenta avisá-lo do precipício que tem à frente, mas parece que ele nem percebe, por estar distraído a olhar a borboleta, livre. Simboliza o desligamento da matéria, uma história a ser vivida, continuar vivendo a vida sabendo que algo surpreendente poderá acontecer e
aceitar esse fato despreocupadamente. O acaso irá resolver tudo. Pode ser interpretado como despreocupação, curiosidade de experimentar coisas novas ou até mesmo um pouco de confusão. Também pode significar que o Louco partiu em busca de algo que procurava, como um desejo que de repente extravasa, uma busca que foi sufocada durante muito tempo. Geralmente o conselho é seguir a espontaneidade e estar aberto para tudo aquilo que a vida tem a lhe oferecer. Deve-se aceitar que você é um aprendiz da vida."