Reinações Múltiplas: A minha mulher
ATENÇÃO: Este blog é pessoal e não profissional

A minha mulher


E estar com ela é esplêndido
Ela tem os cabelos enrolados e os olhos cor de mel.
Quase não notam que são claros e que ficam verdes no sol.
Não notam porque um dos olhos é torto. Os olhos dela são tortos e a gente não vê que são quase verdes.
A pele dela tem um tom estranho, entre o branco desbotado e o moreno ensolarado, típica curitibana. Mas ninguém percebe que ela é do sul. Quase não tem sotaque. O sotaque dela muda, assim como o tom de voz. É bem diferente falar com ela quando acaba de encontrar com alguém que gosta e quando levanta num dia qualquer pela manhã e, com sono, vai ao trabalho.
Ela usa muitos estilos e não tem estilo nenhum. Ela tem estilo próprio e se ama.
Gosta de brilho e cor, mas destrói corações se usa preto e branco.
Ela vai do clássico ao sofisticado. É cibernética e vive no mato.
Ela cheira flores e não mexe com plantas. Ela sabe rezar, mas não faz reza.
Uma mulher com M maiúsculo. Fala duas línguas e meia. Entende quase quatro, escreve o tempo todo.
Os pensamentos dela divagam entre sonhos e certezas. Tem um coração de ouro. Sua mãe é feita de puro ouro. O ouro do amor.
Ela é filha de Oxum. Ela brilha, como a mãe. A mãe dela brilha.
Nas noites de sábado, de quinze em quinze, ela veste branco e sorri.
Se ela não fosse gente seria uma flor ou um sorriso. Seria uma árvore ou a pedra de um rio. De uma cachoeira.
Entre idas e vindas, conheceu quatro países. Nenhum fora da América.
Ela conhece dois oceanos.
Conhece misticismo. Entende de morte e de mortos. Não acredita que nada morra, na verdade.
Ela briga por besteira, assim como chora a toa. Ela é grande, uma baita mulher, mas parece uma menina quando divide cinco minutos com um amigo.
Ela fala com estranhos, mas nem sempre. Ela convida as pessoas para tudo, o tempo todo, em todos os lugares; mas na hora H não aparece.
Ela sente vontade de voar, mas é pesada demais. Mesmo assim, a alma dela voa. E essa sim já visitou todo o mundo. Do oriente médio ao fundo de lugar nenhum, em algum espaço fedido de um país de terceiro mundo.
Entre saltos e botas, ela usa chinelos e nunca comprou a pantufa que tanto quer ter.
Essa moça tem menos de 30 e quer mais de dois filhos. Talvez uma Kombi. Verde. Que lembre a de um filme que ela viu.
Viajar é um hobbie, assim como escrever, ler alguma besteira e sair com os amigos para falar de religião e vida. Ela filosofa o tempo todo e ama muito a muitos homens. Um mais que outro, sempre, todo dia. Se ela pudesse adotar as pessoas e os problemas delas, adotaria. Ela gosta de se doar por inteiro. Não se vê metade nela. Ela pelas metades é tristeza, fúria, luta, dor ou necessidade.
Se ela tem algum receio... é um receio completo. Nunca pela metade.

Essa mulher tem cabelo armado e umas pontas queimadas pelo sol.
Essa mulher sorri para estranhos e se apaixona por olhares.
Essa mulher gosta de plantas, queria amar gatos e ter uma criança chamada Miguel ou Maria.
Ela é umbandista e professora. Dizem que é "assistente administrativa" e que ganha alguns salários mínimos...
Essa mulher, meus caros, sou eu.