Porque não sei dizer seu nome, me calo. E fico ouvindo canções em uma língua que você não domina.
Brasileiro demais para meu coração mexicano.
Meu sonho, meus planos e vontades refletidos em um espelho de admiração, carinho e cuidado.
Sou eu.
Eu quem beija o espelho e chora, enxugando devagar a lágrima e com o peito a mil por hora.
Pensando, outra vez, no que poderia ser e não foi. Nas escolhas que virão e em como fazer das próximas opções bons momentos...
Aprendo tanto contigo.
E entre mil e um encontros e desencontros, lá está aquele sonho de um gringo por perto indo embora.
Ele bate a minha porta, me chama de Oxum, troca uma lâmpada queimada, divide um bom café, um bom papo, mostra-se intenso e fiel... e nada acontece. Nada. Meu peito nem acelera, nem fica fora do ritmo. Meu eu continua igual e as palavras parecem ser fáceis, porque não há muito o que pensar.
Se sinto falta o procuro. No desespero corporal, ele me chama. Eu rio, faço votos de que seja feliz com alguma vizinha estrangeira e, de repente, lá está ele comendo pão de queijo e levando uma bronca por ser idiota com a vida.
Enquanto que contigo as palavras não saem, a vergonha, o desespero, a timidez me desconcentra. Enquanto que contigo foi um "nunca te ver" e segue com um "nunca ser vista".
Você que pensa: não me argumenta, não me lê. Você que analisa: não me detecta na frase. Passo desapercebida, sou como uma cedilha, que não sabe se é símbolo, não sabe se é letra, não sabe se é acento, não sabe ser "cê", nem fazer som de "ésse".
Sou uma daquelas palavras sem tradução que gringo nenhum sabe usar. E que você, por ser nativo demais, não se dá conta...
E fico sem saber se significa algo mais que uma ou duas noites na semana. Fico sem saber se é menino demais ou de menos. Fico sem saber se me precipito porque sou louca ou porque sou burra. Fico sem saber tanta coisa, que não sei somar, não sei que tempo é no calendário, não sei que horas são, não sei nem o meu nome. Me pergunte qualquer coisa e ouvirá um som insignificante, que não diz nada com nada. Porque você me tira as palavras.
E é engraçado, porque não gosto de você. Não gosto de estar contigo. Não faço questão de nada seu. Pra ter noção, nunca te vi. E se somos tão "ninguém" um para o outro, porque me causa esse pequeno desespero? Qual parte sua toca meu íntimo? O que em você fez esse estrago?
Não tenho nenhuma expectativa. Não sonho contigo. Não te coloco nas conversas - a menos que esteja me provocando algo positivo e eu queira compartilhar - e mesmo assim meu pensamento ruma pra tua imagem. Pro teu nome. Que não pronuncio, com um pouco de medo de estar te invocando... e quem sabe você aparece, de cara fechada, de rosto lavado, com respostas prontas e opiniões imbatíveis.
Não sou metade de mim do seu lado. E você nem é tão grande assim.
Fico pequena e frágil, mas isso não combina comigo, com meu corpo, com quem eu sou.
Você não combina comigo. Não combinamos um com o outro. Não temos nada em comum. Nada a ver. Nem somos opostos, porque não somos nada.
E, do mesmo modo, continuo com você na cabeça.
Não se sinta especial. Você não é.
Nem foi o primeiro que me causou o desconforto. Nem o primeiro a me inspirar meia dúzia de poesias. Você não é primeiro em nada.
Gosto, no entanto, de tudo em você. Desde a chatice até a impaciência.
Queria te responder. Te mandar a merda e dizer que eu estou certa.
Me dá vontade de te colocar no chão, com palavras, e te ensinar a ouvir as pessoas.
Mas me converteria em uma você. Cheia de razão e cheia de si.
Sua arrogância é tão humilde e bela que me aproximo de ti com essa imagem... um reflexo meu.
Droga.
Me enxergo tanto em você que confundo o carinho que sinto por mim com o carinho que penso nutrir por seu eu.
E te nego. Me nego. Nego o tempo todo que possa ser real qualquer impulso do meu pensamento.
Porque tenho medo.
E só você me ouve dizer essa palavra.
Só teus ouvidos são capazes de escutar minhas súplicas.
Porque você é um meio. Um elo.
E te confundo por não saber nada de ti.
Por haver perguntado de você, pra você... e não ter obtido resposta.
Então eu penso o que quero. E chego a minhas conclusões.
Porque você não abre a boca.
E eu não te culpo, porque sou igual.
Mas um pouco mais macho, quando me deixo a seu alcance... em uma conversa de quatro paredes virtuais.