Perdi as contas de quantas vezes ouvi essa canção. Sempre que me preparava para ler um livro da minha autora favorita, lá estava uma bela canção de piano, com um som calmo e tranquilizador.
Confesso que quando vi seu sorriso me veio tudo, menos tranquilidade. Há uma inquietude tal em seu semblante, como se não fosse possível parar em um porto e descançar. Como se cada lugar fosse uma nova paixão, que exige tudo de si. Tudo do meio.
Imagino sua voz, porque ainda não a ouvi. Imagino o que vem acompanhado da voz, junto da boca, junto dos lábios.
São lábios rosados, eu sei. Estima-se que sejam doces e prazerosamente lentos.Consigo ouvir sua risada, o gargalhar de uma confissão de alegria. Consigo até ser contagiada por ela.
Consigo encher os olhos com sua boca e talvez eu consiga sentir o cheiro daquela curva entre o cabelo e a nuca, onde os apaixonados gostam de beijar.
Quando te vejo, dá impressão de que consigo tudo. De que consigo o mundo.
Seria bom usar uma dessas fotos no quadrinho ao lado da cabeceira, com uma jarra de água, um livro e um controle remoto em companhia.
Posso quase descrever o quanto seria íntimo esse lugar. Um lado meu e seu, mas que não fosse nosso. Como se a cumplicidade fosse o suficiente para aproximar e distanciar, dentro de seu mundo e de meus vícios. Sem esquecer que somos dois.
Te olhar me faz sentir um. Que há um. Que somos um. Não pelo todo romântico, mas pelo feliz que é compartilhar contigo esse vestígio de carinho que transborda em uma imagem.
Fãs se apaixonam por uma foto. Talvez um dia eu peça um autógrafo.
A cabeça de lado, os olhos em um tom que não se faz neutro, em uma tonalidade que chama, que pede, que dá. Tons de um verde, de um castanho de uma folha que cai em uma daquelas árvores ao fundo, na pequena ilha em que, quem sabe, um dia estaremos a recordar esses versos.
Quero dividir as melhores viagens e os melhores sonhos. As praticidades e os desaforos. Quero que seja um irmão, um amigo. Quero poder te xingar, com a cumplicidade de alguém que sabe receber palavras de ódio e amor. De alguém que sabe desejar e usufruir do desejo, em um fluxo continuo de desespero.
Quero te ver, de novo, e outra vez. E a cada vez eu preciso que me ouça e que esteja a meu lado, ainda que as burradas sejam grandes, ainda que a paciência tenha limite.
Porque me condiciono a estar ao seu lado, se prometer dividir comigo esse olhar, essa boca e esse sorriso.